sexta-feira, 3 de maio de 2013


Psicoses

* Por Eduardo Oliveira Freire

- Conta-me, Gustavo, o que aconteceu naquela noite, há vinte anos?
- Estou na sala com minha babá e vejo um filme de um cara estranho, que mora num casarão. De repente, uma mulher no chuveiro é esfaqueada...
- Você sabe que esse filme é Psicose? Inclusive, tinha um personagem que nutria um forte respeito e temor por sua mãe... Mas o que aconteceu de verdade?
- Estava fixado no filme e senti algo escorrer em mim, era o sangue da babá que me havia pegado no colo, doutor.
- Você viu quem a matou?
- Levei anos para decifrar o rosto.
- Quem era?
- Meu irmão mais velho.
- Seu irmão, Gustavo, que se suicidou em Genebra?
- Sim. Ele morreu vestido de babá.
- Então, você viu o rosto de seu irmão e...
- Mas, ele estava diferente. Usava a roupa da babá.
- Seu irmão matou a babá, Gustavo?
- Agora que as coisas estão fazendo sentido, acho que sim. Ele gostava muito de mim e pedia para eu o chamasse de babá, doutor. Meus pais o obrigaram a estudar fora do país e ele chorava, dizendo que não queria se afastar de mim.
- Uh... Nós progredimos bem hoje. A Sessão terminou, até sexta.

***

O terapeuta Lauro César ficou impressionado com a história, mesmo anos de psicanálise e histórias tão quanto terríveis, algo o atraía para esse caso de Gustavo. De repente, sentiu ser dominado por alguma coisa e saiu do consultório sem rumo. Quando deu por si, estava com um uniforme de babá e um sentimento de proteção em relação ao seu paciente Gustavo.

* Eduardo Oliveira Freire é formado em Ciências Sociais pela Universidade Federal Fluminense, com Pós Graduação em Jornalismo Cultural na Estácio de Sá e é aspirante a escritor


Um comentário:

  1. Loucura pouca é bobagem, mas na ficção tudo é possível, especialmente com a sua inesgotável capacidade de criar, Eduardo.

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