Raro poder de
convencimento
A jovem escritora
Caroline Veiga Celeste Rocha conseguiu, com sua trilogia “Vampiros”, uma
façanha que muitos veteranos em Literatura, escritores profissionais, que vivem
exclusivamente do rendimento dos seus livros, com sólida reputação, com
complexa estrutura ao seu redor e grande equipe a lhe dar suporte, encontra
dificuldades: tornar minimamente verossímil um tema absolutamente inverossímil.
Prender a atenção de leitores que não apreciem esse tipo de assunto (aí é que
está seu maior mérito, mas não o único), os “convencer” e fazer com que eles
até cheguem a acreditar que os personagens e suas respectivas peripécias,
rigorosamente impossíveis, adquiram, aos seus olhos, caráter de possibilidade.
Isso se deve, principalmente, ao fato do enredo que engendrou não conter a
mínima contradição, o que, por si só, é façanha das mais admiráveis.
A trilogia é composta, respectivamente,
das seguintes partes: “A união”, “A missão” e “A sucessão”. Foi programada para
que cada uma delas constituísse um volume independente, a parte, embora, óbvio,
as três estejam rigorosamente interligadas por um nexo causal. Eles formam, em
conjunto, uma estrutura coesa, uma história única, com começo, meio e fim.
Aliás, o epílogo até que fica no ar, porquanto a autora sugere, nas
entrelinhas, que a saga deva (ou vá) continuar. Seria uma promessa de Caroline,
de que as peripécias de Sabrina (personagem central do enredo) terão continuidade?
Deduzo que sim. Se for, e tiver a mesma qualidade, será muito bem vinda.
Ressalte-se que o tema “vampiros”
não é novo. Aliás, muito pelo contrário. Por exemplo, em um rápido levantamento
que fiz primeiro nos meus arquivos pessoais e, depois, na internet, pude
catalogar, praticamente sem nenhum esforço, pelo menos cinco dezenas de livros
e de autores sobre o mesmo assunto, Desde “Drácula”, de Bram Stocker
(considerado clássico do gênero), à saga “Crepúsculo”, de Stephenie Meyer,
praticamente tudo o que se pudesse dizer sobre esses seres imaginários (e aqui
não me refiro a morcegos e a outros eventuais hematófagos, mas a supostos
humanos que se desumanizem) foi dito. Foi? De jeito nenhum!!! Caroline que o
diga!! A imaginação não tem limites. Quando se pensa que ela já se esgotou, ou
que está no limite do esgotamento, se descobre, surpreso, que ela mal está
começando.
A história arquitetada
(e habilmente desenvolvida) pela jovem escritora paulista, não guarda a mínima,
a mais remota semelhança com qualquer enredo dos tantos e tantos livros que
abordam esses seres imaginários, que tanto excitam a imaginação de tanta gente
mundo afora. Habilmente, Caroline define, como cenário da história que conta (com
tamanha habilidade) um local familiar ao seu público alvo: Paulínia, cidade de
pouco mais de cinqüenta mil habitantes, com características tanto de localidade
interiorana, quanto de metrópole, dada sua proximidade com Campinas, da qual,
aliás, se desmembrou quando conquistou autonomia. Seus personagens “transitam”,
naturalmente, pelas ruas, praças e avenidas paulinenses, freqüentam seus bares
e restaurantes, pagam suas contas em suas agências bancárias, enfim, fazem tudo
o que qualquer cidadão local faz e... claro, muito mais.
Todavia, não restringe
a atuação dos seus vampiros a esse único cenário. Faz com que se movimentem,
quando o enredo exige, por outras localidades brasileiras (como o Guarujá e Foz
do Iguaçu), de países vizinhos (como Buenos Aires) e de outras partes do mundo
(como Las Vegas, Veneza e Paris, por exemplo). Isso, certamente, exigiu-lhe
intensas pesquisas, já que essas cidades não fazem parte da sua experiência diária.
Claro que não vou resenhar seu romance, porquanto esse não é meu objetivo. Reitero,
todavia, minha sugestão para que o leitor adquira seu livro.
Embora entenda que
talento não tem idade (ou a pessoa o tem, ou não o tem, não importa se com 14 anos,
como no caso de Caroline, ou se com 80, 90 ou cem), não posso me furtar de
destacar esse aspecto, pelo seu inusitado. Lembro que a despeito de ser
escritor, sou, basicamente, jornalista. E um dos axiomas que circulam nas
várias redações do mundo, é caracterizado pela seguinte afirmação: “Se um
cachorro morde o homem, isso não é notícia, a menos que a mordida cause estrago
irreparável, já que este é um hábito até instintivo do animal. Mas, se ocorrer
o contrário, ou seja, se o homem morder o cachorro, aí sim será notícia”. É o
caso de Caroline. Ou seja, sua façanha caracteriza o inesperado, o surpreendente,
o inusitado.
Raciocinemos. A
escritora norte-americana Stephenie Meyer é a autora de uma saga das mais
bem-sucedidas e badaladas tendo por tema vampiros. Seus quatro livros – “Crepúsculo”,
“Lua Nova”, “Eclipse” e “Amanhecer” – venderam milhões de volumes mundo afora.
Na última vez que fiz um levantamento a respeito, e já faz muito tempo,
estimava-se que já havia vendido, em conjunto, mais de 150 milhões de
exemplares. Não duvido que essa cifra, hoje, gire em torno do dobro ou mais. Além
disso, os quatro livros já haviam sido traduzidos na oportunidade para cerca de
40 idiomas. E permaneceram por 235 semanas consecutivas no topo dos best-sellers
do prestigioso jornal “The New York Times”. Isso sem falar nos filmes, baseados
na saga, que renderam vários milhões de dólares (talvez até bilhões) em
bilheterias de cinemas através do mundo.
Pois bem, Stephenie, hoje,
está próxima de completar 40 anos (nasceu em 24 de dezembro de 1973). Supondo
que seus livros tenham sido escritos há dez anos, ela estaria com 29 anos de
idade na ocasião em que redigiu o primeiro, o que já foi considerado uma
façanha. Mas Caroline escreveu seu romance (que, guardadas as proporções, não
fica nada a dever à obra da escritora norte-americana) com 14 anos de idade! Ou
seja, com menos da metade da consagrada autora do citado best-seller internacional.
Entenderam por que a idade é relevante, pelo menos neste caso? Entenderam a razão
do meu entusiasmo mesmo não sendo adepto (na verdade, detesto) histórias,
digamos, sobrenaturais? Mas do livro de Caroline gostei. E não somente pela idade
da escritora, enfatizo este ponto, mas pela fluência, ritmo e perfeição nas
descrições e diálogos do seu texto, características que são frutos do seu
estilo coloquial, correto e convincente.
Boa leitura.
O Editor
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