É preciso inteligência
para mudar
O fracasso da Seleção
Brasileira na Copa do Mundo e, mais do que sua desclassificação nas semifinais,
a forma como isso aconteceu, com aqueles humilhantes e surreais 7 a 1 sofridos
diante da Alemanha, levantaram um alarido geral, do Oiapoque ao Chuí. Pudera!
Subitamente, até os que consideravam nosso futebol a oitava maravilha do mundo
(e não tenho nenhum problema em admitir que me incluo entre estes), deitaram
falação e passaram a considerar tudo errado. De repente, Luís Felipe Scolari
deixou de ser um “gênio”, um treinador vencedor, um “paizão” compreensivo e
afável, para se tornar alvo de chacotas, de zombarias de toda a sorte, da ira
popular e de coisas muito piores, como se fosse o único culpado pelo maior
vexame que a única pentacampeã mundial protagonizou em sua centenária história.
Não foi!
E isso tinha que
acontecer justo em 2014, quando a Seleção Brasileira completa cem anos de
trajetória inigualavelmente vitoriosa e quando o Brasil é a sede da Copa do
Mundo, com o desafio sobressalente de resgatar de uma vez por todas o trauma de
1950! Afinal, como diz o povão, “desgraça pouca é bobagem!” Felipão é o
principal culpado – ou o único como tantos o consideram – pelo megavexame? Até
quem é dotado de um único e solitário neurônio, se o botasse para funcionar,
concluiria que não. Mas... a patuléia ignara acha que sim. E o que fazer? É
mais fácil eleger um bode expiatório e jogar sobre ele toda a culpa de
insucessos do que procurar a verdadeira causa do fracasso.
O polêmico treinador, cuja
personalidade eu já admirava, cresceu muito em meu conceito. Óbvio que não por
causa de sua eventual “genialidade” técnica, ou tática, ou coisa que o valha.
que, aliás, deixam a desejar. Felipão revelou-se, pelo menos a julgar pela
performance de seus comandados, estar, no mínimo, desatualizado. Então qual o
motivo da minha admiração e, sobretudo, do crescimento dela por ele? Simples. É
sua personalidade. É sua hombridade. Pouquíssimas pessoas, seja qual for a
atividade considerada, agiriam como Felipão agiu no próprio dia da goleada
alemã e nos subseqüentes. Não se escondeu, não se esquivou de nenhuma entrevista
coletiva, não se negou a responder nenhuma pergunta, a maioria ostensivamente
provocativas, mesmo sabendo que seria “linchado”, como foi, moralmente pela
totalidade da imprensa. Eu não teria essa grandeza. Mandaria todos para o
inferno, pediria demissão no ato e não comandaria a equipe nem para a disputa
do terceiro lugar. Felipão, porém, teve a coragem de assumir publicamente toda
a responsabilidade pelo fracasso, sem transferir culpa para os principais protagonistas
do vexame (os jogadores, claro). Afinal, futebol não é ciência exata, mas um
jogo. Nenhum suposto cientista na matéria conseguiria ou conseguirá o menor
sucesso se quem jogá-lo não o fizer com um mínimo de inteligência,
concentração, vontade e talento.
Antes que alguém mal
intencionado, ou burro, me interprete mal, não estou afirmando que tudo na
Seleção Brasileira esteja “divino e maravilhoso”. Óbvio que não está. Aliás,
nunca esteve, nem mesmo na conquista dos cinco títulos mundiais. Nosso futebol
tem profundos erros de estrutura, que sempre foram ignorados dado o sucesso
(intermeado, claro, de fracassos, como os de 1950, 1954, 1966, 1974, 1982,
1986, 1990, 1998, 2007 e 2010) no gramado. Foi preciso levar a paulada que
levou, diante da Alemanha, para que caíssemos na realidade. Pretendo tratar com
detalhes desses erros estruturais, mas com vagar, sem açodamento, em textos
talvez semanais, talvez mensais, sei lá. São tantos os aspectos a abordar que
os comentários a respeito consumirão, com certeza, páginas e mais páginas e
talvez não consiga tratar sequer de uma fração deles.
O que não se pode é
destruir tudo em nosso já tão frágil futebol, como se nada prestasse, sob pena
de extinguirmos de vez essa modalidade, em âmbito profissional, em nosso País.
Não podemos, por exemplo, nos deixarmos iludir por estapafúrdias teorias de
conspiração que circulam na internet, esta terra de ninguém em que convivem idéias
e conceitos excepcionais com o máximo de baixaria, burrice e estupidez. Cito,
como exemplo, duas das megabobagens que se tornam onipresentes nas redes
sociais. Uma é a de que esta Copa estaria “comprada” pelo Brasil, que a
ganharia de qualquer maneira, jogando bem ou mal. Se, eventualmente, isso
tivesse mínimo foro de verdade, então esqueceram de subornar a Alemanha, não é
mesmo? Ora, ora, ora. Se algum ingênuo dos ingênuos ainda acreditava nisso, os
7 a 1 desmoralizaram esse absurdíssimo boato.
A outra teoria da
conspiração que ainda circula em vários espaços refere-se ao principal (e no
meu entender, único) craque da nossa Seleção. Refiro-me, óbvio, ao Neymar. “Alguém”,
não se sabe quem, saiu com a estapafúrdia versão que a principal estrela
brasileira não sofreu fratura coisa nenhuma. Que sua contusão nem mesmo foi
grave e que o jovem atleta poderia ter jogado contra a Alemanha sem nenhum
problema. Então, por que não jogou? Ora, ora, ora. Foram postados, inclusive,
vídeos que “comprovariam” essa absurda versão, divulgada como “notícia” e não
como fantasia digna de figurar entre as mais surreais peças do absurdo. Sequer
me darei o trabalho de rebater essa baboseira com argumentos. Citei-a apenas
como prova de que não podemos nos fiar em tudo o que se diz por aí a respeito
da Seleção e nem nas pseudo-soluções para resgatar a grandeza do nosso futebol.
A mais comezinha das
lógicas indica que para você resolver algum problema tem, antes e acima de
tudo, que identificá-lo com precisão, sem nenhuma dúvida ou ambigüidade. Para
curar qualquer doença, tem-se, é evidente, que diagnosticá-la com exatidão, sob
pena de se indicar terapia inadequada que, em vez de curar o paciente, agrave
seu mal e o leve, até mesmo, à morte. As deficiências do futebol brasileiro,
que são muitas, não serão todas identificadas com a cabeça quente, como todos
estamos agora, sob o impacto de tão profunda decepção, como foram aqueles 7 a 1
sofridos diante da Alemanha. As medidas para a correção de rumos não poderão
ser tomadas em questão de horas, mesmo de dias ou meses. É um processo que
talvez dure anos. Claro que quantos menos, melhor. E isto desde que o diagnóstico
seja completo, e rigorosamente exato. É preciso inteligência para mudar!
Boa leitura.
O Editor
Acompanhe o Editor pelo twitter: @bondaczuk .
O desapaixonamento dos primeiros dias são primordiais para o recomeço. Eu, que adoro futebol, não gosto dessa fábrica de invencionices que se transformou a internet. Entendo como delírios de beócios essas "teorias" derramadas como verdadeiras por aqui. Nem as considero, tendo o cuidado e não curtir nada que eu não aprove inteiramente.
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