Momento
crítico da História
* Por Pedro J. Bondaczuk
O momento atual – quando recém se
completou a primeira década do terceiro milênio da Era Cristã –, é, com
certeza, o ponto crítico da História. Por qualquer aspecto que se encare o
futuro, este se apresenta nebuloso, sombrio e obscuro, com perspectivas
catastróficas para a humanidade, embora esta, na sua absoluta maioria, em
incompreensível e estúpida alienação, não se dê conta do perigo iminente que a
ameaça.
A atual civilização tecnológica
(ou seria financeira?), que tentam nos vender como panacéia para todos os
males, como a maravilha das maravilhas, como a única possível de assegurar vida
digna e racional à maioria dos habitantes da Terra, sem qualquer alternativa
melhor, fracassou.
E nem poderia dar certo, se
levarmos em conta, por exemplo, que o patrimônio pessoal de somente 358 pessoas
é maior que a renda anual de 45% da população mundial! Absurdo dos absurdos! E
não inventei esses dados. Eles constam do Relatório do Programa das Nações
Unidas para o Desenvolvimento divulgado em 2004. Notem bem, não me refiro a
três bilhões de pessoas, ou a três milhões ou até a 300 mil, mas a reles “358” ! Como pode subsistir um
sistema assim?! Não pode!
Tem mais. Como esperar que uma
“civilização”, em que as 200 maiores corporações, que representam um terço da
atividade econômica mundial, empregam, somente, 0,75% (menos de 1%) da mão de
obra disponível do Planeta, possa prosperar e se consolidar?! E o que dizer da
forma como esses 0,75% de privilegiados são tratados pelos patrões?!
O matemático, filósofo e ativista
político inglês, Sir Bertrand Russell (que não tinha papas na língua), fez a
seguinte observação, acerca desse tratamento, por parte dos que buscam manter,
a ferro e fogo, esta civilização tecnológica, em que o todo-poderoso mercado
foi alçado à condição de deus: “O liberalismo acha perfeitamente normal o
patrão dizer ao empregado: ‘morrerás à míngua!’. Mas não concorda se o
subordinado responder: ‘morrerás antes à bala’”. Como esperar que algo assim prospere
e dê certo?! Claro que não é possível!
Existem alternativas? Existem, e
muitas. Ocorre que nada de prático vem sendo feito para a substituição do que
aí está por algo melhor. E a tendência é a de piorar e de até se chegar a um
impasse que, provavelmente, acabará decidido pelas armas, pela violência cega e
irracional. E quem garante que nessas circunstâncias os vastos arsenais
termonucleares das potências atômicas não venham a ser utilizados? Aliás, nem é
necessária nenhuma insana decisão da sua utilização. Um acidente (que por
maiores que sejam as precauções, sempre é possível de acontecer), a qualquer
momento pode mandar tudo pelos ares. E ninguém se dá conta, ninguém se
preocupa, ninguém sai às ruas para protestar contra essa insanidade.
Pelo contrário, as pessoas
continuam, doce e passivamente, consumindo, consumindo e consumindo. E a
indústria segue produzindo, produzindo e produzindo. E a população mundial (o
um terço dela de privilegiados que tem acesso ao consumo, claro) prossegue
desperdiçando, desperdiçando e desperdiçando.
Ocorre que as principais
matérias-primas, que sustentam todo esse sistema econômico perverso e
predatório, não são renováveis e nem abundantes. Estão ficando cada vez mais
escassas nos países que as utilizam. Qual a alternativa? Avançar sobre as
reservas dos países miseráveis e fracos que, além de tudo, são indefesos.
Alguém acredita, bem no íntimo,
em sã consciência, que a invasão norte-americana ao Iraque foi, apenas, para
derrubar Saddam Hussein e restabelecer a democracia? Que a decisão foi tomada
para punir quem de alguma forma teve responsabilidade na destruição das
torres-gêmeas do World Trade Center de Nova York, em 11 de setembro de 2001?
Santa ingenuidade!
Quem crê nisso, deveria ler esta
declaração, feita pelo ex-secretário de Estado dos Estados Unidos, Henry
Kissinger, ainda nos anos 80: “Os países industrializados precisam ter, à sua
disposição, os recursos naturais não-renováveis do Planeta. Para isso, terão de
montar sistemas mais requintados e eficientes de pressão e constrangimentos que
garantam a realização dos seus objetivos”. Só faltou dizer, claramente,
portanto, que as potências devem pilhar os bens dos que os têm. Mas isso está
dito pelo menos nas entrelinhas.
Kissinger, no entanto, limitou-se
somente a reforçar a tese defendida por outro secretário de Estado
norte-americano, John Forster Dulles, que em meados dos anos 50 havia
declarado: “Há duas maneiras de se conquistar um país: pelas armas ou pelas
finanças”. As potências recorrem às duas.
É esta “democracia” que você,
leitor amigo, quer para os seus filhos e netos? É esta a civilização que se
pretende a ideal para a humanidade? É isto o que tantos e tantos querem que
dure?! É preciso ser muito inteligente para deduzir que tudo isso está com os
dias contados? Acredito que não!
Sonho com o período em que os
meus netos vão achar isto que aí está, que alguns consideram o suprassumo de
civilização, como grotesca e patética barbárie. Em que o homem aprenderá a
conviver com a natureza e, principalmente, será justo, solidário e altruísta em
relação aos semelhantes (a todos, e não apenas a parcos privilegiados).
Afinal, como o laureado escritor
francês Anatole France escreveu, no início do século passado: “O que os homens
chamam de civilização é o estado atual dos seus costumes e o que chamam de
barbárie são os estados anteriores. Os costumes serão chamados bárbaros quando
forem costumes passados”. Serão, de fato. Isto, se os homens não destruírem o
mundo antes!
* Jornalista, radialista e escritor. Trabalhou na Rádio Educadora de
Campinas (atual Bandeirantes Campinas), em 1981 e 1982. Foi editor do Diário do
Povo e do Correio Popular onde, entre outras funções, foi crítico de arte. Em
equipe, ganhou o Prêmio Esso de 1997, no Correio Popular. Autor dos livros “Por
uma nova utopia” (ensaios políticos) e “Quadros de Natal” (contos), além de
“Lance Fatal” (contos) e “Cronos & Narciso” (crônicas). Blog “O Escrevinhador”
– http://pedrobondaczuk.blogspot.com. Twitter:@bondaczuk
Excelente análise com gosto de quero mais. Não é a primeira vez que você nos mostra este seu ponto de vista. Muito bom, interessante e terrível. Quem sobreviverá?
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