A crucificação do professor
* Por
Arita Damasceno Pettená
Diz Brecheret: “Do rio
que tudo arranca, se diz violento, mas ninguém diz violentas as margens que o
comprimem!”. Realidade das realidades, o magistério se nos depara como esse rio
caudaloso, correndo sobre leitos indomáveis, enfrentando pedras em sua caminhada,
turvando suas águas com o sangue e o suor de um trabalho incessante e muito
pouco reconhecido, sem divisar, no horizonte, quaisquer vislumbres de
esperança. Comprimidos, pelas margens do poder, assistimos, estarrecidos, a
momentos críticos pelo desenrolar de nefastos acontecimentos que envolvem a
cúpula e o Congresso em corrupções realmente inomináveis. E perguntamos: até
quando esse rio vai correr sem devorar as margens opressoras, violentas,
dominadoras dos que “executam” almas no campo minado da insensibilidade e dos
muitos descalabros? Até quando esse rio vai correr sem dar o seu grito de inde
pendência, entre as margens poluídas dos que “legislam” em causa própria,
arrancando dos bolsos vazios do povo impostos que pagam as mordomias de suas
insolências e seus constantes voos por um céu em abandono? Até quando esse rio
vai correr sem dar um basta aos que dizem “fazer justiça” e navegam em águas
mansas e serenas sem descobrir, no fundo do poço, pobres páreas afundando em
dívidas, dúvidas e exíguas dádivas?
Sim, esse rio há de
correr até o dia em que a paciência naufragar pelos mares da miséria e
resgatada a dignidade de cada cidadão, formos capazes de transformar a máfia do
poder em escudos humanos na luta por nossos direitos.
Violentados em nossos
mais lídimos sonhos, triturados na máquina que reduz o homem ao pó de seu
calvário, moídos como o trigo que nem sempre chega ao altar da consagração,
nada caolha, que só enxerga do lado que lhe convém e esquece o que Peter
Drucker disse certa feita: “O reator da economia moderna não é a fazenda, não é
a fábrica, não é o banco. É a escola”.
Num artigo, ainda, do
saudoso Joelmir Beting, ele assim se pronunciava: “O sistema educacional
brasileiro está pregado na cruz”. E não precisa ser sexta-feira santa para
assistirmos, a cada dia, à crucificação em massa do magistério. Alguns
aposentam diplomas que a vocação expediu e preferem vender salgadinhos lá fora
a ter de aguentar classes numerosas, chicotadas do “patrão”, jornadas
impiedosas para receber, no fim do mês, nem a décima parte do que ganha o
porteiro do Congresso.
Enquanto isso vão
ficando nossos filhos entregues a professores estressados, apresentando algumas
delegacias um índice assustador de educadores em licença médica, porque não
conseguirem enfrentar mais uma jornada impiedosa e um aviltante salário. E
assim vai chegando este País às manchetes, incluso no quadro-negro de números
que nos envergonham e que o colocam numa situação que está muito mais para
submundo do que para qualquer lugar deste miserável mundo. Muito mais para
africano que para europeu, com 39% apenas de alunos que concluem o ensino
fundamental.
É hora de colocar
colírio nas pupilas, não do Senhor Reitor, mas do aprendiz governador que,
gritando, em campanha, ser saúde e educação prioridade de sua administração,
até hoje não deu sinal de aquecimento no sentido de tirar do patamar vergonhoso
em que jazem, há muitos e muitos anos, os míseros salários de nossos profissionais
da Educação.
*
Arita Damasceno Pettená é professora, escritora e membro da Academia Campinense
de Letras
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