segunda-feira, 14 de julho de 2014

Saudades do bambolê


* Por Daniel Santos

Noutro dia, ao observar pela tevê a ginga de sambistas, me veio à mente algo de grande sucesso nos anos 60 – o bambolê. Lembram-se? Pena que só ganhei quando criava buço e largava já os brinquedos.

Assim, de início, passei-o às primas e às vizinhas para rebolarem até eu me tornar estrábico. Tempos depois, reavi o bambolê que fazia girar no pescoço, pernas e braços num espetáculo apenas para impressioná-las.

Vivia, afinal, a idade do exibicionismo. Penteava o topete “príncipe-danilo” com Gumex, mastigava Mentex para ter o hálito sempre refrescante e pingava Lancaster na gola da camisa quando ia ao cinema.

Na piscina do clube, demorava-me no trampolim para mostrar o físico e só mergulhava quando elas olhavam para mim. Usava um calção “double-face” (azul de um lado, amarelo de outro) que era a maior chinfra.

Inocente, ignorava que logo tudo terminaria. Viria a barba, o primeiro beijo, sexo, estudos, compromissos... A vida e seus problemas, a necessidade do jogo de cintura que, quem sabe, aprendi com o bambolê.

* Jornalista carioca. Trabalhou como repórter e redator nas sucursais de "O Estado de São Paulo" e da "Folha de São Paulo", no Rio de Janeiro, além de "O Globo". Publicou "A filha imperfeita" (poesia, 1995, Editora Arte de Ler) e "Pássaros da mesma gaiola" (contos, 2002, Editora Bruxedo). Com o romance "Ma negresse", ganhou da Biblioteca Nacional uma bolsa para obras em fase de conclusão, em 2001.




Um comentário:

  1. Uma lição de vida retirada de um brinquedo que nem se destinava a isso. Como sempre, ensinando viver, Daniel. E com graça.

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