Um pulo na Grécia: um recado dos deuses
Por Johnny Virgil
Na viagem à Grécia,
Delphi ficou por último. Quis assim o destino.
São menos de 3 horas de
Atenas, metade delas por uma autopista pedagiada e a outra por uma rodovia
interiorana. É estranho que o outrora “umbigo” do mundo fique um pouco fora de
mão nos dias de hoje.
Havíamos contratado um
pacote de um dia (com almoço incluso) em uma agência de turismo. De ônibus,
sairíamos um pouco antes das 8h e voltaríamos pelas 19h. Na primavera, os dias
são longos, e o anoitecer chega tarde, pelas 20h30min. Então, seria um dia
cheio, mas ainda teríamos tempo para tomar o café da manhã e jantar
tranquilamente.
O serviço de coleta da
agência nos pegou no horário. A princípio, não sabíamos que estávamos sendo
enviados para um local intermediário; quando percebemos que íamos todos para
lugares diferentes e, após um curto desespero, questionamos o motorista, é que
ficamos sabendo. No fundo, melhor assim do que indo para o destino errado.
Mas, ao chegarmos, a
confusão ia logo formar-se, bem ao estilo grego: uma recepção cheia, um bando
de turistas perdidos, gritos e gestos, um motorista que não sabia para onde
iria. Que Deus me permita nunca mais depender desse tipo de serviço!
Bem ou mal, lá fomos
nós, saímos de Atenas. A paisagem grega é sempre dramática. Quando mais se
avança para o norte, mais verde temos; vemos plantações, árvores de porte
mediano, ciprestes, montanhas abruptas, picos nevados, pedras e pedras, vilas e
pequenas cidades. Poucos rios. Os campos salpicados de papoulas são uma visão
belíssima, na primavera.
Pouco a pouco,
aproximamo-nos da montanha das Musas, o Monte Hélicon; logo ali, o Monte
Parnaso. É realmente uma sensação estranha chegar próximo de um lugar sobre o
qual se leu e ouviu falar tanto. O que você um dia imaginou nunca corresponde à
realidade. Por mais que lhe houvessem dito sobre a grandeza desse lugar, da
majestade das montanhas, dificilmente alguém seria capaz de descrevê-lo sem
visitá-lo, pois só descrevê‑lo já é uma tarefa
árdua.
Após uma cidade, uma
descida e uma curva, lá está Delphi. Não é mais que uma escarpa íngreme cheia
de ruínas, uma bem ao lado da outra, para aquele que não sabe a importância das
coisas e não entende quanto de alma as coisas podem conter.
Imagine-se uma fila
interminável de pessoas, pobres e ricos, de todos os cantos do Mediterrâneo,
buscando respostas — um canal aberto com os deuses somente 9 dias ao ano!
Impressiona que as cidades gregas, como Atenas, Sifnos, Tebas e Argos, deixavam
ali parte de seu tesouro, ou despojos de guerra. Impressionam as colunas
sobreviventes do templo de Apolo, sob as quais o oráculo inalava os fumos que
outrora fluíam do interior da terra, entrava em transe e decretava o destino em
versos dúbios. E depois um teatro, e no topo um estádio!
É estranho esperar que
deuses mortos como os gregos nos falem. Mas eu esperava. Um turista ingênuo à
caça de um milagre. Tirando fotos de todos os cantos, ouvindo a arenga dos guias,
andando pelos caminhos estreitos lendo a história das pedras.
Então, quando já estava
descendo a colina, ao lado do Templo de Apolo, uma vozinha dentro da minha
cabeça sussurrou algo que certamente seria verdade, porque tudo, em última
instância, provém dos deuses: “A vida é curta”. Se era a minha vida, se era a
dos que amo, tanto fazia. Mesmo sem oráculo, a frase tinha sentido e queria
dizer, simplesmente, “deixe de ser preguiçoso e se preocupe com o que realmente
vale a pena”.
*
Escritor
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