Obama, Nobel da guerra
* Por
Frei Ildo Perondi
Segundo Otto von Bismark (1815-1898) "Nunca se mente tanto
quanto antes de eleições, durante uma guerra e após uma caçada". Como
não estamos em época de eleições, e as caçadas estão proibidas, é lógico que vamos
falar das mentiras dos tempos de guerra.
Barak Obama recebeu o prêmio Nobel da Paz não por aquilo que fez, mas
por aquilo que deveria fazer. Foi o primeiro caso que se concedeu um prêmio
Nobel assim, e espero que seja o único. Ele não merece este prêmio, mas não vai
renunciar a ele. O “homem da paz” está empenhado em fazer guerras,
infelizmente. Em 2006 os USA definiram que vários chefes de estado no Oriente
Médico deveriam ser derrubados. Alguns já caíram. E chegou a vez de Bashar al
Assad da Síria, porque, segundo o império, ele é um ditador.
A alegação que é um ditador me parece estranha. Primeiro porque na
região, há outros ditadores mais despóticos, como o da Arábia Saudita e do
Catar, mas como eles apoiam os USA não são considerados ditadores. Também é
estranho que os USA tenham assim tanto ódio aos ditadores se foram justamente
eles que, décadas passadas, derrubaram vários presidentes legitimamente eleitos
pelo povo e implantaram ditaduras que mataram, torturaram em toda a América
Latina. E estas ditaduras antidemocráticas e torturadoras foram apoiadas e
sustentadas pelos USA até o momento que lhe interessavam.
Mas a alegação é o Bashar al Assad fez uso de armas químicas contra a
população. Sou contra o uso destas e de todas as armas químicas. Mas tenho
bastante dúvidas que estas armas tenham sido usadas por Assad e desconfio que
tenham sido usadas pelos rebeldes. Por que iria Assad usar estas armas no
momento em que estava vencendo os rebeldes? É como se o time estivesse ganhando
de 5 x 0 e, faltando cinco minutos para terminar o jogo, fosse bate no juiz.
Mas, minha pergunta é que moral têm os USA de criticar quem utiliza
armas químicas? Qual foi a única nação neste planeta que teve coragem de jogar
bombas atômicas sobre populações indefesas? As bombas atômicas lançadas pelos
USA sobre Hiroshima e Nagasaki foram o maior crime contra a Humanidade que já
ocorreu na face da terra! E quem foi o país que jogou o agente químico Napalm
sobre as plantações de arroz e sobre o povo do Vietnam? Estes ataques químicos
deixaram sequelas terríveis na população. Quando se investigarão os crimes
cometidos pelos solados USA no Iraque, no Afeganistão e tantos outros países?
De que país foram os soldados que torturaram e urinaram sobre corpos de pessoas
e sobre livros sagrados? Qual é o país que mantém prisões onde se torturam como
em Guantánamo?
Além do mais, se o governo da Síria usou armas químicas, cabe às
organizações internacionais investigar, julgar e punir. Mas quem disse que são
os USA os xerifes do mundo? Que prepotência é esta em que os mais fortes devem
dizer o que é certo ou errado? Qual é o direito que têm em fazer isso? Quando
falta a força do argumento, usa-se o argumento da força.
Em nome da democracia, dos direitos humanos praticam-se mais violência.
Por trás das mentiras da guerra está a prepotência do imperialismo. Tão brutais
e destruidoras como são as armas químicas são também as armas da mentira e da
ideologia, que hoje através das agências de notícias controladas e manipuladas,
espalham as informações destorcidas para legitimarem o uso das armas de guerra.
E qual é o país que hoje se julga no direito de invadir a privacidade de
chefes de estado, mas até do cidadão mais comum? O último e-mail que você
recebeu pode ter sido lido pelo serviço de inteligência e espionagem USA, para
quem somos todos potenciais terroristas.
O objetivo da guerra contra a Síria é o controle geopolítico da região.
Além do jogo sujo da indústria das armas que quer testar os novos armamentos.
Bem o disse, o “Nobel” que esta guerra será diferente. Sim, nenhum soldado USA
morrerá, pois as armas serão novas diferentes, drones modernos contra um
pobre país que não terá como se defender.
Milhões de bombas, mísseis, foguetes serão despejados contra a Síria nos
próximos dias. Ninguém saberá o número de mortos, das famílias separadas,
divididas, destroçadas. Por onde passou este inferno USA não surgiu nenhuma
democracia melhor do que os ditadores que tentaram derrubar. Mas além das
pessoas que serão vítimas, pensemos também na Mãe Terra, que não pediu e não
merece sofrer o impacto das superbombas destruidoras, nem a destruição da vida
de tantos milhões de microrganismos da natureza.
O mais triste que tudo isso esteja sendo conduzido por um “Nobel da
Paz!”. Falso e mentiroso, como todos os homens da guerra. Que um novo título
lhe seja dado para sempre. Barak Obama: Nobel da guerra, Nobel da mentira!
*
Sacerdote católico
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