Bossa Nova
* Por Clóvis Campêlo
Tom Jobim morreu no dia 8 de março de 1994, em Nova York, deixando para
a música popular brasileira e para o mundo a Bossa Nova e um acervo musical de
inquestionável valor. Não foi à toa, portanto, que em 1963 chegou ao topo das
paradas musicais americanas com a música Garota de Ipanema, desbancando os
Beatles fabulosos, pais do pop rock moderno, em pleno auge da sua carreira. Não
foi à toa, também, que ao longo da sua vida profissional chegou a ter sete
canções entre as reproduzidas mais de um milhão de vezes em todo o mundo. Tudo
isso sem sair do tom.
Para alguns estudiosos da MPB, no entanto, como o crítico José Ramos Tinhorão,
a Bossa Nova não teria passado de uma descaracterização elitista da nossa
música popular. Na sua visão, Tom Jobim teria sido um deslumbrado rapaz da
classe média carioca, admirador do jazz e da cultura americana, que abandonou
as raízes em busca do sucesso.
Descaracterização ou não, na verdade, tanto a Bossa Nova quanto Tom
Jobim revolucionaram a música brasileira. Segundo Bernardo Gutiérrez, "a
estrutura do que foi chamada Bossa Nova é um milagre. Por trás de uma harmonia
redonda e suave, desse doce balanço sonoro, esconde-se uma armação
complicadíssima de arranjos jazísticos. E tudo repicado com o peculiar ritmo
quebrado introduzido pelo violonista João Gilberto".
É bem verdade, também, que a revolução da Bossa Nova não se deu de maneira
inesperada e súbita. Alguns compositores brasileiros como Assis Valente e
Dorival Caimmy, já incorporavam nas suas composições, anteriores à Bossa Nova,
vários dos elementos que caracterizariam o novo estilo. Estes espamos
renovadores foram reconhecidos pelo ex-ministro Gilberto Gil, quando na
introdução da música Aquele Abraço, na verdade um samba à moda antiga,
homenageia Caimmy, João Gilberto e Caetano Veloso, os arautos baianos, em
tempos distintos, da revolução da MPB.
No que tange à música pernambucana, até o lendário Capiba, que bebeu em fontes
diferentes para compor o seu cancioneiro, deixou-se influenciar pela nova
batida, usando acordes dissonantes para criar a melodia de A Mesma Rosa
Amarela, poema de Carlos Pena Filho.
Assim, ao mesmo tempo em que se mostrava atento aos acontecimentos
musicais do seu tempo, Capiba, embora de maneira tímida, também abria caminho
para a elaboração de novas sínteses na música pernambucana. Mas isso já é outra
história.
* Poeta, jornalista e radialista
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