Dom Quixote virou Sancho Pança
* Por Fernando Yanmar Narciso
* Por Fernando Yanmar Narciso
Provavelmente acabei de carimbar
meu passaporte pro fogo eterno com esse artigo...
Aquele relâmpago atingindo a basílica de São Pedro era apenas o começo. De
acordo com a vontade do Pai, do Filho e do Espírito Santo, o nobre cardeal
Joseph Ratzinger, conhecido carinhosamente como Bentinho, deveria continuar
ali, usando aquela fantasia, sentado num trono com mais ouro que o pescoço do
Michael Phelps e fazendo teatrinho pros fieis até que Nosso Senhor viesse lhe
tomar a alma pelas mãos.
Mas eis que o papa resolveu causar, tomando uma atitude que, até então, apenas
um deles havia tomado: De livre e espontânea vontade, ele escolheu abandonar o
3º cargo mais importante do mundo, que perde apenas para o de presidente dos
Estados Unidos e para o de técnico da seleção brasileira. O mundo está, até
agora, em choque! Como assim o bom pastor está abandonando seus cordeiros? Pois
não havia sido o Espírito Santo em ectoplasma quem havia elegido Bentinho para
o cargo? Claro que houve uma mãozinha dos outros cardeais para ele chegar lá,
mas é apenas um detalhe.
Com o ato de extrema coragem de Bentinho, espera- se que a igreja católica
passe por uma profunda renovação. Pelo menos, quanto a ele, já ocorreu uma
revolução trabalhista. Pois ao renunciar, o papa provou ao mundo que o
pontificado é uma profissão como qualquer outra, apenas com uma previdência social
infinitamente mais generosa. Imagino que, depois dele, todos os próximos papas
vão querer um reinado limitado, como um termo presidencial de 4 ou 5 anos.
E agora o mundo poderia ir às
urnas para escolher o papa, numa forma menos teatral e mais democrática de
tomar uma decisão tão importante. Com participação maciça do povo, poderiam
abrir as portas para novas possibilidades. Por exemplo, por que não escolher um
papa ateu? Afinal, ninguém conhece e compreende a Bíblia mais a fundo que os
não-crentes. Ou, pelo menos, que escolhessem um papa corajoso o bastante para
mudar o que precisa ser mudado, sem se importar com dogmas e clichês religiosos
pré-estabelecidos.
Assim como os já citados cargos
de presidente dos Estados Unidos e técnico da seleção, o pontificado é um fardo
que, apesar do poder e do status, ninguém gostaria de carregar. Pressões e
ameaças de todos os lados, questões delicadas e sem solução, abacaxis que não
param de chover em santo colo, sermões tediosos, hipocrisia... Não é à toa que
católicos mais puristas costumavam se autoflagelar. Quem gostaria de viver com
tanta responsabilidade?
Mas Ratzinger não pretende se
desligar completamente da função de sumo pontífice. Acabou de criar uma nova
patente para si e vai continuar atuando nos bastidores do poder, preferindo
agora ser chamado de Vossa Emérita Santidade. Pois é, até em solo sagrado, quem
está no poder se recusa a largar o osso por completo. E, após quase um mês, o
Vaticano ainda não conseguiu explicar qual foi o principal motivo da renúncia.
Digo, tirando que Bentinho talvez queira fazer tudo o que a religião não deixou
nos últimos 85 anos. Porém, seria mais fácil acreditar que ele enfim caiu em
si.
Todos os casos de corrupção, pedofilia, homossexualidade e proxenetismo de
sacristães, denunciados pelo episódio conhecido como Vatileaks, foram o último
prego no caixão da paciência dele. Após um longo tempo de meditação, Vossa
Emérita Santidade deve ter se dado conta de que ele não tinha nada de divino
nem foi indicado pelo E.S para ser seu porta-voz em Terra. É apenas um padre
ancião sem energias para combater tanta imundice. Quer saber? Tô por aqui com
tudo! Vou pedir minhas santas contas. Põe outro no meu santo lugar que eu quero
ir surfar nas Bahamas! E, quem sabe, montar uma creche no Castelo Gandolfo.
Escândalos sexuais envolvendo
homens “de fé”... Praticamente todos os papas se viram diante dessa questão, e
não adianta o que tentem fazer, o problema sempre volta para assombrar os
pontífices. O X da questão é o celibato obrigatório, que tanto castiga os que
vivem em função do Senhor. Aqueles cardeais devem subir pelas paredes da Capela
Sistina quando não estão rezando, coitados... Quem escreveu que ceder aos
prazeres da carne é pecado provavelmente se esqueceu que os pais dele precisaram
“pecar” para que ele existisse. Homem prefere ir pro inferno a ser celibatário.
O bispo escocês Richard Holloway afirmava não considerar a luxúria um grande
pecado. Para ele, Deus havia nos dado o gene da promiscuidade. Para que a raça
humana prevaleça, é necessário que espalhemos nossas sagradas sementes.
Mesmo que eu não acredite em nada que o papa prega, desejo boa sorte ao novo e aos próximos que o seguirem. E como eles precisam de sorte!
*Designer
e escritor. Sites: HTTP://cyberyanmar.deviantart.com
e HTTP://terradeexcluidos.blogspot.com.br
Mais uma crítica pesada. Ainda assim, com o respeito que a posição do Papa exige. Numa coisa concordo: é muito difícil ser Papa.
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