sexta-feira, 5 de julho de 2013

No Sopro do Minuano

Nome

* Por Rodrigo Ramazzini

Em uma rodoviária, Flávio aguardava o embarque no ônibus que o levaria a sua terra natal, quando foi abordado:

- Ô, Breno! Tu por aqui. Quanto tempo! Que surpresa boa. Bom te ver mesmo, meu amigo! Como vão as coisas, Breno?
- Tudo tranquilo! Só uma coisa: eu sou o Fla...
- Como vai a família, Breno?
- É Fláv...
- Faz tempo que eu não vejo o teu irmão. Como anda aquela fera, Breno?
- É Flávio! Meu...
- E o teu pai, Breno? Jogando muita bocha ainda?
- O pai...
- E a mãe?
- A mãe...
- A vida leva cada um para um lado né, Breno? Para a gente se ver só assim mesmo...
- Pois é...
- Já está com quantos filhos, Breno?
- Flávio.
- Nome bonito do teu filho...
- È o meu...
- Grande, Breno! Bom te ver mesmo. Continua no mesmo emprego?
- É... É... Flávio, viu?
- Emprego bom hoje em dia está difícil mesmo...
- É...
- E o futebol? Largou, Breno?
- Flávio.
- Eu jogo uma bolinha aos finais de semana com o pessoal... Lá no campo da vila. Vê se aparece um dia, Breno...
- Eu sou o Flávio. Não Breno...
- Putz! Viu ali, Breno? Os ônibus quase se bateram...
- É...
- Também, tem uns motoristas que vou te contar, Breno...
- É... Flávio...
- Como eu ia te dizendo, Breno... Aparece lá!
- Tá.
- Certo que com esse frio está brabo, né Breno?
- É... Desisto!
- Bom! Vou indo ali que o meu ônibus já vai sair. Bom te ver mesmo, Breno! Manda um abraço para todos lá!
- Pode deixar...
- Tchau, Breno!

Sozinho novamente, Flávio faz a constatação e resmunga para si mesmo:

- Bah! O cara trocou o meu nome o tempo todo... Aliás, quem será essa cara? Filho da mãe... Odeio quando trocam o meu nome. É Flávio, pô! Flávio! Ainda, vem cheio de intimidade... Ah! Vai para puta que pariu!

Neste instante, Flávio é surpreendido por uma nova abordagem.

- Grande, Flávio! Como vai o amigo?
- Ô Manoel! Tudo tranquilo! E contigo?
- Tudo bem, também... Só o meu nome é Marcos, Flávio!
- Putz! Claro, Marcos! Me desculpa! Onde ando com a cabeça? Deve ser a idade... Memória já falhando... Me desculpa!
- Não esquenta a cabeça! Isso acontece com todo mundo o tempo todo de esquecer ou trocar nomes...
- Pois é...
- Mas, diga-me uma coisa: o que estava resmungando aí quando cheguei?
- Nada! Nada não... Coisa minha... E a família, como vai?


* Jornalista e contista gaúcho

Um comentário:

  1. Esquecer nomes ou trocá-los é um fraco bem comum. Trocar rostos já é mais raro.

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