Médicos brasileiros X
Médicos cubanos
* Por Urariano Mota
Na coluna “Um golpe comunista no Brasil”, nós já havíamos obervado que a
Associação Médica Brasileira havia ameaçado acionar a Justiça e levar a classe,
dos MÉDICOS, para as ruas, caso a ex-terrorista Dilma Rousseff importasse
médicos cubanos. O presidente da associação Floriano Cardoso chegara mesmo a
afirmar que o governo seria o responsável direto por erros, complicações e
mortes que poderiam ocorrer caso médicos incompetentes passassem a atender o
povo brasileiro.
Naquela ocasião, nada dissemos do risco de erros e de morte que todos já
sofremos sem necessidade de importação dos médicos de Cuba. Os formados em
medicina nas faculdades caça-níqueis, os profissionais submetidos ao regime do
lucro e do desprezo pela vida da população já dão conta, com muita competência,
do serviço. Para isso, para quê trazer o jaleco alienígena? Mas agora, o que
antes era ameaça se concretiza: a AMB (Associação Médica Brasileira) anunciou
ontem que haverá uma paralisação nacional dos médicos no dia 3 de julho. O
protesto, segundo a entidade, será feito por conta da decisão do governo
federal de trazer médicos do exterior para que trabalhem no Sistema Único de
Saúde.
Avisa a AMB que serão mantidos apenas os serviços de urgência e
emergência. Cirurgias e atendimentos eletivos, por exemplo, não serão feitos em
3 de julho. Não vem ao caso aqui, longe do colunista sequer a insinuação, que
na greve serão mantidos todos os gêneros de cuidados médicos nos hospitais
privados e nas clínicas particulares. Como o Dr. Jekyll, muitos dos nossos
profissionais de medicina têm uma face pública e uma privada, queremos dizer,
uma face particular, das suas contas bancárias. Sobre isso nem é bom falar. É
natural, elementar, Mr. Hyde, que todo o mundo precisa sobreviver.
A novidade maior, a esperteza escorregadia, vem do novo discurso dos
dirigentes da categoria médica. Eles falam agora que não se opõem à vinda de
médicos pura e simplesmente. Não, longe disso. O problema é que os médicos de
Cuba têm que passar antes pelo Revalida, a Revalidação do Diploma Médico,
porque, afinal, o povo tem que ser bem cuidado, não é qualquer um chegar aqui
com diploma de quinta categoria pra cuidar dos brasileiros. E sabe o leitor
onde reside a esperteza?
O Revalida é uma prova que até mesmo os que a elaboram são incapazes de
passar. Ou segundo as palavras de Heleno Rodrigues Correa Filho, conselheiro do
Centro Brasileiro de Estudos de Saúde e professor associado da pós-graduação em
Saúde Coletiva da Universidade Estadual de Campinas:
“No Revalida, exigem conhecimento sobre coisas que não são da rotina
médica diária. E perguntam sobre o que nem eles sabem responder. São exames
para reprovar 90% dos candidatos. E reprovam mesmo. O exame de revalidação de
diplomas estrangeiros é elaborado por professores de universidades renomadas
que estão politicamente decididos a não deixar entrar ninguém. O objetivo não é
filtrar profissionais para o mercado, e sim impedir que entrem pessoas. Não há
avaliação externa ao Revalida.
Quando são reprovados 90% dos candidatos, ninguém vem a público reclamar
de tamanho absurdo, dizer que no Reino Unido ou na América do Norte uma prova
assim seria reestruturada. Por que brasileiros passam em exames nos Estados
Unidos e americanos não passam no Revalida brasileiro? É porque tem alguma
coisa errada... Essa direita que não quer modificações no Revalida é a mesma
que não quer as cotas nas universidades e os médicos oriundos dessa escola cubana”.
A opinião acima é um petardo demolidor sobre as boas intenções da AMB. E
vem de um especialista médico, que bem conhece a prova e os seus pares. Mas o
diabo do Revalida é que ainda assim se aprovam 10%. Então o que exigem mais
agora, para que o povo brasileiro não fique sem médicos? Os nacionais querem,
por cima, uma prova de português para os médicos alienígenas. É justo. Do meu
canto, deixo a sugestão de uma prova matadora desses 10% de invasores.
Na prova de português, os médicos cubanos devem ser submetidos a uma
prova dividida em 3 partes. Na primeira, uma análise sintática de todo o canto
IV de Os Lusíadas, com identificação de orações, objetos, acessórios,
inversões, elisões, alusões, metros raros, mais exegese com identificação dos
personagens em Camões e suas biografias. Na segunda, uma interpretação de
frases com gírias cariocas, pernambucanas, amazonenses e gaúchas. Na terceira,
uma redação toda em termos da fala do caboclo do Acre. Pronto, creio não haver
melhor Revalida para nos livrar de mais uma invasão comunista.
* Escritor, jornalista, colaborador do
Observatório da Imprensa, membro da redação de La Insignia, na Espanha.
Publicou o romance “Os Corações Futuristas”, cuja paisagem é a ditadura Médici
e “Soledad no Recife”. Tem inédito “O
Caso Dom Vital”, uma sátira ao ensino em colégios brasileiros.
Impressão que tenho é que está tudo errado, do começo ao fim. Não sabia do grau de exigência do Revalida. E se de um lado não gostaria de ser atendida numa emergência sem recursos tecnológicos( CTI, exames e remédios) por um médico estrangeiro, nessas mesmas condições dispensaria o médico brasileiro. Como se lê, o problema é outro.
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