E o Presidente Evo Morales?
* Por
Paulo Reims
Estimado irmão Evo,
digníssimo Presidente da República Plurinacional da Bolívia. Tenho escrito e
falado, em muitos espaços, de vários presidentes da nossa amada América dita
Latina. Sobre você, confesso, ainda não havia escrito. Somente fiz um pequeno
aceno sobre você, na matéria intitulada “E a espionagem?”, que escrevi na
semana passada, pois enquanto escrevia me chegava a triste notícia do que lhe
sucedeu ao regressar de sua missão oficial na Rússia.
Evo, lhe chamo de irmão
porque desde que me chegou a fatídica notícia de que lhe negaram espaço aéreo
em vários países da Europa, violando o artigo 40 da convenção de Viena de 1961,
sintonizei a Telesur (http://www.telesurtv.net/el-canal/senal-en-vivo), e busquei
acompanhar todos os desdobramentos deste infeliz acontecimento. Percebi em suas
alocuções que você usa muito a termo hermano (a). É muito agradável ouvi-lo
falar deste modo simples, próprio de um homem que não nega suas raízes, ou
seja, o ser indígena. Também não aprecio algumas formas de tratamento,
sobretudo porque não são verdadeiras, pelo contrário, são carregadas de
hipocrisia. Certamente você lembra que o Mestre Jesus de Nazaré disse várias
vezes, referindo-se às autoridades de uma seita do judaísmo, fariseus
hipócritas. Uma vez eu assistia a uma seção do Senado do Brasil e ouvi uma
senadora que usou a forma de tratamento excelência para outro senador, mas ela
usou a forma de tratamento acompanhada de um qualificativo que ele bem merecia:
“Vossa Excelência é um canalha”. Foi um momento muito hilariante, apesar de
refletir bastante a realidade da maioria dos políticos deste e de outros
países. Eu nunca apreciei estas formas de tratamento, e a partir de então sinto
aversão por este e outros pronomes de tratamento. Excelência mesmo tem o nosso
povo simples e trabalhador, feito de irmãos e irmãs que buscam ser fraternos e
solidários, nos momentos bons e especialmente nos momentos difíceis, como este
pelo qual você e sua comitiva passaram.
Quero lhe dizer, Evo,
meu irmão, que estou muito próximo a você. Repito, pela Telesur, no meu
computador, o acompanhei tanto quanto pude, torcendo para que tudo terminasse
bem. Jamais poderia imaginar que o monstro grande, que pisa forte, e seus
monstrengos poderiam lhe negar espaço aéreo, em pleno voo. Sim, eles queriam
que o Presidente Indígena morresse, juntamente com sua comitiva e tripulantes,
para deixar o espaço livre para eles continuarem a pisar forte, invadindo,
explorando e matando, como o fazem desde há mais de 500 anos.
Evo, pude assistir,
pela Telesur, a manifestação em desagravo a você, acontecida no dia 4 pp, em
Cochabamba. Foi emocionante ver aquela multidão, bem esclarecida, lhe prestando
solidariedade. Senti-me lá, com vocês, fazendo parte das representações
nacionais e internacionais, e com vários chefes de Estado da América do Sul.
Senti que a Presidenta Dilma não pode se fazer presente pessoalmente, como
ficou bem explicado, por conta das muitas manifestações nas ruas, no Brasil.
Mas seus representantes oficiais lá estavam, com um documento assinado por ela,
e bastante contundente. Apreciei muito as alocuções, especialmente a do
Presidente da República Bolivariana da Venezuela, Nicolás Maduro, que tem se
saído muito bem na condução daquela nação, sucedendo ao grande irmão, Hugo
Chaves. Aliás, parabéns a ele por ter oferecido asilo humanitário ao jovem
Snowden. A Cristina, Presidente da Argentina, foi excelente nos esclarecimentos
jurídicos a respeito das infrações cometidas pelos EUA, França, Itália,
Portugal e Espanha; e também no humor, quando disse que o imperialismo gasta
milhões de milhões com a espionagem e não conseguiu descobrir se o ex agente da
CIA, Edward Snowden, estava ou não na aeronave da Bolívia; sua ironia foi muito
adequada. O Presidente Rafael Correa foi muito contundente e oportuno, com sua
sinceridade e autenticidade. Já o grande Pepe Mujica foi reticente, creio que
por não querer repetir o que já fora dito pelos outros.
As alocuções dos chefes
de Estado aconteceram durante o ato de desagravo e também logo em seguida, na
reunião extraordinária da Unasul, convocada exatamente para uma melhor análise
do acontecimento insólito que atentou contra a vida de Evo Morales e toda a sua
comitiva. Dessa reunião resultou um documento que foi enviado à ONU exigindo
explicações razoáveis para este ato - por parte dos países europeus mencionados
- que caracteriza terrorismo, uma vez que já haviam dado as permissões para o
sobrevoo dos respectivos espaços aéreos, e o cancelaram em pleno voo, já
próximo do espaço agora negado, colocando em extremo perigo a vida dos
ocupantes da aeronave oficial da Bolívia, com o agravante de que já estava
sendo utilizado o combustível de reserva. Claro que vão querer justificar o
injustificável.
Evidente que este ato
terrorista foi orquestrado pelo imperialismo estadunidense, e prontamente
obedecido pelos respectivos dirigentes europeus quais “perritos sumisos”.
É impressionante ver
como os EUA e sua vassalagem agem contra as leis e tratados internacionais,
como verdadeiros terroristas, de forma totalmente contraditória e repugnante, e
depois, descaradamente, ficam espionando as nações para encontrar potenciais
terroristas. Pessoas de bem nunca vão entender estes gestos desumanos e
monstruosos.
A mentalidade megalomaníaca
deste grupo burguês fascista é terrível; eles agem partindo da premissa de que
negros, indígenas e operários nada sabem e, portanto, não podem ser chefes de
Estado, a não ser que sejam totalmente submissos a eles, ou seja, não devem
governar, mas apenas obedecer ordens da elite branquela, arrogante e
prepotente; e negro com mentalidade da elite branca parece ainda mais
arbitrário...
Evo, grande irmão, a
você o meu respeito, admiração e gratidão pelo trabalho que você vem
desempenhando em favor e com os pobres, e por ser esta presença “nobre” na
América Latina e no mundo.
Juntamente com todo o
povo que tem consciência esclarecida, lhe digo da minha indignação e repúdio
contra o imperialismo e seus sequazes.
Digo-lhe, também, que é
por pessoas como você e outros (as), que creio na possibilidade real de
construirmos um mundo melhor, justo e solidário, onde todas as pessoas e todas
as criaturas poderão conviver em fraterna harmonia, dignidade e paz.
Avante, Evo! Continue
sendo intransigente para com sua dignidade e a dignidade de todos os povos
injustiçados. Creiamos que os que fazem parte dos que pensam e agem conforme o
que quer e impõe o imperialismo são integrantes de uma espécie em extinção.
*
Jornalista
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