Notícia de portinha aberta
* Por
Nilto Maciel
O sujeito cultiva bigodinho semelhante ao de Fernando Pessoa, usa a
cabeleira de Castro Alves e se veste como Dorian Gray. Redige “artigos” ou
“ensaios” de tão difícil entendimento que nem o mais sábio dos homens consegue
entender. Apesar disso, nunca recusaram uma só de suas pérolas.
Pleiteia vaga na Academia Brasileira de Letras. Sonha também com o
Prêmio Nobel de Literatura. Imagina-se traduzido para duzentas línguas. Copia
daqui uma frase, dali uma informação, dacolá um comentário. E arranja títulos
pomposos: “A influência de Kafka na poesia de Ferreira Gullar”; “Ariano
Suassuna e os moinhos de vento”; “Do grão de areia ao pequeno príncipe – um
retrato de Guimarães Rosa”.
De seu passado restaram duas ou três afirmações (por ele negadas):
abandonou a escola, ao chegar às Montanhas Rochosas; da primeira à décima
namorada, leu meia dúzia de sonetos parnasianos, três contos (numa revistinha
em cuja capa se viam seios fartos de fêmea loira) e algumas páginas de romance
(tradução brasileira), de autor desconhecido.
Apresenta-se, a editores de jornais impressos e revistas eletrônicas,
como ex-colunista do blog Senta a pua na letra; ex-editorialista da
folha O lance de dados; tradutor da poesia de Dante Alighieri (de
estrofe de uma tradução brasileira da Divina Comédia substituiu
substantivos por adjetivos e verbos).
Todo dia, jornais o exibem ao lado de acadêmicos federais e romancistas
famosos no mundo inteiro. Seu “estilo debochado” ― expressão
cunhada por um doutor em línguas neolatinas – seria resultado da intensa
mesclagem de idiomas latinos com línguas aglutinantes, além de sânscrito (ou
são cristo, segundo ele mesmo) e hebraico. Tem anunciado um romance: A vida de padrinho Cicerone nos confins
da estrela guia.
* Escritor cearense
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