quarta-feira, 13 de novembro de 2013

O Dia do Monstro

* Por Raul Longo

Amiga minha enviou estes anexos, sugerindo manifestação de repúdio, mas acho que tive uma ideia melhor.

Todas as postagens aí anexadas aconteceram num dia 27 de outubro, por autoria de uma mostrenga que atende pelo facebook em nome de Maria Teresa Brigido.

Esqueçam o nome deste ser abjeto. É só mais uma deformação moral e intelectual qualquer. Mas como ando de saco cheio desse modismo de zumbis de outras eras assombrando nosso século 21, resolvi sugerir algo mais eficiente do que o dia disso, semana daquilo, mês de alguma coisa tão natural e cotidiana quanto ser gente. E resolvi instituir o 27 de Outubro como o Dia dos Monstros.

Afinal, pensem bem: Por que semana ou mês da Consciência Negra?

Porque Zumbi foi um herói? Sim, claro, foi heroico, foi digno, foi um personagem histórico que serve de exemplo para toda a humanidade, para todos os seres humanos do mundo. Evidentemente não o seria se não houvesse lutado contra os monstros de sua época. Tantos que aquilo de racismo e escravidão era considerado uma normalidade!

Felizmente a monstruosidade diminuiu muito de lá pra cá, mas ainda vagam por aí monstros a se comportar como se estivessem há séculos atrás. Como se ser tão atrasado fosse o normal. Esses deformados não conseguiram evoluir junto com a humanidade, não conseguiram chegar onde, como maioria, estamos.

Será mero anacronismo ou deficiência genética? Não importa. É uma evidente deformação e não dá para considerá-los como seres humanos normais, naturais, que mereçam o convívio comunal cotidiano.

Mas estão vivos, estão aí babando seus hálitos pestilentos até pela internet e têm de ser combatidos para que suas degenerescências não se expandam por toda a espécie, pois o retrocesso sugerido pela inconsciência que expõem seria o retorno à barbárie. E daí ao fim da humanidade é um passo!

Não há caminho de retorno para a humanidade: ou evolui ou se extingue. Já o monstro...

Mas o monstro é uma subespécie que apesar das aparências não se confunde com os seres humanos. No entanto pode ser contagiosa e quanto antes se isolar esse tipo de ser, melhor!

E como fazer? Campanhas de profilática conscientização como se faz no combate às drogas? Divulgar avisos de que se deixar desenvolver preconceitos racistas, homofóbicos ou o que seja, se acabará ficando pior que craqueiro?

Não dá nem para comparar! O craqueiro é lamentável, é quem requer atenção. O monstro não! O monstro é abjeto e só nos inspira repulsa.

No entanto, há de se convir que somos humanos e como humanos até pelos monstros temos comiseração. E como lidar com isso?

Tentar fomentar, estimular, promover alguma consciência humana no monstro é inviável! A prova é que estão aí, em pleno século 21, totalmente inconscientes do que seja ser humano. Então concluo que isso de datas para lembrar a importância de se reconhecer as diferentes condições humanas, é bobagem. Quem não é humano não pode reconhecer humanidade em condição alguma, pois sequer é capaz de reconhecer sua própria condição e passa a vida se acreditando humano, embora tão longe de conter qualquer coisa em si que se assemelhe a humanidade.

O monstro só reconhece sua própria monstruosidade e é tão sem noção da realidade que chega a imaginar na própria monstruosidade uma condição humana. Nunca perceberá a evidência do inviável!

Além disso, o que é Consciência Negra, por exemplo? Não existe cor de consciência. Ou o sujeito tem consciência de sua condição humana, seja qual for a cor de sua pele ou sua conformação física, ou o sujeito não é humano. É monstro!

E porque o mês da Consciência Negra? O normal, o natural, é todos terem consciência de serem humanos, negros ou brancos, a cada momento da vida! Ter noção de que toda criança negra, antes de ser negra é uma criança. Que toda mulher negra, antes de ser negra é uma mulher. Todo homem negro, antes de ser negro é um homem. Antes de ser negro e ancião, é um homem ou uma mulher.

Anciãos seremos todos se não formos infelicitados por uma morte prematura. Então, ser ancião é natural, o antinatural ou o sobrenatural é o monstro que desrespeita o ancião, que não tolera as naturais deficiências da idade. Esse é que se tornou deficiente antes mesmo de chegar a idade.

