Saudades do bambolê
* Por Daniel Santos
Noutro dia, ao observar pela tevê a ginga de sambistas, me veio à mente algo de grande sucesso nos anos 60 – o bambolê. Lembram-se? Pena que só ganhei quando criava buço e largava já os brinquedos.
Assim,
de início, passei-o às primas e às vizinhas para rebolarem até eu me tornar
estrábico. Tempos depois, reavi o bambolê que fazia girar no pescoço, pernas e
braços num espetáculo apenas para impressioná-las.
Vivia,
afinal, a idade do exibicionismo. Penteava o topete “príncipe-danilo” com
Gumex, mastigava Mentex para ter o hálito sempre refrescante e pingava
Lancaster na gola da camisa quando ia ao cinema.
Na
piscina do clube, demorava-me no trampolim para mostrar o físico e só
mergulhava quando elas olhavam para mim. Usava um calção “double-face” (azul de
um lado, amarelo de outro) que era a maior chinfra.
Inocente,
ignorava que logo tudo terminaria. Viria a barba, o primeiro beijo, sexo,
estudos, compromissos... A vida e seus problemas, a necessidade do jogo de cintura
que, quem sabe, aprendi com o bambolê.
* Jornalista carioca. Trabalhou como repórter e
redator nas sucursais de "O Estado de São Paulo" e da "Folha de
São Paulo", no Rio de Janeiro, além de "O Globo". Publicou
"A filha imperfeita" (poesia, 1995, Editora Arte de Ler) e
"Pássaros da mesma gaiola" (contos, 2002, Editora Bruxedo). Com o
romance "Ma negresse", ganhou da Biblioteca Nacional uma bolsa para
obras em fase de conclusão, em 2001.
Uma lição de vida retirada de um brinquedo que nem se destinava a isso. Como sempre, ensinando viver, Daniel. E com graça.
ResponderExcluir