O peru do Obama e as viúvas do Ipase
* Por
Clóvis Campêlo
Todos se lembram: o
primeiro presidente norte americano negro perdoôu o peru branco. O nome do
bicho: Courage. Veio da Carolina do Norte, onde nasceu, numa fazenda
especialista em criar perus, para enriquecer o jantar do Dia de Ação de Graças
do presidente.
O peru anistiado,
porém, não viverá o resto dos seus dias na Casa Branca. Foi encaminhado para a
Disneylândia, onde, com certeza, será transformado em mais uma atração
turística.
Consta que essa história
de presentear o presidente com um peru vem desde o presidente Eisenhower, em
1953. Transformou-se numa tradição. Diz ainda a lenda que o primeiro presidente
a poupar o peru presenteado foi John Kennedy, nos início dos anos 60, quando o
sonho dourado americano ainda não se desvanecera.
Enfim, histórias da
Carochinha do Norte que nós, brasileiros e americanos do Sul, desde a mais
tenra idade, escutamos.
Mas, o que teria o peru
americano de Obama a ver com as saudosas viúvas do IPASE?
Lembro que nos anos 60,
quando eu ainda era um menino e jogava bola nas areias da praia do Pina, era
costume do meu pai, em dezembro, levar para casa os perus que comprava ou mesmo
recebia de presente das viuvinhas que atendia no extinto IPASE. Aqueles pobres
e comprometedores perus, já que dona Tereza, minha mãe, sempre via naquela
benevolência uma possibilidade de traquinagem extra conjugal, nunca foram
perdoados. Todos os dias, depois do almoço, eu e meu irmão, sentávamos no
batente do terraço que havia na cozinha para cevar os perus. Tudo o que sobrava
das refeições do dia e da véspera era “enriquecido” com água e farinha de
mandioca e literalmente enfiado garganta a dentro dos animais, sem chance
nenhuma de defesa ou contestação. Aos perus violentados, só restava a obrigação
de digerir e engordar.
Como naquela época
ainda não havia os aleijões transgênicos e congelados dos chesters, quando o
Natal chegava os perus, com seus fígados engordados pela alimentação forçada,
eram sacrificados e colocados na mesa para o deleite da família e dos vizinhos
que sempre participavam, intercambiando quitutes e votos de felicidades.
Lembro disso sem nenhum
sentimento de culpa. Achava e ainda acho legítimo todo aquele ritual que unia a
família, terminava por dissipar as desconfianças maternas e garantia uma ceia
de Natal decente e condigna.
Eramos felizes e não
sabíamos que o futuro nos traria costumes diferentes e saudades de coisas
simples que pareciam ser eternas.
Hoje já não existem
quintais, perus a serem engordados ou mesmo vizinhos amigos e participativos,
ávidos para demonstrarem a afeição e o o respeito que alimentavam aquela
relação de amizade e boa convivência.
Com toda sinceridade,
sinto falta disso.
* Poeta,
jornalista e radialista, blogs:
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