Histórias da Bahia
A Literatura brasileira
é riquíssima, porém, é rigorosamente desconhecida por nós próprios, os brasileiros,
pelo menos em toda a sua extensão e riqueza. E sequer refiro-me aos clássicos,
aos autores do século retrasado, por exemplo, boa parte dos quais é estudada
nas escolas. Ademais, nem estes são conhecidos e entendidos devidamente.
Imaginem os que sequer constem de boas (mas escassas) antologias e nem integrem
livros de leitura de alunos de primeiro e segundo grau de nossas carentes redes
de ensino!.
O desconhecimento é
tamanho, que até especialistas em Literatura, professores e críticos,
confessam, ou são forçados a confessar, quando se lhes apresenta determinado
autor, de regiões mais distantes que tenha feito sucesso em âmbito regional (mas
que no plano nacional não passam de ilustres desconhecidos, mesmo tendo a
ostentar obras de grande relevância e inquestionável valor literário) seu
contundente desconhecimento. Os próprios escritores do Sul, por exemplo,
desconhecem a produção de colegas do Norte (ou Nordeste, Centro Oeste, Sudeste
ou Leste, não importa) e vice-versa. Mesmo com as recentes facilidades
tecnológicas de comunicação, essa continua sendo a realidade brasileira, embora
ela tenha melhorado muito em relação, por exemplo, a apenas dez anos. Todavia,
ainda é insuficiente.
Até os escritores mais
recentes, que publicaram obras marcantes há, digamos, cinqüenta anos, que não é
tempo tão longo assim, passam batidos, salvo um ou outro que teve a ventura de
contar com relativa divulgação da mídia para suas respectivas obras. Ocorre que
o País é enorme (o que, óbvio, não é novidade para ninguém), com dimensões de
um continente. Só que os Estados Unidos, por exemplo, também, o são e lá esse
desconhecimento, embora exista, é muito menos acentuado do que aqui, no Brasil.
Ora, se nem os principais autores regionais são familiares aos leitores e
especialistas em literatura brasileira, imaginem os estaduais, fora dos limites
dos respectivos Estados! Aliás, essa ignorância, posto que compreensivelmente
menor, é realidade inclusive no âmbito das
próprias unidades da Federação. As causas são múltiplas, mas a principal é
sempre a mesma: falta de divulgação. Livro é tratado como “bem supérfluo”,
embora, sem dúvida nenhuma, não o seja.
Um dos Estados com
literatura riquíssima é a Bahia. E sequer me refiro aos seus poetas, do passado
e atuais. Concentrei minha atenção em seus ficcionistas, alguns dos quais são
conhecidos e admirados não somente além fronteiras estaduais, mas até além
internacionais, como são os casos específicos de Jorge Amado e de João Ubaldo
Ribeiro, para citar apenas dois dos seus maiores astros literários. Resolvi,
pois, fazer ligeira pesquisa, sem o rigor dos especialistas, sobre alguns
escritores baianos que lidam especificamente com ficção. Para facilitar minha
tarefa, concentrei-me em contistas. E para torná-la mais fácil ainda, tomei,
como referência, como ponto de partida, a antologia “Histórias da Bahia”.
Trata-se de um livro
lançado, pelas Edições GDR do Rio de Janeiro, há exato meio século, em 1963,
época em que o adquiri e o li pela primeira vez. É uma obra muito bem cuidada,
com prefácio de um dos ficcionistas selecionados e cuja obra é tão relevante,
que não precisa provar mais nada para ninguém, ou seja, Adonias Filho. A
própria capa da antologia é, por si só, obra de arte, de autoria do artista
plástico argentino mais baiano que já existiu, Hector Julio Paride Bernabó, o
excepcionalíssimo (no sentido de excelência) Carybé.
O livro reúne contos de
23 escritores da Bahia, muitos dos quais, na época da publicação, eram quase
estreantes no mundo das letras, e, praticamente a totalidade se consagrou, boa
parte dos quais sendo eleita em algum ponto de suas carreiras para a Academia
Brasileira de Letras. Vários (a maioria) já morreram e os remanescentes (pouquíssimos)
são hoje nonagenários ou quase. Trata-se de um “timaço” de primeiríssima linha,
integrado por: Adonias Filho, A. Mendes Netto, Ariovaldo Matos, David Sales,
Deoscóredes M. dos Santos, Dias da Costa, D. Martins de Oliveira, Elvira
Foeppel, Hélio Pólvora, Herberto Salles, James Amado, João Ubaldo Ribeiro, Jorge
Amado, Jorge Medauar, José Pedreira, Luís Henrique, Nelson Gallo, Noênio
Spínola, Ruy Santos, Santos Moraes, Sônia Coutinho, Vasconcelos Maia e Xavier
Marques. Este último foi o único incluído na antologia que quando da seleção de
contos já havia morrido.
Fiz ligeiro estudo sobre
cada qual deles – alguns com maior profundidade, outros com referências
escassas – de acordo com o que consegui descobrir sobre a carreira de cada um
deles em minhas pesquisas. São estes comentários à margem que pretendo
partilhar com você, assíduo leitor, com o objetivo específico de demonstrar
quantos e bons ficcionistas a Bahia já revelou, embora a amostragem seja, no
máximo, 5% dos que poderiam e deveriam ser personagens de minhas bem
intencionadas, posto que toscas, avaliações de amante das letras. Aguardem.
Boa leitura.
O Editor
Acompanhe o Editor pelo twitter: @bondaczuk.
Não deveríamos mas somos uns ignorantes no sentido de desconhecer. Eu não conheço nem os montes-clarenses da Academia Montesclarense de Letras. Pode? Mas vamos tentando sanar essa falha.
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