sábado, 4 de maio de 2013


E o esporte? (2)

* Por Paulo Reims

Na semana passada, demos início a algumas pontuações sobre esporte, a partir de duas mensagens recebidas no meu correio eletrônico. Vamos continuar a reflexão, agora retomando a segunda mensagem recebida que, como dizia, já é conhecida, mas reacendeu minha esperança.

Há alguns anos, nas Olimpíadas Especiais de Seatle, nove participantes, todos com deficiência mental, alinharam-se para a largada da corrida dos 100 metros rasos. Ao sinal, todos partiram não exatamente em disparada, mas com vontade de dar o melhor de si, terminar a corrida e ganhar. Um dos garotos tropeçou no asfalto, caiu e começou a chorar. Os outros oito ouviram o choro. Diminuíram o passo e olharam para trás. Então, viram a situação do garoto caído, e todos voltaram. Uma das meninas, com Síndrome de Down, ajoelhou-se, deu um beijo no garoto caído, e disse: “Pronto, agora você vai sarar!” Depois disso os nove “competidores” se deram os braços e andaram juntos até a linha de chegada.

O estádio inteiro levantou e os aplausos duraram muitos minutos. Talvez os atletas fossem deficientes mentais... Mas, com certeza, não eram deficientes espirituais...

Diante deste episódio, podemos concluir com clareza que o ser humano foi criado para competir nas virtudes que o tornam sempre mais humano, através da prática dos gestos que, na verdade, são desdobramentos do amor. Naquela arena ficou comprovado que a sociedade aspira pelas virtudes da solidariedade, da ternura, do acolhimento, da compaixão, da partilha...

Porém, na maioria das vezes, nas arenas do mundo, os instintos do ego brutal gritam mais forte. Parafraseando Martin Luther King também digo: o que mais “me preocupa não é grito dos maus, mas sim o silêncio dos bons”.

Não tenho nada contra o esporte, mas com a maneira como normalmente algumas modalidades são conduzidas. Há muito negócio, muito comércio, muita corrupção...

Torça e vibre com seu time, se isto lhe faz bem, mas tome cuidado para não ficar alienado a respeito de tantos temas de importância vital para a sociedade. Não permita que “o pão e o circo” lhe deixem anestesiado. Algumas modalidades de esporte conseguem reunir milhares e até milhões de torcedores, mas quando se trata de uma mobilização em favor de um assunto verdadeiramente importante para a sociedade, ficamos calados e distantes. Basta que olhemos para a educação, que eu prefiro chamar de instrução. Professores (as) precisam estudar muito, gastam muito tempo para preparar aulas, corrigir provas, conhecer cada aluno, com sua história de vida, para poder fazer uma avaliação coerente e, no entanto, o salário é minguado, comparando com outros profissionais. Como teremos uma instrução de qualidade se os profissionais não são valorizados? E um povo não instruído é facilmente iludido e manipulado.

Fico indignado com gastos exorbitantes, aplicações astronômicas de verbas para reformar e construir estádios, quando setores vitais são simplesmente marginalizados. Semana passada li uma matéria que dizia: "Os estádios que ficaram prontos para a copa das confederações já custaram 65% a mais que o previsto em 2010". Imagine os gastos que terão a mais os outros que deverão ficar prontos para a Copa do Mundo... A culpa não é só do governo, aliás, a culpa maior está nas empreiteiras, pois basta “uma pedra no caminho” para parar a obra e rever o contrato. A própria FIFA fez exigências exacerbadas no que se refere à Lei da Copa.

Mas o importante é que tudo isso vai trazer alegria ao povão! E depois que a festa acabar? Quem ganha o quê? Muito cuidado, a bola vai rolar e o povo pode rolar junto...

Não se pode absolutamente valorizar um setor em detrimento de vários outros que são essenciais.

Fico contente com a atitude de várias administrações municipais que estão valorizando as comunidades através de construções de ginásios polivalentes,campos de futebol, academias para todas as idades, ao ar livre. Para este tipo de investimento, eu tiro o chapéu.

Prefiro torcer por um jogo na comunidade, onde, no final, ninguém leva nada a não ser a certeza de que, se não caminharmos juntos, não chegaremos a lugar algum.

* Jornalista

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