quarta-feira, 3 de abril de 2013


Cidadãos exemplares
 
* Por Fernando Yanmar Narciso

Celebridades aqui, celebridades ali, caindo como chuva do céu, rolando no chão como um arbusto seco no deserto, aparecendo naquelas infames fotos de prisão depois de atropelar um transeunte e dar sinal de positivo para as câmeras. Esse é o mundo em que vivemos. Se você não for uma celebridade, não é ninguém! Boa parte dos atores, músicos e esportistas até que são gente boa e normal como você e eu, mas as maçãs podres são as que de fato nos interessam. Quanto mais errado essa gente agir, mais nos divertimos com elas.

O caboclo pode ser um perfeito tapado e não possuir nada que o destaque dos demais além do corpão e da cara bonita, mas o simples fato de eles estarem na TV, na internet ou nas revistas de fofoca já é motivo de sobra para osinvejarmos. Ou melhor, invejarmos a conta bancária deles.

Qual é o outro papel das celebridades modernas a não ser serem celebridades? Qual a grande contribuição dessa gente para a humanidade, além de render assunto para o canal E!? No fundo, nossa relação com as celebridades de hoje tem certo grau de voyeurismo sadomasoquista, como quando você era criança e acordava de madrugada para assistir pornochanchada no SBT ou espiar os pais fazendo amor pela fechadura. Não acrescenta em nada em sua vida, mas não dá para resistir “dar aquela espiadinha”, como diria o Bial.

Você pode nunca vir a conhecer nenhuma delas, mas ao chegar em casa esbaforido do trabalho, acessar o site de fofocas mais badalado e ler “Gusttavvo Limma (nunca sei qual consoante dele é a repetida) disse que quer dar uma pausa na carreira!”, “Justin Bieber transou com uma cabra durante show!”, “Charlie Sheen mandou os judeus se f@#$&¨*!”, ou a sempre presente manchete “Lindsay Lohan fez mais uma cagada!”, é como se tomasse um calmante com leite morno. Ei, essa gente é tão miserável quanto eu! Ainda bem que não estou embaixo da pele desses degenerados!

Claro que (alguns deles) têm mais dinheiro do que não conseguiríamos juntar em toda uma vida, mas também são humanos, despudoradamente humanos. Enquanto nos esforçamos para não fazer muita besteira ao longo do dia, esses “estrelos” não fazem a menor questão de ser discretos. Fazem suas necessidades diante das câmeras, partem pra ignorância com todos os flashes em cima deles, desrespeitam todas as leis de trânsito- até as que ainda não foram escritas, transam sem camisinha e fazem filhos em gente de pior espécie que a deles... E os amamos por isso.

Apesar de sermos viciados em seus malfeitos, nossa consciência ainda espera que essas estrelas teen malcomportadas consigam superar seus períodos sombrios e tornar-se cidadãos respeitáveis, pessoas que acrescentem um algo mais à vida de seus fãs. O que mais deve doer para os pais de hoje é ouvir os filhos dizerem que querem largar a escola e virar bandidos, inspirados talvez pelos rappers americanos ou por nossos funkeiros. Ou pior, ouvir os filhos dizerem que querem parar de estudar para ficar milionários no BBB. Lá basta ser bonito, sarado, promíscuo, invejoso e traíra para se dar bem, e esse tipo de coisa não se aprende em livros de física. Trabalho árduo e longo era coisa para nossos pais e avôs, eles querem dinheiro, fama, carrão e vagabundas agora!

Você sabe que a sociedade está aos pedaços como uma massa de empada quando lê no Facebook ou no Twitter fulano dizer que participante tal do BBB ou da Fazenda é uma grande influência em sua vida. Adjetivos totalmente fora de contexto como“corajoso”, “guerreiro” e “herói” são agora tão associados a essa gente como“bonito”, “gente fina” e “honesto”...

O que podemos pensar de alguém que chama a Nicole Bahls de “minha grande heroína”? Quantas criancinhas ela já salvou de um prédio em chamas? Quantos prisioneiros de guerra ela já resgatou em Mianmar? Será que ela já foi à Coreia do Norte hoje, dar uns cascudos no ditadorzinho de meia-tigela que tem a minha idade?

Se o conceito moderno de heroísmo é ficar enclausurada numa “casa” ou numa“fazenda” por sabe-se lá quantos meses e chegar ao último capítulo sem ser defenestrado pela audiência, não me admira o Brasil ter os políticos que merece. Porém, o que é até hoje incompreensível é que os perdedores dos reality shows sempre saem dos programas mais famosos e requisitados que quem vence. O que não os impede de serem abandonados por público e imprensa daí a um mês, assim como os grandes vencedores... That’s entertainment!


Um comentário:

  1. Engraçado e algo enfurecido. Comigo já não funciona fazer tais macaquices, pois ao ler seus nomes mal sei de quem se trata. Como vingança vamos esquecer todos eles. Falo por você, porque eu já os ignoro.

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