Desemprego caiu, mas subiu
* Por
Urariano Mota
O leitor olhe bem a imagem do gráfico acima. Existe alguma dúvida
de que em 2013 o percentual do desemprego no Brasil tenha caído para o seu
nível mais baixo? O leitor verá que essa pergunta não é assim tão estúpida.
Podemos até acreditar que não há dúvida de que 12,4 é maior que 5,4. Ou que, no
gráfico, o número 12,4 corresponda a 2003 na linha horizontal, assim como 5,4 a
2013. Para esse óbvio, haveria duvida? Há, porque na luta política os números
sempre dizem outra coisa, até mesmo contra as provas.
Quando toda a mídia divulgou a notícia “IBGE: Desemprego é o menor da
história” e continuou com a informação de que, em mais um ano de recorde de
desemprego, a Pesquisa Mensal do Emprego do IBGE havia registrado em 2013 a
menor taxa de desocupação do Brasil, houve, como é natural, a repercussão mais
negativa nos focos de oposição ao governo Dilma. Mas como, o IBGE teria
enlouquecido? E logo, logo, começaram a discutir os números. Acreditem,
passaram a tentar uma penetração na alma da porcentagem. Aquela, que imaginamos
existir na loucura que não aceita os fatos. Mas como alma dos números?
De imediato, reabilitaram a iluminação de um consultor da revista Exame,
que em um inspirado dia de 2010 declarara que o Bolsa Família mascarava os
números do desemprego no Brasil. "Para não perder a verba recebida, muitos
preferem continuar sem trabalho. Isto os exclui da População Economicamente
Ativa, e também dos números no cálculo do desemprego". Essas coisas uma
pessoa tem que ler com os próprios olhos, esfregá-los, para acreditar no que
viu. O que têm a ver Bolsa Família e População Economicamente Ativa? Pouco
importa, à margem do bom senso e da conhecimento, que buscassem uma entrevista
antes da pesquisa em 2014. Importam mais, no sentido de dar importância e de trazer
de fora, importam mais a cegueira e a miopia, como nestes comentários de
bárbaros na web:
“E os bolsa esmola, os que desistiram de procurar trabalho? Com quase
40% vivendo de favores do Estado com aposentadoria vitalícia, para que procurar
emprego?
Porque os quase 14 milhões de Bolsa família não entram no índice?
Teoricamente estão sem renda e sem emprego? ou são 14 milhões de fantasmas?”
A miopia ideológica estabelece relações entre fenômenos que não se
relacionam, na procura da alma dos números. Ela não vê a multidão de jovens com
idade de trabalhar, mas que não procuram de imediato um emprego, como um
fenômeno social, recente. Em vez de investigar uma razão fora da alma dos
números, preferem escrever, diria melhor, berrar, velhos preconceitos.
Assim, relacionam Bolsa Família e queda no desemprego. Como seria bom
que pesquisassem antes e vissem as informações disponíveis no site da Caixa
Econômica Federal. Lá se vê que somente as famílias em situação de extrema
pobreza podem acumular o benefício Básico e o Variável, até o máximo de R$
230,00 por mês. Isso é o suficiente para alguém viver e passar a curtir uma
doce malandragem? Ou para usar o último assalto à razão, passar a fugir do
número de desempregados no IBGE?
Parece que teremos sempre de refutar a mentira, a farsa do garçom de
Jarbas Vasconcelos. Vocês lembram da lendária personagem (me refiro ao garçom).
Segundo o senador Jarbas, numa entrevista à revista Veja, o empregado que lhe
servia em um restaurante largara o emprego para viver no bem-bom do Bolsa
Família. Sobre isso publiquei reportagem na Carta Capital e neste espaço Clique aqui
Apesar dos malandros do Bolsa Família, do garçom fantasma de Jarbas
Vasconcelos e da alma dos números, atingimos em 2013 o menor nivel de
desemprego de todos os tempos. Para essa queda, informou o jornalismo da Veja,
aquele cheio de conjunções adversativas:
“Contudo, vale ressaltar que este resultado não
engloba a nova metodologia que o instituto anunciou há duas semanas. Na
Pesquisa Mensal do Emprego (PME), a amostra de dados abrange apenas seis
regiões metropolitanas - Recife, Salvador, Belo Horizonte, Rio de Janeiro,
São Paulo e Porto Alegre. Na nova, serão usados detalhes da nova Pesquisa
Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), chamada pelos pesquisadores de
"PNAD Contínua".
Ou seja, agora vão comparar pesquisas com índices e métodos diferentes.
As feitas antes com as novas, que chegarão a resultados discordantes.
Pode? Pode, daí que também podemos concluir: o Brasil é o maior país da
América Latina, mas, porém, contudo, todavia tem
uma oposição que desrespeita até os números”.
*
Escritor, jornalista, colaborador do Observatório da Imprensa, membro da
redação de La Insignia, na Espanha. Publicou o romance “Os Corações
Futuristas”, cuja paisagem é a ditadura Médici e “Soledad no Recife”. Tem inédito “O Caso Dom Vital”, uma sátira ao
ensino em colégios brasileiros.
A cada dia mais gente se irrita com o bolsa família.
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