Incontestável mestre da
ficção
O décimo escritor (na
ordem de publicação) a ter seu conto incluído na antologia “Histórias da Bahia”
(Edições GDR, Rio de Janeiro, 1963), que tomei por base para esta série de
estudos sobre alguns dos principais ficcionistas baianos, Herberto de Azevedo
Sales, é considerado pelos estudiosos (e pelos verdadeiros amantes de
Literatura), mestre da ficção. Pode ser classificado sem sustos, seja qual for
o aspecto em que sua vida e, principalmente sua carreira, sejam analisadas, um
vencedor no que se propôs a fazer. Venceu de fato.
Foi, por exemplo,
membro da Academia Brasileira de Letras, a que poucos têm acesso. Foi diretor do Instituto Nacional do Livro.
Comandou por vários anos a prestigiosa revista “A Cigarra”, dos Diários
Associados, que na sua época, fins da década de 1940 e meados da de 1950 do
século XX, uma das mais prestigiosas e bem-sucedidas publicações do seu gênero.
Foi, ainda, funcionário graduado de “O Cruzeiro” e por cerca de um quarto de
século, por 25 anos. Prestou inestimáveis serviços na administração pública,
como, assessor da Presidência da República no governo José Sarney. Exerceu
ainda a função de adido cultural do Brasil na França e vai por aí afora.
Títulos, cargos e funções
as mais variadas, portanto, não lhe faltaram. E muito menos prêmios literários.
Entre estes, destaco o Prêmio Coelho Neto da Academia Brasileira de Letras, o
Paula Brito, da Biblioteca Municipal do Rio de Janeiro, o Luísa Cláudio de
Sousa do Pen Clube do Brasil, o Jabuti da Câmara Brasileira do Livro etc.etc.etc.
Bem que poderia, sem nenhum exagero, ter pelo menos postulado (e, quem sabe,
ganhado) o Nobel de Literatura. Afinal, Herberto Sales é, ainda hoje, 14 anos
após a sua morte (ocorrida no Rio de Janeiro em 13 de agosto de 1999), um dos
escritores brasileiros mais conhecidos e mais traduzidos no exterior. Como se vê, não é pouca coisa. Há muito a se
escrever a seu respeito. Vários de seus livros circulam mundo afora em versões
romena, japonesa, inglesa, italiana, coreana, francesa e espanhola, entre
outros idiomas.
No entanto, no
Brasil... a despeito dos prêmios que recebeu, da folha interminável de serviços
que prestou e da extensa obra que deixou, tanto ficcional, quanto de não-ficção,
foram raras, raríssimas as vezes que vi seu nome citado até pelos mais doutos e
renomados historiadores de Literatura. E quando o mencionam, fazem-no “de
passagem”, como se ele se tratasse um “escrevinhador” qualquer, de “mais um”
entre outros tantos, o que está muito longe da realidade.
Espanta-me, assusta-me
e causa-me indisfarçável revolta a ignorância literária da imensa maioria dos
brasileiros. Constrange-me a falta de critério da maior parte dos
pesquisadores, que se debruçam sobre as biografias e as obras de autores pouco
representativos e omitem o que foram e o que fizeram os verdadeiros inovadores das nossas letras. A que será que isso ser
deve? À preguiça de pesquisar? A um indisfarçável preconceito? À incompetência?
Sabe-se lá! Creio que seja a tudo isso e a muito mais.
Só nesta série de
estudos, por exemplo, informal (já que não sou especialista na matéria) e
superficial (dada a carência de tempo para pesquisas mais aprofundadas e completas
e de espaço para esgotar o assunto), que sequer chegou à metade, já trouxe à
baila dez escritores (o décimo é Herberto Sales) da maior relevância para a
ficção regional cuja maioria é ignorada por quem não poderia ignorar. Creio
que, apesar da informalidade e da possível imprecisão dos meus textos,
comprovei, sem sombra de dúvidas, a relevância desses homens de letras. Ora, se
eu, que não sou especializado nesse tipo de análise, pude fazer isso, por que
os doutos “especialistas” não fazem? É o que me pergunto desde que iniciei esta
série. Dizem que não critico ninguém neste espaço. Pois aqui está o desmentido.
Estou criticando os omissos, preconceituosos e/ou incompetentes.
Desconheço como estas
(reitero) superficiais e incompletas considerações pseudoliterárias e nada
técnicas a que me propus a fazer são recebidas por você, caro leitor,
pretensamente interessado em Literatura (caso contrário não estaria freqüentando
este espaço destinado, especificamente, a este fim). Espero que, no mínimo,
seja com interesse, mesmo que não concorde com nenhuma das minhas colocações. E
que estes estudos sirvam, pelo menos, para esclarecê-lo, mesmo que seja apenas
parcialmente, para o fato de termos no Brasil escritores tão bons, se não
melhores, do que os tidos e havidos como bambambans das letras do exterior,
eternos candidatos ao Prêmio Nobel de Literatura, que jamais foi outorgado a
qualquer brasileiro.
Sem nenhum laivo de
xenofobia, entendo que, antes de ficarmos “babando ovo” para supostos mestres das letras
estrangeiros, que ademais nem sempre são corretamente traduzidos para o nosso
idioma e que expressam realidades que sequer são as nossas (e isso, quando
expressam), devemos conhecer e valorizar os nossos autores. Antes de pretendermos
conhecer o mundo, devemos buscar conhecer nossa própria “aldeia”, a que está
debaixo dos nossos narizes e na qual estamos inseridos. Certamente o leitor
conhece o que escreveu a respeito o português Fernando Pessoa, sob o heterônimo
de Alberto Caeiro, no poema "O Guardador de Rebanhos", versos que
cabem muito bem aqui:
"Da minha aldeia
vejo quanto da Terra se pode ver no Universo.
Por isso a minha aldeia
é tão grande como outra terra qualquer
porque eu sou do
tamanho do que vejo
e não do tamanho da
minha altura".
Boa leitura.
O Editor.
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