E a saúde?
* Por
Paulo Reims
No
dia 6 pp foi divulgada a notícia de que o Brasil trará 6.000 médicos cubanos
para atender moradores de áreas carentes do nosso país. A matéria dizia que os
detalhes ainda estão sendo negociados.
Não
tenho absolutamente nada contra os médicos cubanos. São profissionais bem
preparados. Tenho certeza de que eles virão com o objetivo maior de servir, e
que ficarão satisfeitos com os honorários que receberão, com certeza muitíssimo
maiores do que aqueles que recebem em Cuba. Lá, todos os trabalhadores recebem
o estrito necessário para viver. Porém, algumas categorias, como a dos médicos,
gozam de alguns privilégios, mas nada que caracterize acúmulo ou mordomias.
Realmente, não tenho preconceito contra a medicina cubana. É um país pequeno
que investe quanto pode na área da saúde e da educação, e os médicos de lá o
são por vocação.
Sou
plenamente de acordo que as condições de vida em Cuba, de maneira geral,
poderiam ser melhores, mas infelizmente as sanções e embargos econômicos
impostos pelos USA não permitem que isto aconteça. A quase totalidade dos
cubanos sabe disso. É um povo alfabetizado no verdadeiro sentido da palavra. Um
amigo cubano me disse: “O povo cubano sabe que nosso país não é nenhum paraíso,
mas sabe também que, se não tivesse havido a revolução, seríamos um povo
analfabeto e escravos cortadores de cana para os USA”. E realmente ele falou a
verdade, basta ter presente o que falou o Secretário de Estado dos USA em
meados de abril passado: “John Kerry qualificou nesta quinta feira a América
Latina,parodiando a doutrina Monroe, ex Presidente dos USA, como “Quintal dos
Estados Unidos” e não como uma região vizinha soberana e independente que
abriga diferentes nacionalidades, com diferentes ideias, tendências sociais,
econômicas e culturais”.
Por
outro lado, quem tem 50 anos de idade, ou mais, e não pertenceu à elite
burguesa, sabe que criamos muitas necessidades desnecessárias que viraram
hábito. Eu vivi a época em que se precisava de muito pouco para viver. Muito
bem nos alertou Pepe Mujica, Presidente do Uruguai, na “Rio+20”, em junho de
2012: “O maior problema das sociedades ricas é o consumismo exacerbado, criando
problemas sociais e ecológicos muito sérios. A economia de mercado e a globalização
é que estão nos governando, quando deveria ser o contrário. Desta maneira se
destrói a fraterna solidariedade geradora de vida para todas as pessoas. Pobre
não é quem tem pouco, mas sim o que necessita infinitamente muito, e de mais e
mais...”. Uns morrem de obesidade e outros de desnutrição. Com absoluta certeza
“o problema do mundo não está no número de comensais, mas na justa distrbuição
das iguarias sobre a mesa”, disse Paulo VI na ONU em 1965.
Mas
voltando aos médicos que virão de Cuba. Claro que temos falta de médicos no
Brasil, tanta que uma amiga minha marcou uma consulta com um especialista,
pagando a consulta, em um centro médico considerado bom, e só conseguiu ser
atendida esperando na fila por um mês e meio, e seu caso era urgente. Porém, o que
me preocupa não é tanto a falta de profissionais. Ouvi de amigos médicos o
seguinte: “Nós até iríamos trabalhar nas regiões carentes deste enorme país,
mas lá não existem ambulatórios e hospitais devidamente equipados, desta forma
não temos como atender o povo”. Assim, fico preocupado que os médicos que virão
de Cuba passarão por incompetentes por não disporem da instrumentalização
necessária para bem atender ao povo.
Nossa
cidade, comparativamente, está bem servida, claro que ainda falta muito
aprimoramento, mas diante da situação do interior do país estamos razoavelmente
bem atendidos. Nossos postos de saúde em todos os bairros acolhem muito bem os
munícipes e os encaminham para outras instâncias, quando necessário.
A
Presidenta Dilma encaminhou projeto solicitando que o Congresso Nacional aprove
o repasse de l00% dos royalties do petróleo para a educação. Poderia ser feita
uma divisão, metade para a educação e metade para a saúde. Ou buscar outra
forma de equipar as casas de saúde deste país. Já foi tanto dinheiro para
construção e reformas de estádios, com tecnologia de ponta, que serão tão pouco
usados, comparando com a saúde que deve estar pronta para atender o dia todo e
todos os dias! Realmente não consigo entender esta questão, mas creio que é possível
uma solução, e urgente, para atender às camadas mais carentes do povo que
merece e precisa de cuidados.
* Jornalista
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