Meus pais e eu (Parte I)
* Por
Fernando Yanmar Narciso
Cresci numa família onde a política é costumeiramente “O” tema de
pauta. Alguns tios meus participam ativamente da cena política da cidade; um
deles já foi vice-prefeito duas vezes, outro foi um dos responsáveis por fundar
o PT daqui, já tendo se candidatado a prefeito duas vezes. Logo, vocês podem
imaginar o quanto absorvi desse ambiente. Meus pais sempre exerceram uma grande
influência em minha ideologia política. Mãe foi uma das primeiras
montesclarenses a se filiar ao PT, e costumava trazer com orgulho uma
estrelinha do partido na lapela. Quando tinha cinco anos e Lula veio fazer um
comício na cidade, creio que ele até me segurou no colo.
Ah, as inesquecíveis eleições de 1989... Depois de vinte anos de governo
militar e dos cinco anos que foram o desastre de Sarney como nosso presidente,
o povo urgia por mudanças radicais. Lula, Collor, Brizola, Enéas, Silvio Santos
e mais dezessete Zé Graças participaram da primeira eleição a literalmente
dividir o país. Cada pessoa tinha sua escolha na ponta da língua e as campanhas
foram, acima de tudo, premiadas peças publicitárias. Quem não se lembra do
elenco da TV Globo e dos astros da MPB entoando o histórico hino “Lula-lá”, ou
das próprias chamadas do PT, com o nome de Rede Povo?
Mas o que realmente foi imortalizado nos anais da cultura popular foi o
trabalho de açougueiro que os editores do Jornal Nacional fizeram
com o último debate do 2º turno, chutando Lula nos bagos e endeusando Collor.
Depois daquela marmelada, virou um dito popular no exterior que, no Brasil,
quem elegia o presidente era uma emissora de TV. Depois da queda violenta do
cavalo na era Collor, tanto a Globo como o povo brasileiro varreram o playboy
pra debaixo do tapete e receberam FHC de braços abertos em 1994, devido à sua
maior “criação”, o Plano Real, que livrou temporariamente o país da inflação.
E minha família materna, quase toda petista fervorosa, assistia a tudo
de camarote, sem poder fazer muito a respeito. Lula se candidatou à presidente
duas vezes na década e perdeu, e mesmo assim tínhamos uma fé cega que a dita
esquerda no poder seria a solução mágica para os problemas do país, e
insistíamos em seguir em frente. Então, veio o inesquecível ano de 2002... Não
teve pra ninguém: O país não aguentava mais os almofadinhas tucanos no poder e
estava pronto para receber Lula em Brasília. Continuávamos um tanto ingênuos,
mas estávamos mais organizados e tínhamos maior apoio da população. As pessoas
nem cuspiam mais nos militantes nas passeatas!
Esse foi um dos melhores anos de minha vida. Como se não bastasse nossa
campanha do pentacampeonato no Japão, resolvi abraçar a estrela vermelha de
corpo e alma naquela campanha. Onde houvesse passeata ou carreata, lá estávamos
eu e minha mãe, sacudindo a bandeira vermelha e usando a foto de Lula na
camisa. É o mais próximo de uma glória de guerra que podíamos ter! Em casa, mãe
era a grande militante. Pai, apesar de na época apoiar o PT, é oriundo de uma
família basicamente de direita e preferia não entrar na trincheira, apesar de
já ter brigado com alguns em defesa de Lula e outros candidatos.
Depois de uma disputa acirradíssima, que levou cada envolvido à
exaustão, enfim Coroné Luis Inácio caminhou pela rampa do Congresso sem trazer
cartazes de FORA FHC e MARX É MEU SENHOR E NADA ME FALTARÁ. Um trabalhador
comum, sem escolaridade ou pistolão, era agora nosso presidente. Celebramos e
pagodeamos como, parafraseando o próprio, nunca na história desse país...
*Designer e escritor. Sites:
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Certo, com algumas ressalvas. Mas temos de considerar que você tinha apenas 5 anos naquela inesquecível campanha para presidente. A sua avó sempre foi a mais entusiástica petista de todos. Pedro Narciso foi deputado estadual, vice prefeito uma vez e secretário municipal e estadual algumas vezes pelo PMDB. Petronilho Narciso foi candidato a prefeito uma vez e a deputado uma vez pelo PT. O nosso entusiasmo e esperança estão bem documentados por você. Vejamos até quando a nossa ingenuidade prevalecerá.
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