Pílulas literárias 184
* Por
Eduardo Oliveira Freire
O DUPLO
Encontrei meu duplo.
Apesar de sermos idênticos, há diferenças... Ele é mais sofisticado que eu e
tem uma ironia inteligente. Sou mais simples, como água cristalina. Mora numa
casa perto do lago e todas as terças-feiras toma chá com Machado de Assis e
Clarice Lispector em frente ao lago. Na realidade em que meu duplo vive, estão
vivos. Convidou-me também, mas não estou de férias do trabalho e nem sei como
chegar até ele, atravessando o labirinto vertiginoso das múltiplas realidades.
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QUEM É ELA?
“ Os dias passam, estou
bem aqui. A senhora sempre vem me dar comida e contar histórias. Quem é ela? A
casa em que estou é aconchegante, ao longe, ouço os pássaros no quintal e a
folhagem das árvores em contato com o vento. Sono, vou dormir de novo. Tudo
está calmo, sempre quis isso. A senhora me acorda e diz que preciso ir embora.
De repente, percebo-me nessa cama de hospital. Encontraram-me numa casa
abandonada e se surpreenderam com minha recuperação, estava bastante
debilitado.”
***
No lugar que ele foi
encontrado, havia um livro infantil jogado em um canto qualquer:
“ PASSANDO AS FÉRIAS
COM A VOVÓ...”
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DELICADA
Todos que a viam,
achavam-na um anjo. Não esperavam nenhuma malcriação dela, só boas maneiras.
Diziam sempre que era uma bonequinha de porcelana.
Um dia, a menina
apareceu na frente de toda a família, com o canarinho da avó estraçalhado na
boca. Pela primeira vez, sentiu-se viva.
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INCONGRUÊNCIA
Chora com facilidade
quando assiste a um filme que conta a história de um amor impossível.
Entretanto, na vida real, é intolerante com os erros dos outros.
* Formado em Ciências Sociais, especialização
em Jornalismo cultural e aspirante a escritor
Entre a doçura e o estrangulamento é um pulo. É um criar eterno com direito a altas doses de surpresa.
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