Os uníssonos
* Por
Alexandre Vicente
Tenho medo das vozes
que se dizem uníssonas. Tenho medo do clamor que se diz uníssono. Tenho medo
daqueles que só enxergam o preto e o branco, não os daltônicos natos, mas os
funcionais. Tenho medo daqueles que só conhecem dois lados. A verdade e a mentira;
o sol e a lua; a noite e o dia; o certo e o errado. Simplesmente temo os
extremismos. Seja de que cor ele se pinte. Vermelho, amarelo, verde…
Amedrontam-me esses uns
que não conseguem ver o que há por baixo, por cima, à direita, à esquerda, em
frente. Não veem as mentiras ternas de quem quer lhes poupar a dor. As meias
verdades, que descobrem apenas o necessário para não ferir quem já está no
chão. Não conhecem as estrelas, outros planetas ou cometas. Em sua cegueira do
sim/não, são incapazes de perceber que existe o entardecer antes de chegar a
noite e um amanhecer antes de chegar o dia. Que existem matizes em tudo que nos
circunda.
Meu recado a estas
vozes pseudouníssonas é que parem de crer em salvadores da pátria. Mais cedo ou
mais tarde, estes acabam se revelando apátridas. Párias.
Não espere colher
morangos, em plantações de pimentas. Podes queimar a língua. No fundo somos
todos pimenta. Com nossos matizes, nossos tipos e cores. Seja do reino,
malagueta, dedo-de-moça, cumari… somos pimenta e temos nosso pouco de veneno.
Antes de sermos uma só voz, somos indivíduos com opiniões e interesses
diferentes.
Os uníssonos são
intolerantes. Calam as vozes. Inibem as vontades. Tolhem as liberdades.
Por isso temo os
equivocados autointitulados uníssonos.
* Escritor
carioca
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