O mundo lá dentro
* Por
Fernando Yanmar Narciso
“A dor de um indivíduo não significa nada, quando
comparada à dor de toda uma nação” - Provérbio chinês
Caso vocês ainda não tenham notado, as últimas semanas mudaram o Brasil.
As pessoas estão diferentes. Não aceitam ficar com a bunda exposta na janela
pros políticos passarem a mão nela. Não! Os contribuintes submissos e alheios a
tudo que não seja futebol, novela e impostos voltaram a ser voz ativa, querem
participar do cenário político nacional. Querem aprender o que o poder faz de
certo e principalmente o que faz de errado com nosso dinheiro, pois agora a
turma de Brasília sabe que, se qualquer um deles sair da linha, maluco, nóis
sobe no telhado do Congresso, taca pedra nas janelas e fogo nas paredes do
Itamaraty, deixa o presidente ilhado e acuado dentro do palácio e vira capa de
todas as revistas do país. Retomamos o país que os bandalhas nos saquearam ainda
no governo militar.
Milhões de compatriotas tomaram as ruas na maior manifestação desde que
derrubamos Collor. Chamamos a atenção do mundo inteiro para as mazelas da nação
e demos uma indesejável conotação político-social para a Copa das Confederações.
Foi maravilhoso assistir aos torcedores mudando a mentalidade durante as
partidas. No primeiro jogo do Brasil, uma vaia devoradora para Robodilma que
nem a deixou fazer o discurso de abertura do evento, e provavelmente a fez
voltar para a limusine pra chorar no banco de trás. E, em pleno calor da
Quarta-feira Iluminada, a torcida fez a seleção quebrar o protocolo da FIFA e
cantar o hino nacional até o fim, mesmo sem acompanhamento da orquestra,
emendando com um canto ufanista como há muito não se via. Uma tarde gloriosa!
Se ao menos tivéssemos um rei digno de tanta reverência... Ou será que temos?
Enfim, o povo brasileiro se redescobriu como brasileiro nas últimas
semanas. O queeeeee não quer dizer que o país tenha mudado tanto assim. Claro,
voltamos às ruas para cobrar o que é nosso de direito e foi maravilhoso, mas
até o próximo pronunciamento de Robodilma, nosso mirmidão com o cabelo da Odete
Roitman, trazendo as boas novas que todos esperamos que a presidenta nos traga,
continuamos sendo os mesmos chicletes mascados na calçada de sempre. Não
aceitarmos mais as coisas como elas são não significa que elas já tenham
mudado. Continuamos à mercê dos três poderes, dos mensaleiros, da ladroagem, da
corrupção, enfim, de tudo o que ainda dá as regras do jogo.
Grande coisa que você se vestiu de verde e amarelo e foi desfilar com
seu cartaz de protesto na Praça Sete... Aos olhos de seu patrão você
simplesmente matou o serviço e ficou de bobeira o dia todo. Vai ser
provavelmente o bilhete azul mais patriótico que você já recebeu em sua vida...
Idealismo e manifestação não pagam pensão. IPTU, IPVA, IPI, contas de luz,
água, internet, celular, telefonia fixa e o escambau de asas continuam sendo
passadas por debaixo de sua porta, não importa se você tenha se rebelado contra
as contas. Mesmo que você ponha fogo na papelada e mande as cinzas pra Brasília
num envelope pardo ou banque o punk fajuto e limpe a bunda com a declaração de
IR, ainda precisará vender a alma ao diabo para pagar os impostos.
As ruas continuam mais violentas que nunca, os buracos no asfalto
continuam grandes o bastante pro King Kong tropeçar neles, as pilhas de sacos
de lixo nas calçadas já poderiam até rivalizar com a Muralha da China, o
saneamento básico continua com cara de“sacaneamento” básico e a inflação,
apesar de ainda pequena e condizente com a do resto do mundo, assusta bastante.
Quer dizer, há um ou dois meses, o infame tomate chegou a custar quase R$ 10,00
o quilo, tornando-se a piada pronta do governo Dilma. Mas ele foi a ponta do
iceberg... Para aqueles que não entenderam porque os ricos, que pagaram
centenas para assistir ao jogo de estreia, vaiaram a presidenta, saibam que o
pêssego importado, na minha cidade, chega a custar até R$ 32,00 o quilo! Quanto
deve estar custando uma joia Vivara ou uma garrafa de Crystal? Ah, é de
amarfanhar a juba oxigenada!
Mas é hora dos nossos mandantes encararem a realidade. Essa bagunça do
povo é culpa deles. Parece antiquado pensar assim, mas alguém já disse que um
trabalho bem feito é o melhor salário que podemos receber. Chegar em casa à
noite, sabendo que a missão a qual você foi incumbido foi cumprida, é um
calmante e tanto. Será que vocês-sabem-quem se sentem assim no final do dia?
São mesmo capazes de encostar a cabeça no travesseiro sem serem assombrados por
fantasmas do passado? Pelo que dizem por aí, os políticos suecos e os ingleses
vivem de consciência limpa, pois se limitam a simplesmente fazer o que eles
foram eleitos para fazer, sem receber nada por fora.
Macacada no poder, fica a dica. Tudo o que está acontecendo no país, dos
manifestos ao pisotear no teto do Congresso, é culpa de vocês! Nada disso
estaria acontecendo se vocês FIZESSEM O QUE DEVIAM ESTAR FAZENDO! Ser
materialmente rico e poderoso é uma forma de conquistar o respeito das pessoas,
mas não é o melhor. O povo “honesto e trabalhador” do Brasil está nas ruas para
provar. Se bem que não creio que essa gente que matou serviço pra fazer
protesto seria capaz de fazer algo diferente no lugar das cobras criadas...
Sem querer dar uma de Lair Ribeiro, mas esse conselho é muito
pertinente, para políticos e não políticos: FAÇAM O ÓBVIO E NINGUÉM FICARÁ NA
PIOR.
*Designer e escritor. Sites:
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Fez graça com o sério, e o deboche não ficou ofensivo. Gostei da petulância e criatividade.
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