A história da opinião pública brasileira
* Por
Raul Longo
III Parte – Primeiro Declínio
Friedrich Nietzsche
dizia que Pedro II era o mais anti monarquista dos monarcas do mundo. Há quem
se espante com isso de Nietzsche falar do Imperador brasileiro, mas a realidade
é que Dom Pedro II foi admirado e respeitado por uma turma da pesada. Além de Nietzsche,
o fã clube do nosso Imperador era formado por nomes como Richard Wagner, Louis
Pasteur, Victor Hugo, Charles Darwin e Graham Bell. Tanto que uma das primeiras
linhas telefônicas no mundo foi o próprio inventor do telefone, o Alexander
Graham Bell, quem instalou lá no Palácio do Catete.
Só quem não se deu
conta da importância do D. Pedro II para sua época, como recentemente tornou a
acontecer com a projeção e admiração internacional por Luís Ignácio Lula da
Silva, foi a invariável ignorância da vagabunda elite brasileira.
Calma! Ninguém precisa
ficar ofendido porque não há nenhuma intenção de ofensa. Adjetivar a elite
brasileira de vagabunda apenas indica sua tradicional condição perante a
Opinião Pública internacional, desde os tempos em que se pontuava pela
indisposição ao abolicionismo de Pedro II, denunciando as próprias origens. De
onde veio essa gente se não daqueles “filhos de algo”, de nobres decadentes
que, em busca de reconhecimento na Corte europeia trocaram vinhos, joias,
bailes, mulheres e bacalhau para aparentar alguma utilidade a suas existências
enfrentando índios, feras e febres tropicais sem qualquer socorro?
“- Ah! Mas hoje é
diferente! Nossas atuais elites são laboriosas e inseridas no contexto da
realidade brasileira!” O cacete! Vagabundos até hoje e aí está o “Mais Médicos”
pra comprovar essa triste e secular evidência. A depender da rastaquera elite
da nossa classe médica, ‘tava aí a realidade social brasileira morrendo ao
abandono sem qualquer comoção daqueles que só querem ganhar no mole e sob ar
condicionado! Então aqueles “filhos de algo” ou “fidalgos” vieram pra cá porque
lá não mais cabiam suas inutilidades e incompetências! Naquela época não
colaria a empáfia que ainda ostentam.
Naqueles tempos só não
se investigariam falhos e falsos empreendimentos como aeroporto em terras de
tio ou próprias, porque avião ainda não existia e tampouco se transportava
cocaína em helicóptero; mas nem por isso o malandrinho teria o beneplácito da
opinião de alguns tão quanto malacos que pelo retorno do ganho fácil por
especulações parasitárias como quando aqui chegaram os mandriões a explorar a
indiarada.
Logo que a barra pesou
porque estando em terra própria os índios não tinham não se obrigavam a
aguentar tanto desaforo, os vagabundos mandaram vir a negrada da África! Ou
seja: se inúteis chegaram, inúteis se mantiveram e se mantêm até hoje. Não
prestam pra coisa alguma além de fazer intrigas e tão logo a Princesa Isabel
assinou a Lei Áurea acabando com a exploração da mão de obra escrava,
levantaram futricas até emprenhar os ouvidos do ingênuo alagoano Marechal
Deodoro que caiu na conversa de que se pretendia mandar prender a ele e ao
Benjamim Constant.
Puro boato! Dom Pedro
II era amigo do Deodoro e o tenente-coronel Benjamim Constant, por indicação do
próprio Dom Pedro, há muitos anos dirigia o Imperial Instituto dos Meninos
Cegos. A entidade fora criada pelo bom monarca em 1854 para se responsabilizar
pela educação das crianças cegas e -- sem intenção de trocadilho infame -- era
a menina dos olhos do Dom Pedro! Pra que o Visconde de Ouro Preto, então chefe
de gabinete do governo iria desagradar o Imperador mandando prender seus
protegidos? Por serem republicanos? Ora! O mundo inteiro sabia que Dom Pedro
também era um entusiasta do republicanismo e só o que o impedia de instaurar o
regime no Brasil era o receio de que a República caísse nas mãos de quem mais
pleiteava o poder: a corja da vagabunda elite fundiária brasileira que tanto se
revoltou com a abolição da escravatura? E nesta única eficiência que detêm, a
intriga, acabaram de fato derrubando a monarquia.
Deu no que deu!...
Quatro dias depois da Proclamação tentaram empurrar ao Deodoro uma bandeira que
nada mais era do que uma réplica da bandeira dos Estados Unidos, com listras
verdes e amarelas no lugar das brancas e vermelhas, e alguma diferença na
disposição das estrelas no quadrado do canto superior esquerdo. O próprio
Deodoro ficou tão indignado perante a insistência que no dia 19 de novembro
esmurrou à mesa e alertou: “Senhores! Mudamos o regime, não a pátria!” Daí se
instituir aquele como o Dia da Bandeira que temos.
