A nobreza da ficção
científica
A ficção científica é
um dos subgêneros literários mais recentes, em termos de tempo de existência, mas
que reputo entre os mais complexos e nobres da Literatura. Seu exercício não é
para qualquer um. Envolve, além das exigências naturais para todo escritor,
sólido conhecimento de ciências: de física, química, biologia, astronomia e vai
por aí afora. Além disso, seus produtores têm que ter, principalmente, o atributo
sem o qual nenhum ficcionista pode sequer ser considerado como tal: imaginação.
Muita imaginação. Afinal, lidam com o que não existe, mas que pode (ou não)
existir. Têm que dar um toque de verossimilhança ao que é rigorosamente inverossímil.
Não encarem esse “sub”
que citei acima como eventual menosprezo à ficção científica. Longe disso.
Entendam-no no sentido que eu quis lhe dar: no de mera divisão de um gênero literário
voltado exclusivamente à ficção, no caso o romance (alguns classificam-na como
uma espécie de novela). Acho estranho, portanto, o fato de alguns “experts” em
Literatura (escritores, professores, críticos, editores etc.) considerarem esse
tipo de história como “coisa menor”, sem relevância, voltado, somente, para
entretenimento, para “passar o tempo”, como se fosse algo acessível a qualquer
pessoa. Creia-me, caríssimo leitor, não é.
Outro preconceito
bastante comum é considerar as histórias
em quadrinhos como “coisas de crianças”. Houve tempo, até, que educadores
recomendavam que meninos e meninas fossem impedidos de terem acesso a essas
criativas peças ficcionais. Tremenda bobagem! Eu sou um dos tantos amantes de
Literatura que desenvolveram o gosto pela leitura lendo o que era conhecido, no
meu tempo de menino, como “gibis”. Isso não me afastou dos livros, como muitos
pedagogos de então garantiam que aconteceria. Pelo contrário, aproximou-me
irresistivelmente deles a ponto disso ter se tornado quase que obsessão.
Bendita obsessão!
No curso de uma
pesquisa para redigir estas considerações, topei com uma relação dos “dez
maiores escritores de ficção científica de todos os tempos”. Não contesto os
nomes incluídos. Oponho-me, porém, à conotação que o autor desse “ranking” lhe
deu. Não concordo com essa história de “maior” ou “menor”, com que se avaliam,
amiúde, os escritores. Aliás, discordo dessas classificações em qualquer
atividade. Em um mundo com tantas e tamanhas opções culturais (artísticas,
literárias, esportivas etc.), esse tipo de rótulo é injusto, porquanto, em
âmbito global, claro que não há só dez, ou cem, ou mil, ou mesmo um milhão de indivíduos
de altíssima capacidade criativa (felizmente) naquilo que fazem. Ademais, não
existe consenso a propósito. Depende do gosto de quem estabelece esse tipo de “ranking”.
Insisto que isso não
significa que eu discorde dos nomes relacionados. Só entendo que muitos,
muitíssimos outros, omitidos, mereceriam inclusão. Na citada relação (cujo
autor, infelizmente, não consegui apurar), o nome de H. G. Wells está no
topo. Justíssima lembrança. Afinal, sua “Guerra
dos Mundos” assustou um país inteiro, quando foi apresentada no rádio. Ademais,
a máquina do tempo que imaginou foi explorada por centenas de outros autores,
tempo e mundo afora. Incluo nessa (e em qualquer outra relação do gênero), dois
autores de histórias em quadrinhos, entre outros motivos, pelo seu pioneirismo.
Quais? Philip Francis Nowlan e Alex Raymond. Ah, você nunca ouviu falar deles?
Deveria! Se você tem por volta dos setenta anos (ou mais) e foi leitor de “gibis”
na infância, com certeza conhece seus principais personagens e se divertiu com suas
peripécias.
Nowlan foi o criador de
Buck Rogers. Trata-se do primeiro herói espacial das histórias em quadrinhos,
quando os foguetes não passavam, ainda, de mera fantasia, de simples
possibilidade teórica. As aventuras desse personagem, criado em 1928 com o nome
de Anthony Rogers, foram publicadas, por anos a fio, na revista norte-americana
“Amazing Stories” e reproduzidas no Brasil por editoras que detinham os
direitos de reprodução. Já Raymond criou um herói espacial (o segundo) tão
popular ou mais (creio que mais) que Buck Rogers: Flash Gordon, cuja primeira
aparição em histórias em quadrinhos se deu em 1934.
Outros escritores
mencionados no citado “ranking”, cada qual merecedor de extenso e detalhado
comentário exclusivo (que pretendo fazer, oportunamente), são: Isaac Asimov,
Júlio Verne, Arthur C. Clarcke, Philip K. Dick, George Orwell, Michael
Crichton, Richard Matheson, Poul Andersom e o brasileiro Jerônymo Monteiro. Já
escrevi sobre a maioria deles, posto que em outro contexto, que não o da ficção
científica. Como se observa, todos os citados tinham, reconhecidamente,
profundos conhecimentos de várias áreas de ciências (Asimov, por exemplo, se
não me falha a memória, chegou a ser indicado ao Prêmio Nobel de Química),
além, claro, de contarem com os atributos e habilidades de excelentes
escritores, de exímios ficcionistas. Foram campeões de vendas no mundo todo. Esgotaram
edições e mais edições de seus livros. Inspiraram filmes. Podem, acaso, ser
encarados como “escritores menores”, como muita gente os considera? Ora, ora,
ora.
Boa leitura.
O Editor
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