segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

Desperta!


* Por Núbia Araujo Nonato do Amaral


Quando menina questionava-me sobre o vento, o sol, a lua. Intrigavam-me as diferenças, umas gritantes outras disfarçadas pelo véu da cordialidade. Incomodavam-me certas afeições, entrelaçamentos. O peito me pesava e eu, menina, apenas chorava.

Cresci, a vida foi me empurrando e acomodei-me. Guardava apenas nos olhos o peso de uma vida que não me vestia bem, que não me calçava bem. Rezava o Pai Nosso e dormia, não havia mais nada a fazer.

Permissiva, contentei-me com migalhas, afinal há sempre um leque de exemplos, espelhos mil. O tempo tentava me dar tempo, levou minha mãe, obrigou-me a conviver num mundo com lágrimas e um enorme buraco no peito.

Minha irmã adoeceu,  senti  a dor na alma e o medo de não poder estender-lhe a mão, me sacudiu. Acordei, redescobri no sofrimento a fome e a sede. Descortinei um pesado véu, o do comodismo. Olhei-me com criticidade,  despi-me da ignorância. Sempre tive medo de seguir sozinha, sempre tive medo desse despertar...

Ainda sigo só,  pois a caminhada é única e as vezes dolorosa. Como a menina que outrora fui, ainda questiono, mas aprendi a ouvir as respostas. Torço para que o despertar seja contagioso, pois a alegria de viver apenas há de se completar na eternidade.

 * Poetisa, contista, cronista e colunista do Literário


Um comentário:

  1. Amargos momentos contados de forma digna e sincera, invocando palavras molhadas de poesia.

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