Adaptando-se
às mudanças
* Por Pedro J. Bondaczuk
A palavra "mudança" freqüenta o discurso
de todos os políticos e economistas e os textos de todos os filósofos (com
maior ou menor ênfase), principalmente deste início de milênio, como se
"mudar" alguém ou alguma coisa fosse a maior das novidades.
Evidentemente, não é. Tudo muda a cada segundo, desde o princípio dos tempos,
que ninguém sabe e jamais saberá quando foi.
Não apenas as pessoas e seus comportamentos se
alteram (para melhor ou pior) a cada instante, como também os objetos
inanimados sofrem essas alterações. O universo é dinâmico. A vida também o é.
Ao terminar esta frase, por exemplo, nada mais será exatamente igual ao que era
quando ela foi iniciada, embora aparentemente nada de diferente haja ocorrido.
Nesse exato momento, pessoas terão nascido em alguma
parte do mundo, outras terão morrido, amores foram declarados, relacionamentos
foram desfeitos, idéias nasceram, outras foram esquecidas e assim por diante. A
Terra estará alterada: por fenômenos naturais (ventos, vulcões, terremotos
etc.) ou pela ação do homem.
Estará, no mínimo, alguns microgramas mais pesada,
por exemplo, em virtude do acúmulo de poeira extraplanetária, proveniente de
alguns dos milhares de meteoros que atingem o Planeta diariamente e que se
decompõem ao penetrar na atmosfera, chegando ao solo em forma de invisíveis
partículas de pó. Que, no entanto, são concretas, mesmo que não as vejamos. São
matéria. E ao longo dos anos, dos séculos e dos milênios tornam-se não apenas visíveis,
mas ponderáveis. Cidades e mais cidades, que existiram num passado não tão
remoto, estão soterradas a dois, a cinco ou até a mais metros, à espera de
arqueólogos que as localizem e as desenterrem. Esse acúmulo ocorre também com a
energia proveniente a cada instante do espaço.
O poeta inglês Percy Bysshe Shelley compôs
magistrais versos, que retratam, em palavras, este dinamismo universal, este
moto contínuo (diria perpétuo) de mudanças, que se processam quer em nosso
organismo, quer no planetazinho que habitamos, quer na imensidão universal, que
mais se amplia à medida que os instrumentos de captação de imagens siderais de
que o homem lança mão aumentam a sua capacidade de alcance. Diz o escritor:
"Mundos após mundos estão sempre rolando/desde sua criação até seu
fim,/como as borbulhas num rio,/brilhando, rompendo-se, levadas embora".
As distâncias cósmicas são tão grandes, para nossos
restritíssimos sentidos, que mesmo a luz viajando a 300 mil quilômetros por
segundo, o brilho de estrelas surgidas quando da formação da Terra (ou alguns
bilhões de anos antes ou depois) chega até nós na presente geração. A maioria
das que vemos brilhar, atualmente, no céu, já não existe há milhões de
milênios. Uma infinidade delas está nascendo neste momento, em alguma parte do
universo, e jamais tomaremos conhecimento desse nascimento. Nossa vida é curta
demais. É irrisória, em termos de tempo, embora a alguns pareça demasiado longa
e penosa. E tudo muda, embora os desavisados jurem que tudo está sempre na
mesma.
O filósofo grego Heráclito já havia constatado essa
mutabilidade vertiginosa. "Não se pode pisar duas vezes nos mesmos rios,
pois as águas novas estão sempre fluindo sobre ti", já dizia, há alguns
séculos antes do nascimento de Cristo. E quanto o mundo mudou, desde que este
gênio passou sobre a Terra! Civilizações nasceram e morreram, guerras as mais
diversas foram travadas, seres iluminados passaram pelo Planeta proporcionando
importantes saltos evolutivos, feras sanguinárias (em forma de gente)
abreviaram a vida de centenas de milhares de indivíduos, até que igualmente
"mudassem". Voltassem ao pó, de onde todos procedemos e para onde
todos voltaremos, e a qualquer instante.
Não temos, pois, condições de deter nenhuma mudança.
O processo foge de nosso controle. O que podemos fazer é apenas nos adaptarmos
a elas. O homem, se quiser legar um mundo melhor às gerações futuras, deve
interferir positivamente no meio ambiente, preservando o mais que possa os
delicados e frágeis ecossistemas. Precisa respeitar as leis da natureza, que
regem a sua própria existência. Hoje a Terra corre o risco do chamado
"efeito-estufa", perigoso aquecimento planetário, capaz de provocar
uma catástrofe de dimensões imprevisíveis para todos os seres vivos. O Planeta,
se isso acontecer, tem condições de se regenerar. A vida? Jamais!
O cientista Isaac Asimov, no entanto, publicou,
pouco antes da sua morte, um livro que em português recebeu o título de
"Escolha a Catástrofe", ridicularizando o catastrofismo então
vigente. Demonstrou, mediante explicações lógicas, que a natureza possui
mecanismos para se livrar daqueles que alteram o seu curso. Ou seja, "se
defende" dos depredadores.
No caso do efeito-estufa, lembrou que, desde que não
seja abrupto, pode ser até benéfico para o Planeta. Explicou que a Terra gira
num espaço gélido e escuro e que perde calor neste processo de deslocamento.
Talvez, se não houvesse um aquecimento artificial, provocado pela enorme
quantidade de gás carbônico lançado diariamente na atmosfera pelo escapamento
dos automóveis – fenômeno típico deste século – estaríamos entrando, ou prestes
a entrar, em nova era glacial. E essa alteração climática poderia criar
condições nefastas, ou até mesmo impossíveis à existência da vida.
As pessoas não-dogmáticas, com sede e fome de
conhecimento, que se mantêm permanentemente ligadas ao mundo, dispostas a
aprender tudo o que possam, são as que têm as maiores chances de mudar, sem que
tais mudanças impliquem em
traumas. Claro que a incerteza dita o destino humano. Agora
estamos vivos. No segundo seguinte, poderemos não estar mais. E a vida – embora
espiritualistas garantam que não, baseados apenas nas próprias convicções – não
tem reprise. Se tivesse, a humanidade não estaria privada dos gênios e santos
que com suas ações e exemplos fizeram o homem evoluir e que tanta falta fazem
hoje, como Sidarta Gauthama, Maomé, São Francisco de Assis, Mahatma Gandhi,
Madre Teresa de Calcutá e tantos e tantos outros, que assumiram missões de
grandeza, santidade e sabedoria e as cumpriram sem vacilar.
* Jornalista,
radialista e escritor. Trabalhou na Rádio Educadora de Campinas (atual
Bandeirantes Campinas), em 1981 e 1982. Foi editor do Diário do Povo e do
Correio Popular onde, entre outras funções, foi crítico de arte. Em equipe,
ganhou o Prêmio Esso de 1997, no Correio Popular. Autor dos livros “Por uma nova
utopia” (ensaios políticos) e “Quadros de Natal” (contos), além de “Lance
Fatal” (contos) e “Cronos & Narciso” (crônicas). Blog “O Escrevinhador” – http://pedrobondaczuk.blogspot.com. Twitter:@bondaczuk
Você nos ajuda a pensar.
ResponderExcluir