A briguinha
* Por Rodrigo Ramazzini
Cenário:
dois compadres conversam, enquanto fumam um cigarro de palha, embaixo de uma
centenária figueira, a cerca de trinta metros de um campo de futebol.
-
Mas cumpadri, me conta. Cumé que foi essa briga aí no campo.
-
Tá falando dessa briguinha que deu no final de semana?
-
Briguinha, cumpadri?
-
É! Essa foi briguinha perto de 78...
-
Ah é cumpadri?
-
É sim! Em 78 foi uma bela briguinha. Essa que teve aí foi fraca. Começou no
jogo da semifinal do campeonato, quando um zagueirão, um alemão alto e forte,
deu uma entrada mais ríspida, como se diz, em um atacante do time adversário.
Nada de mais, o rapaz só quebrou a perna. Nem deu fratura exposta. Só que os
companheiros de time se revoltaram e vieram pra cima do alemão. Os do time do
alemão não deixaram por menos, aí a coisa começou...
-
Ah é cumpadri?
-
É sim! Os vinte e dois jogadores se pegaram no pau. Era soco e pontapé pra tudo
qué lado. Aquilo lá é o resto de cerca que ficou em pé. As criaturas pegaram os
pedaços de pau da cerca. A partir daí a coisa enfeio um pouquinho, nada
comparado com 78, claro! Cinco eu vi saí com a cabeça rachada...
-
Ah é cumpadri?
-
É sim! Com o arame da cerca, não sei como, fizeram que nem aranha, enrolaram
três criatura. Viraram saco de pancadas os coitados. Aqueles apanharam! Quando
os outros times se meteram... Ia esquecendo de contar. Os outros dois times que
jogariam a outra semifinal estavam em volta do campo, esperando a vez. Como o
time de camisa amarela, aquele do Julinho, sabe? Não queria jogar uma suposta
final contra o time do alemão, resolveram apoiar o outro na briguinha. Foram lá
praquela construção e de lá começaram a jogar tijolos. Foi a primeira vez que
vi chover tijolo. Coisa mais linda de ver! Os tijolo inteiro cruzando o céu.
Meia dúzia desmaio aí... Me fez lembrar a de 78.
-
Ah é cumpadri? E o quarto time?
-
Em um primeiro momento, tentaram apartar a briguinha, mas como a coisa
encrespou para o lado deles, se juntaram com o time do alemão. Os homi se
alinharam lado a lado, e fizeram que nem aquele futebol dos americanos, vieram
derrubando tudo... Pareceu o Baltazar em 78!
-
A polícia apareceu, cumpadri?
-
A polícia chegou quinze minutos depois. Os ânimos já estavam mais calmos. Os
que não desmaiaram ou estavam sangrando, seguiam brigando, mas eram só uns
quinze. Quando a polícia chegou, a briga parou por um instante. Daí parece que
foi combinado. Os jogadores que antes brigavam se juntaram pra bater na
polícia. Segundo o Chicão me contou, foi porque a polícia não tinha nada de se
meter na briguinha deles, pois já estava quase tudo resolvido. E está certo o
Chicão, parece que a polícia não tem mais nada de importante para fazer do que
vir apartar briguinha de moleques. Eram umas oito viaturas. Se fosse a de 78
ainda, mas essa briguinha não precisava...
-
A briga com a polícia durou muito, cumpadri?
-
Durou só uma meia hora. A polícia saiu corrida...
-
Ah é cumpadri?
-
É sim!
-
E agora, o que vai acontecer cumpadri?
-
Nem me fala... O pior não sabe. Perdi a diversão do final de semana. Não vai
ter partida neste. Por causa de uma briguinha dessas cancelaram os jogos. Até
onde eu sei morreu só cinco. Vê se tem cabimento cancelá o campeonato por causa
disso? No sábado à tarde tem reunião pra ver o que farão. Em 78, depois da
briguinha, os times juntaram os que sobraram inteiros ou meia-boca, e ainda
jogaram a final.
-
Ah é cumpadri?
-
É sim! Me lembro como se fosse hoje daquela final...
-
Mas cumpadri, mal pergunte... O falecido seu pai, não morreu em uma briga como
esta?
- Não!
O Pai morreu na de 69. Outra categoria. Bom! Aí nós começamos a falar de briga.
Se o compadre quer ouvir história de briga, se acomoda que eu conto...
*
Jornalista e cronista
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