terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Pílulas literárias 184

* Por Eduardo Oliveira Freire

O DUPLO

Encontrei meu duplo. Apesar de sermos idênticos, há diferenças... Ele é mais sofisticado que eu e tem uma ironia inteligente. Sou mais simples, como água cristalina. Mora numa casa perto do lago e todas as terças-feiras toma chá com Machado de Assis e Clarice Lispector em frente ao lago. Na realidade em que meu duplo vive, estão vivos. Convidou-me também, mas não estou de férias do trabalho e nem sei como chegar até ele, atravessando o labirinto vertiginoso das múltiplas realidades.

@@@

QUEM É ELA?

“ Os dias passam, estou bem aqui. A senhora sempre vem me dar comida e contar histórias. Quem é ela? A casa em que estou é aconchegante, ao longe, ouço os pássaros no quintal e a folhagem das árvores em contato com o vento. Sono, vou dormir de novo. Tudo está calmo, sempre quis isso. A senhora me acorda e diz que preciso ir embora. De repente, percebo-me nessa cama de hospital. Encontraram-me numa casa abandonada e se surpreenderam com minha recuperação, estava bastante debilitado.”

***

No lugar que ele foi encontrado, havia um livro infantil jogado em um canto qualquer:
“ PASSANDO AS FÉRIAS COM A VOVÓ...”

@@@

DELICADA

Todos que a viam, achavam-na um anjo. Não esperavam nenhuma malcriação dela, só boas maneiras. Diziam sempre que era uma bonequinha de porcelana.

Um dia, a menina apareceu na frente de toda a família, com o canarinho da avó estraçalhado na boca. Pela primeira vez, sentiu-se viva.

@@@

INCONGRUÊNCIA

Chora com facilidade quando assiste a um filme que conta a história de um amor impossível. Entretanto, na vida real, é intolerante com os erros dos outros.

* Formado em Ciências Sociais, especialização em Jornalismo cultural e aspirante a escritor


Um comentário:

  1. Entre a doçura e o estrangulamento é um pulo. É um criar eterno com direito a altas doses de surpresa.

    ResponderExcluir