Bicicultura
* Por
Marcelo Sguassábia
À primeira vista, o
cidadão desavisado pode se assustar, ao deparar-se com um oceano de bicicletas
ergométricas, todas alinhadas e ligadas por cabos de força a imensos
acumuladores de energia, situados próximos às sedes das fazendas.
Essas aparentes
academias de ginástica a céu aberto são na verdade as maiores apostas do
governo federal para fazer frente à crise na geração de energia – dilema que se
agrava ano a ano desde o tempo dos Afonsinhos.
A ideia consiste basicamente
na transformação em larga escala da energia mecânica da pedalada em energia
elétrica, libertando finalmente o nosso país da perigosa dependência das
reservas hídricas e da boa vontade de São Pedro em mantê-las transbordando.
Nossos valorosos boias-frias
abandonarão a labuta inglória e primitiva de semear, adubar, carpir, colher e
transportar a safra e abraçarão, felizes, o bucólico ofício de pedalar. Ou
seja, o que para muitos é passeio ou modalidade esportiva, para eles passará a
ser trabalho - com a vantagem adicional de não terem mais a ameaça da
agricultura mecanizada sobre seus empregos.
Instaladas a 50
centímetros de distância umas das outras - o suficiente para que os joelhos dos
operadores não se esbarrem, calcula-se como ideal um aproveitamento médio de
20.000 bicicletas ergométricas por hectare, ou 48.000 por alqueire.
Autossustentável, a
nova atividade produtiva destaca-se pelo pleno aproveitamento dos subprodutos
gerados. Um deles é o suor das equipes de trabalho, que ao encharcar o solo
hidrata as lavouras de tomate, batata, rabanete, beterraba e inhame plantadas
entre as bikes e que servem para alimentar os ciclistas durante e após a faina
diária. Esse alimento retorna à terra na forma de fezes, feitas ali mesmo pelos
bikelavradores, o que potencializa ainda mais o bom desenvolvimento dos legumes
e tubérculos, num circulo virtuoso e interminável.
As vantagens não param
por aí. O dispendioso e quase sempre nocivo adubo utilizado em qualquer
plantação será substituído por graxa ou óleo lubrificante nas catracas, os
únicos insumos necessários para garantir a boa produtividade da nova atividade
agrícola. Já o único defensivo exigido para a prática da bicicultura é a capa
de proteção em nylon sobre cada uma das bikes, capaz de protegê-las das chuvas
e da consequente ferrugem nos mecanismos.
Nas fronteiras dos
latifúndios ciclísticos prevê-se, sempre que possível, a implantação de
unidades geradoras de energia eólica em lugar das cercas de arame farpado. Com
elas, o empreendedor extrairá um duplo benefício: a geração de kilowatts
adicionais para venda às usinas e a ação refrescante sobre os ciclistas,
beneficiados com maior conforto e bem-estar em sua luta pelo pão de cada dia.
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Marcelo Sguassábia é redator publicitário. Blogs: WWW.consoantesreticentes.blogspot.com (Crônicas e Contos) e WWW.letraeme.blogspot.com (portfólio).
Pedalando a Caloi a "poupança" nunca doi.
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