E a família?
* Por
Paulo Reims
Quando menciono a
família, não me refiro exclusivamente ao tradicional pai, mãe e filhos(as).
Estou contemplando todas as composições familiares, que devem ter presente os
valores antigos e novos, para que sejam ninhos de aconchego, ternura e calor
humano.
Quantos problemas
pessoais e sociais poderiam ser sanados se buscássemos resgatar valores que
para muita gente e para a sociedade parecem ultrapassados e desnecessários!
Quantos fatores criados por nós mesmos, a partir de princípios e paradigmas de
uma sociedade consumista, vieram abalar a personalidade, e também as relações
pessoais, familiares e sociais!
Tomemos como exemplo os
meios de transportes. É comum famílias disporem de tantos veículos quantos
forem os membros das mesmas. Podemos até dizer: é o progresso que chegou! Mas
somente este fator nos leva a várias conclusões desagregadoras: a mobilidade
humana, nas cidades, leva, na verdade, a uma imobilidade. O trânsito fica
sempre mais lento, e assim o tempo que perdemos nas estradas, nos priva do
convívio familiar. Cada membro sai e chega a casa em horários diferentes,
causando desencontros nas refeições e, consequentemente, nos diálogos tão
necessários para manter a coesão, a afetividade familiar.
Cada pessoa faz um programa
particular, ou seja, a casa, que deveria ser o recanto gostoso de encontro e
aconchego, se transforma em uma pensão, onde os laços familiares são rompidos,
e aí começa a solidão que vai levando as pessoas a desenvolverem patologias.
Não basta viver sob o mesmo teto, por algumas horas, para caracterizar uma
família feliz.
Vivemos como se
estivéssemos distantes e nos relacionássemos, pela facilidade da tecnologia de
ponta, apenas com palavras de incentivo e de carinho, de forma virtual,
faltando o calor do abraço, da presença real, da fraternura, do acolhimento
mútuo, enfim, daquele contato pessoal que refaz nossas energias e extirpa a
solidão, que com o tempo vai gerando indiferença e depressão, muitas vezes
levando ao limite da perda do sentido da vida.
É salutar repensarmos
seriamente os nossos valores, conceitos, relacionamentos, consumismo, para que
tenhamos famílias não diria padronizadas, mas humanizadas, e uma sociedade
feita de gente solidária e não solitária.
Os consultórios de
todos os tipos estão sobrecarregados, especialmente os daqueles profissionais
que tratam de problemas psíquicos. Porém, não podemos ficar tratando somente os
problemas, é preciso ir às causas.
Assim, é urgente rever
nossos hábitos particulares, familiares e sociais para recuperarmos o
verdadeiro sentido da vida, e assim seguir nosso caminho que deve ser
construído de solidariedade, de encontros calorosos, que nos devolvam a alegria
de viver. É possível, embora difícil, uma readaptação, basta um pouco de
esforço e sacrifício, que mais à frente serão recompensados.
Ninguém se basta a si
mesmo; não adianta teimar. Ficaremos doentes inevitavelmente e, como
consequência, construiremos uma sociedade doente, pois cada um dá aquilo que
possui.
Poderemos tentar viver
a autossuficiência, e provarmos que não ficaremos depressivos, mas ficaremos
frios e calculistas, o que não deixa de ser uma grave patologia.
Todavia, não
confundamos bastar-se a si mesmo, com viver só. Posso viver sozinho e não ser
solitário, como posso viver com outros e não ser solidário. Sejamos fraternos e
solidários, por famílias e sociedade mais saudáveis e agradáveis.
*
Jornalista
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