A história de nossa
bandeira comprova como esses mesmos capachos que hoje tiram os sapatos e
abaixam as calças ao império estadunidenses, já eram sabujos desde o primeiro
momento da República que nos tirou toda a dignidade conquistada e construída
pelo D. Pedro II que se recusou a dobrar-se perante Abraham Lincoln, a quem
acreditam abolicionista, mas em verdade pretendia exiliar todos os negros de lá
abandonando-os na Amazônia. Dom Pedro impediu a venda das terras ao pool de
investidores arrumados pelo Lincoln para arrumar um lugar onde enfiar os negros
dos Estados Unidos; da mesma forma que mais tarde os sionistas livraram a
Europa dos judeus pobres enviando-os para a Palestina com o apoio dos mesmo
Estados Unidos e Inglaterra, apesar de discordância de sábios judeus como
Sigmund Freud e Albert Einstein, entre muitos outros.
Se na época o Brasil
das péssimas intenções de Lincoln para com os negros dos Estados Unidos o
Brasil já fosse governado pelo Fernando Henrique Cardoso, a Amazônia hoje
estaria virada numa Palestina. E é o que, por sinal, muita gente boa e
abalizada diz ser o projeto de uma certa candidata à presidência, de histórico
ambientalista e que na região estendeu uma Rede de ONGs geridas por interesses
estrangeiros que atraíram a atenção de um famoso especulador internacional
húngaro/americano de origem judaica: George Soros. Concidentemente, a mesma
candidata também recebe apoio da família Setúbal que foi sócia do Deputado
Herbert Levy da ARENA. Também judeu, Levy adquiriu a Fazenda Tanquinho no
interior paulista de José Queiróz Aranha, um aristocrata cafeicultor que, por
sua vez, era parente de Oswaldo Aranha, diplomata brasileiro que ao presidir a
II Assembleia Geral da ONU, em 1947, sancionou por aquela entidade a criação do
Estado de Israel, pelo que ainda hoje recebe agradecimentos dos sionistas.
Mas o que tem a ver a
Marina e o George Soros com a história aqui relatada? Talvez nada, mas já que
se tocou no assunto não custa esclarecer que apesar de gaúcho de Alegrete,
Oswaldo Aranha era da mesma tradicional família dos Souza Aranha de Campinas,
São Paulo, e que pelo Banco Itaú associaram Herbert Levy, um dos mais radicais
e fervorosos defensores da ditadura militar, ao pai de Neca Setúbal, o
ex-prefeito de São Paulo, Olavo Egídio de Sousa Aranha Setúbal.
Retornando da Palestina
Amazônica para o golpe que derrubou Dom Pedro II, avançamos para o golpe contra
Deodoro estimulado pela mesma elite que o usou contra D. Pedro. Dois anos
depois de Proclamada a República a elite cafeeira de São Paulo insufla o ego de
outro marechal, o também alagoano Floriano Peixoto, contra seu conterrâneo de
quem era vice-presidente. Deodoro resistiu e é Floriano quem comanda a primeira
Revolta da Armada com o encouraçado Riachuelo voltando suas canhoneiras contra
a cidade do Rio de Janeiro. Aquilo ia ser uma matança de civis e Deodoro
preferiu renunciar.
Mas seu sucessor não
teve a menor preocupação com os civis e a ferro e a fogo esmagou a Opinião
Pública todas as vezes em que ela se manifestou contra a República ou a favor
do Império, como ocorreu na Revolução Federalista e na execução dos revoltosos
catarinenses, impondo à cidade da Ilha de Nossa Senhora do Desterro uma eterna
homenagem ao seu nome, até hoje não totalmente aceita pela Opinião Pública de
Florianópolis.
Floriano Peixoto chegou
a anunciar uma ditadura de salvação nacional, mas apesar de chamado Marechal de
Ferro por subjugar seus inimigos sem qualquer complacência, foi por sua vez
subjugado pelo poder econômico das elites que resgataram a pretendida
república, como temera Dom Pedro II cujo falecimento, também em 1891, provocou
uma crise de arrependimentos entre a maioria dos republicanos que o derrubaram
sem imaginar que as então almejadas mudanças levariam o país ao obscurantismo,
sem nada da liberdade política e dos tantos avanços sociais, técnicos e
científicos promovidos por Pedro II. O
declínio da Opinião Pública brasileira foi drástico e retornamos aos tempos
entre colônia e primeiro Império, quando os cidadãos não tinham qualquer
direito de opinião.
As liberdade fora
totalmente suprimidas desde os primeiros dias da República dos latifundiários e
assim permaneceu e se consolidou no governo do primeiro presidente civil,
Prudente de Moraes, que marcou a ascensão da oligarquia cafeicultora ao poder
do país.
