Memento
mori
* Por Paulo Henriques Britto
I
Nenhum sinal da solidão se vê
lá onde o amor corrói a carne a fundo.
Dentro da pele, no entanto, você
é só você contra o mundo.
Esta felicidade que abastece
seu organismo, feito um combustível,
é volátil. Tudo que sobe desce.
Tudo que dói é possível.
II
Luz frágil que brota no breu
e num rápido relance dá forma
e cor e corpo às coisas todas,
luz que se apega o pouco que pode
às aparências, acredita piamente
no sonho de substância que secretam,
luta com todas as parcas forças
contra o
conforto de apagar-se enfim
por trás
de duas implacáveis pálpebras.
Poeta, lingüista, professor e tradutor, autor dos livros “Liturgia da
matéria”, “Mínima lírica”, “trovar claro” e “Macau”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário