sexta-feira, 17 de outubro de 2014

Pílulas literárias 192


* Por Eduardo Oliveira Freire

FINITUDE

Há um fantasma dentro de mim, que sempre aparece refletido no vidro sujo da janela do ônibus, assombrando-me em certas ocasiões. Diz várias vezes que preciso valorizar todos os dias por estar vivo. Quando era mais novo, achava isto um porre, mas, agora, começo a entendê-lo. Percebo minha finitude.

A PRESA

Noite fria, ele observa o momentos certo para atacar. Caminha com passos leves e observa as casas. Encontra uma janela aberta de uma mansão e vê uma jovem de camisola transparente. Lambe os beiços e se prepara para invadir a casa. Facilmente destranca a porta sem fazer barulho, questiona-se como naquela casa não há câmeras e nem alarmes. Mas, seu desejo de roubar e possuir a jovem fala mais alto. A casa está escura e a luz vinha de um aposento do segundo andar. Ele se guia pela claridade e encontra a jovem, que o observa. Como caçador pressente que existe algo errado. Ela sorri e um barulho estranho ecoa no estômago dela. O último pensamento que tem é que sempre foi presa, desde o início.

MUDANÇAS

Quando a morte chega perto da gente, descobre-se que nada é eterno, tudo está em mudança. Não adianta berrar de raiva, a vida e a morte são a mesma coisa e sempre será o grande mistério que os homens desejam desvendar a qualquer custo. Não adianta isso, pois a cada conquista, surgem mais enigmas. Vivemos em várias camadas de realidades e tudo que conseguimos é encarar esse turbilhão através de janelas estreitas. Por isso, procuro não cair na discussão pobre sobre Ciência e Espiritualidade e com suas explanações retóricas bastante chatas. Preciso é sentir o vento no meu rosto (sei que já repeti esta imagem várias vezes), olhar as flores e o sol nascer. Aproximar-me do grande mistério, mas quero não pensar e fazer parte dele. Talvez assim me torne mais autêntico e não cópia mal feita de outros. Caramba, já é de madrugada! Preciso me domar para dormir, amanhã tem trabalho. Curioso que ao mesmo tempo algo é um fardo, pelo outro, torna-se salvação. Trabalhar, sonhar, viver e escrever me desgasta em certos momentos, porém, ajuda-me a lidar com o abismo que existe dentro de mim. Estou fazendo uma digressão, dana-se! Escrever para dentro faz bem e mesmo que não entenda nada, depois, apago e pronto. Aí, o texto cairá no mar do esquecimento. Há coisas que precisam ser esquecidas, do contrária a mente explode. Não tem jeito, recortar para enxergar é fundamental para sobrevivência de qualquer pessoa. Somos limitados em comparação ao universo. Não revisarei esse texto, talvez vá extirpá-lo a qualquer momento. Todavia, deve ter seu valor mesmo sendo efêmero, como cada chama de vida que se apaga em um canto deste vasto mundo.

* Formado em Ciências Sociais, especialização em Jornalismo cultural e aspirante a escritor - http://cronicas-ideias.blogspot.com.br/


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