Prudente de Moraes
também foi o primeiro presidente eleito pelo voto popular, mas considerar as
urnas como meio de expressão da Opinião Pública era uma falácia, pois então o
voto era imposto pelo cabresto dos coronéis que detinham os poderes financeiros
e armados regionais, conhecidos como currais eleitorais. E assim, a partir de
Prudente de Moraes se institui no país o que foi conhecido como Política Café
com Leite, mantendo uma alternância na presidência entre representantes das
elites agrarias de Minas Gerais, cujos empregados dedicavam-se à produção de
Leite; e das elites agrarias de São Paulo, mantidas por empregados dedicados à
cafeicultura. Não mais escravos, esses empregados em maioria se compunham de
emigrantes pobres trazidos da Europa e da Ásia para substituir à mão de obra
escrava abandonada pelos interiores dos sertões brasileiros.
Pois foram abandonados
que miscigenados em caboclos que começaram a formar uma nova Opinião Pública.
Mas sempre que se levantava era simplesmente massacrada como ocorreu na Guerra
de Canudos, ainda no governo Prudente de Moraes, e Guerra do Contestado, no
decorrer dos governos de Hermes da Fonseca e Venceslau Brás.
Hermes da Fonseca foi
sobrinho do primeiro presidente republicano: o Deodoro. Militar e marechal como
o tio, logo no início de seu governo respondeu com alta traição à Opinião
Pública revoltada contra o uso da chibata como método repreensivo utilizado
pelos oficiais da Marinha Brasileira contra seus comandados. Traição e falta de
honra à própria palavra no acordo estabelecido pelo recém-eleito presidente com
o líder dos revoltosos. Em 26 de novembro o marinheiro João Cândido entregou os
estopins dos canhões dos encouraçados em troca do compromisso de Hermes da
Fonseca em suspender o emprego da chibata e de conceder anistia a todos os
revoltosos. No dia seguinte o Marechal decreta a expulsão dos marinheiros,
provocando uma segunda rebelião na Ilha das Cobras. Reprimida com bombardeios,
2.000 expulsões, fuzilamentos, condenações a degredo na Amazônia, e prisão; a
barbárie do exército contra o povo brasileiro naquela revolta não foi a única,
mas ainda hoje é das mais lembrada.
O marinheiro João
Cândido que por negociar a rendição dos revoltosos propondo a anistia e o fim
do castigo medieval fora apontado pela imprensa da época como o Almirante
Negro, foi aprisionado no Hospital de Alienados como louco. Banido da Marinha
sofreu privações, trabalhou como estivador e
mendigou pelas ruas do Rio de Janeiro. Espezinhado pelo tradicional ódio
das elites aos pobres e, sobretudo, aos negros; João Cândido foi detratado de
todas as formas possíveis e imagináveis, sendo inclusive apontado como
homossexual apesar de pai de doze filhos com quatro mulheres. Convidado a responder ao ataque público de um
Almirante, João Candido respondeu:
"- Contestá-lo? Como, se não tenho as letras do Almirante? O galho
quebra sempre do lado mais fraco.”
O nome do Almirante que
em 1949 mesquinhamente detratou João Candido pelo jornal Diário de Notícias,
expondo seus próprios estúpidos e primários preconceitos, inclusive sexuais,
não apresenta qualquer justificativa para ser lembrado e hoje seu nome é tão
obscuro e ignorado quanto em algum breve dia será o de um Bolsonaro; mas o
Almirante Negro recebeu uma das mais belas homenagens já composta nas páginas
melódicas do Brasil, sob a assinatura de dois de nossos maiores expoentes
musicais: João Bosco e Aldir Blanc, e
com o título “Mestre Sala dos Mares”.
“Glória a todas as
lutas inglórias que através da nossa história não esquecemos jamais!.” Falecido
em 1969, João Cândido foi finalmente anistiado em 2008 e em 2010 a Presidenta
Dilma Rousseff fez uso de seu nome para batizar o primeiro cargueiro produzido
pela reativação da indústria naval brasileira, desativada pelo governo de
Fernando Henrique Cardoso.
“Glória a todas as
lutas inglórias que através da nossa história não esquecemos jamais!” Assim,
entre ascensão e declínio se constrói a história de nossa Opinião Pública como
quando os catarinenses rememoram seus heróis populares da Guerra do Contestado,
caboclos que ousaram contestar os interesses dos coronéis latifundiários do
estado do Paraná associados aos pulhas do governo federal de Hermes da Fonseca
que entregaram nossas terras e florestas aos madeireiros e à estadunidense
Southern Brazil Lumber & Colonization Company.
Em cumprimento à real e
única especialidade das elites brasileiras que é a gerência e corretagem dos
bens e patrimônios públicos do povo brasileiro, como um bom capataz o Marechal
Hermes da Fonseca mobilizou cerca de 7 mil soldados do exército, mais mil do
regimento de segurança do Paraná e ainda mil civis contratados como mercenários
e espiões, promovendo cerca de 9.000 mutilações, mortes e desaparecimentos de
brasileiros.
Mas após o declínio
provocado pela instauração da Velha República, a Opinião Pública brasileira
ainda tornaria a experimentar nova ascensão. Só que aí já é outra
história.
*Raul Longo é jornalista, escritor
e poeta. Mora em Florianópolis e é colaborador do “Quem tem medo da
democracia?”, onde mantém a coluna “Pouso
Longo”.
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