A mesma coisa o Dia do Índio. Muito bonito, afinal com os índios os europeus aprenderam a tomar banho, a cuidar da higiene do corpo. Infelizmente não aprenderam a respeitar a natureza tanto quanto deveriam ter aprendido, mas alguma humanidade aqueles colonizadores adquiriram no convívio com os índios e até se tornaram menos tristes.

Mas quantos monstros ainda existem por aí, amuados e infelizes em suas monstruosas condições de preconceituosos contra os índios? São sujos, fedem e dão nojo só de se estar perto desses monstros, embora tanto se assemelhem com humanos normais. Podem ser bastante parecidos, igualmente com pernas, braços, mãos, tronco e cabeça; mas mesmo sendo gestados e paridos igualmente, na verdade estão muito distantes da beleza e leveza humana de um índio.

E o Dia da Criança? Por que o dia da criança se todos fomos criança e ainda continuaremos sendo enquanto formos humanos? Quem deixa de ser criança são os monstros como esta Maria Teresa que, infelizmente, ao longo da vida desenvolveu a deformidade do racismo que hoje a impede de ser humana como são as crianças que não se distinguem das outras pela cor, tipo de cabelo ou formato de rosto. Não se distinguem entre si por nada! Não fazem distinção e entendem ao semelhante como por toda a vida somos capazes de entendermos nos demais alguém que em alguma situação nos valerá como apoio, como companhia, como o carinho de que todos necessitamos.

Até o monstro, apesar de monstruoso também é carente de carinho, mas como superar a abjeção que ele próprio provoca contra si? É preciso entender que o monstro não tem percepção de sua monstruosidade e faz ideia de que todos sejam igualmente monstruosos. Tanto que exibem e divulgam suas deficiências e excrecências mentais até pela internet, agindo como aquele garoto da piada que reclama à mãe por o terem chamado de monstro, enquanto enxuga as lágrimas do olho único no meio da testa.

Para que o monstro se reconheça como de outra espécie e, caso queira, se esforce por se tornar um ser humano normal, resolvi sugerir a instituição do Dia do Monstro. Acredito que será mais prático e produtivo do que comemorar um dia pra cada coisa.

Quer comemorar o Dia da Mulher, comemore. Mas não se esqueça de a cada 27 de Outubro mandar uma mensagem para o monstruoso machista que conhecer, perguntando se ao menos está tentando se tornar gente.

Comemore o Dia do Orgulho Gay, se quiser, mas perceba que não há motivo para orgulho maior algum e é apenas uma reafirmação da condição humana de todo homossexual. Que é a mesma condição humana de todo de todo heterossexual. E também de todo bissexual, transexual, e até assexual se for o caso porque todas as demais condições de nossa espécie estão muito aquém de nossa principal e valiosa condição que é a de sermos humanos.

Já os monstros como a Teresa Brigido não experimentam nenhuma condição humana. O monstro é só um monstro. Então mantenha sua sensibilidade humana e marque no calendário para no próximo 27 de Outubro telefonar ou mandar um cartão para o seu Bolsonaro mais próximo, desejando que um dia ele consiga se tornar um ser humano normal.

Mesmo o Dia do Trabalho! Porque o dia do trabalhador se como humanos somos comunitários? O normal é todos trabalharmos, de uma forma ou de outra, em prol da comunidade humana! Só os monstros se satisfazem vivendo as custas do trabalho dos outros sem fazer nada em benefício de ninguém! Então folgue no 1º de Maio, compareça a todas as comemorações em sua homenagem, mas no próximo 27 de Outubro não deixe de mandar seu lamento a pelo menos um vagabundo que explore o trabalho alheio. E avise-o que um dia terá de ser exterminado para que a comunidade humana continue seu caminho de evolução.

É por essa evolução a que como seres humanos nos dedicamos desde que descemos das árvores, que sugiro se instituir o dia 27 de Outubro da Maria Teresa Brigido como o dia daqueles que deixaram a consciência pendurada na árvore de nossos ancestrais e, ao pensar que se tornaram gente só porque pisam no chão, acabam não sendo nem macacos nem humanos. São só monstros.
Para eles e por eles sugiro o Dia do Monstro

*Raul Longo é jornalista, escritor e poeta


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