“Enterrador” de familiares
* Por Rodrigo Ramazzini
Domingo.
Sete e quinze da manhã. Tempo frio e com leve cerração. Dois vizinhos
encontram-se no muro de tijolos que divide os dois pátios.
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Buenas!
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Ó, vizinho...
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E esse tempo? Chove ou não chove?
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Pois é... Tá estranho... No rádio disseram que não!
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Às vezes, eles erram...
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Pois é... É verdade! Mas, cerração baixa, sol que racha, já diziam os
antigos...
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Tomara que não mesmo! Tenho um enterro para ir...
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Opa! Quem morreu?
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O Lúcio!
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Lúcio... Lúcio... Acho que não conheço!
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Mora lá na cidade baixa...
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Não sei, eu acho...
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Casado com a Fátima!
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Não sei quem é...
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Aposentado da prefeitura... Se aposentou cedo por causa de um problema nas
costas.
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Assim de nome, não estou lembrando...
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Sabe sim...
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Pode ser.
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É... Foi-se o Lúcio...
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Morreu de quê?
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Câncer.
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Essa doença maldita.
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É verdade... Ele enterrou o pai...
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Hum...
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A mãe.
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Hum...
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O tio.
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Hum...
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O Jair... Morreu em um acidente... Filho
do...
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Pô! Que situação.
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Não tenho certeza, mas acho que foi ele também que enterrou o mano...
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Hum... Que coisa!
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Pois é... Era um bom homem, o Lúcio! Sempre atencioso e prestativo. Deve tá lá
com o “homi” agora...
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Com certeza!
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Fazer o que, né? Todo mundo morre um dia...
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Pois é... Pelo menos ele viveu bastante, né?
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Que nada!
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Como que nada?
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Morreu novo. Ele devia estar com uns 54, 55, por aí eu acho... Não mais que
isso!
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Hum... Novo mesmo... Achei que era mais velho esse Lúcio... Mas que vida, hein?
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O quê?
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Enterrou todos esses familiares?
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Que familiares?
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Estes que tu falaste...
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Não, criatura!
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Não, o quê?
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Esses são os meus familiares que ele enterrou.
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Como assim?
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É que o Lúcio foi por muito tempo coveiro no cemitério municipal...
* Jornalista e contista gaúcho
Ainda bem. Pelo menos isso. Boas falas e ótimo diálogo. Muito espontâneo e convincente. Pelo menos, eu achei.
ResponderExcluirValeu, Mara! Sua opinião é importante. Obrigado pelo prestígio!
ResponderExcluirTenha um ótimo final de semana!
Aquele abraço!