A dor das coisas
* Por
William Saroyan
Passei por uma casa
onde no começo da noite, estavam dando uma festa, mas agora ela estava às
escuras. Eu havia levado um telegrama para aquela casa umas horas antes. Você
sabe o tipo de telegrama. Depois de passar pela segunda vez na frente da casa,
eu fui pedalando até o centro e olhei
todas as casas e todos os prédios com muita atenção. Olhei com muita atenção todas as ruas e todos
os lugares que conheço desde que era pequenininho e vi um monte de gente. E
então eu finalmente vi realmente Ithaca e realmente conheci as pessoas que
vivem em Íthaca. Senti pena deles e rezei para que nada de ruim
pudesse acontecer a eles. Depois disso, parei de chorar. Pensei que um sujeito
não choraria nunca depois que crescesse. Parece, no entanto, que é quando o sujeito cresce que ele começa a
chorar porque é quando começa a entender o significado das coisas. – Ele parou
por um momento e quando voltou a falar sua voz estava ainda mais grave.
Esperou por algum comentário da mãe, mas ela não disse nada e continuou trabalhando na pia, de costas para ele.
Esperou por algum comentário da mãe, mas ela não disse nada e continuou trabalhando na pia, de costas para ele.
– Por que é que as coisas são assim? – ele
perguntou.
A Sra. Macauley começou
a falar, ainda de costas.
- Você vai descobrir.
Ninguém pode responder à tua pergunta. Cada pessoa precisa descobrir a resposta
por si mesma, trilhando o seu próprio caminho porque todo ser humano é um
universo em si mesmo. Cada homem é o mundo.
- Por que
foi que eu chorei e por que, depois de parar de chorar, eu não consegui falar?
Não havia nada que eu pudesse dizer? Não havia nada que eu pudesse dizer para
ninguém? Nada para dizer para você ou para mim mesmo?
-
Compaixão. – disse a Sra. Macauley. – Suponho que você chorou por sentir
compaixão. Se um homem não sente compaixão pelos seus semelhantes, ele não é
verdadeiramente um homem. Se o homem não chorou pelas dores do mundo, ele é
apenas meio homem e sempre haverá dores neste mundo. Mas não é por saber disso
que o homem deve desesperar. Um homem bom procurará sempre retirar a dor de
todas as coisas. Um tolo não perceberá a dor a não ser que ele a esteja
sentindo. E o pobre homem que não teve a sorte de ter encontrado um homem bom
na sua vida se tornará mau. Este desafortunado homem fará a dor penetrar sempre
mais profundamente em todas as coisas e espalhará a dor por onde andar. Todo
homem, porém, acredito eu, é inocente, porque não pediu para vir a este mundo.
Ele não veio novinho em folha de lugar algum ou de nada. Ele veio de gente. Eu
realmente não acredito que as pessoas más saibam que são más. Elas não têm
sorte e isso é tudo. Agora tome o seu café da manhã como uma pessoa sensata.
De repente,
Homero achou natural comer e enfiou a colher na tigela de aveia com leite.”
*
Escritor e dramaturgo norte-americano
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