Plebiscito à vista
* Por
Frei Betto
A maioria da população
brasileira (89%) é favorável à reforma política, constatou pesquisa da Fundação
Perseu Abramo. Como atingir esse objetivo?
A CNBB convocou uma
centena de entidades da sociedade civil para propor o Projeto de Lei de
Iniciativa Popular pela Reforma Política.
O projeto inclui a
proibição do financiamento de campanha eleitoral por empresas. Hoje, nós
votamos e o poder econômico elege! O financiamento deveria ser com recursos
públicos e contribuição de pessoa física no limite de R$ 700.
No sistema atual,
qualquer candidato pode ser financiado por empresas. Uma vez eleito, passa a
defender interesses corporativos, e não da população.
Exemplos de aprovações
que favorecem o lucro de empresas são a liberação dos agrotóxicos, a isenção
fiscal ao agronegócio, os contratos de empreiteiras em obras públicas e a
política de juros altos.
Em política, empresário
não faz doação. Faz investimento. Essa promiscuidade entre interesses políticos
e negócios privados estimula a corrupção.
Por considerá-la
contrário à Constituição, a OAB levou ao STF esta contradição: pessoas
jurídicas, que não têm direito a voto, influem mais nas eleições que eleitores
ao exercerem seu direito de cidadania. A 2 de abril o STF julgou a ação.
Transcrevo trecho do
voto do ministro Marco Aurélio Mello: “Segundo dados oficiais do TSE, nas
eleições de 2010, um deputado federal gastou, em média, R$ 1,1 milhão; um
senador, R$ 4,5 milhões; e um governador, R$ 23,1 milhões. A campanha presidencial
custou mais de R$ 336 milhões. Nas eleições municipais de 2012, segundo recente
contabilização do Tribunal, teriam sido gastos incríveis 6 bilhões de reais. E
os maiores financiadores são empresas que possuem contratos com órgãos
públicos. O setor líder é o da construção civil, tendo contribuído com R$ 638,5
milhões; seguido da indústria de transformação, com R$ 329,8 milhões; e do
comércio, com R$ 311,7 milhões”.
O ministro Gilmar
Mendes pediu vistas e suspendeu-se a votação. Porém, o resultado já está
definido: seis dos onze ministros já votaram contra o financiamento de
campanhas por pessoas jurídicas!
Vitória? Ainda não.
Parlamentares querem mudar a Constituição e tornar legal a prática de empresas
financiarem campanhas eleitorais.
Daí a importância de
participarmos do Plebiscito por uma Constituinte Exclusiva e Soberana na Semana
da Pátria.
*
Frei Betto é escritor, autor de “O que a vida me ensinou” (Saraiva), entre
outros livros.
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