De discípulos a
contestadores
Os inovadores, os
homens e mulheres criativos, que enxergam para além do óbvio e ousam defender idéias
consideradas exóticas (se não coisas piores), via de regra deslocados no tempo
por terem convicções e conceitos muito além do alcance mental dos
contemporâneos, não raro pagam preço muito alto, proibitivo até, por sua
lucidez e ousadia. Dividem opiniões. Arregimentam inúmeros discípulos, que os
reverenciam como se fossem seres de outro mundo, embora se tratem de pessoas
humanos comuns, posto que um tanto mais lúcidas, mas sujeitas às mesmas
fraquezas, aos mesmos erros e contradições das demais. Se é verdade que
inspiram seguidores, despertam, também, a ira dos que não os compreendem e, por
isso, não concordam com suas descobertas e/ou opiniões. E esses ferrenhos
opositores, na maior parte dos casos, são em muito maior número e – não raro –
com muito maior poder que os adeptos.
Não se trata, óbvio, de
regra geral ou infalível. Mas raros inovadores escapam dessa sina. Com Sigmund
Freud não foi diferente. Suas ousadas pesquisas e singulares opiniões atraíram,
é inegável, dezenas, centenas, milhares de jovens psiquiatras mundo afora,
notadamente da Europa (mas não somente dela). Alguns tornaram-se seus
discípulos e difundiram suas técnicas terapêuticas nos respectivos países.
Outros avançaram nas pesquisas e criaram as próprias teorias e métodos de
tratamento de desvios psicológicos que, não apenas divergiram das do mestre,
mas as negaram e as contestaram severamente. De seguidores, tornaram-se contestadores.
Por isso, esta série de
reflexões, analisando a obra de Freud, ficaria incompleta se parasse por aqui e
não abordasse esse aspecto. Houve quem, por exemplo, não foi seu discípulo, mas
foi atraído para a psicanálise por influência de sua obra. É o caso específico
da também austríaca Melanie Klein, que criou sua própria linha psicanalítica.
Sua “escola” atraiu, aliás, muitos dos seguidores originais do polêmico mestre.
Fiquei tentado a interromper
por aqui esta série de reflexões sobre a vida e a obra de Sigmund Freud,
receoso de estar me tornando maçante e espantando, por conseqüência, leitores.
Alguns, de fato, deixaram de ler meus textos, por não se interessarem pelo
assunto. Estão no seu direito. Constatei, porém, através dos tantos e-mails que
recebi, que há uma espécie de divisão entre os leitores. Parte gostaria que eu
voltasse a variar nos temas, abordando, sobretudo, os lançamentos de 2013 – o que,
certamente, farei, mas oportunamente. Outro grupo, todavia, quer saber mais e
mais a propósito do tema, para mim tão fascinante. Como estou me divertindo ao
redigir esta série de textos, decidi dar-lhes continuidade, sempre ressaltando
que sou leigo na matéria e, portanto, incapaz de opinar sobre aspectos
técnicos.
Levantei uma relação
dos discípulos de Freud e reconheço que ela deve ser parcial, ou seja, bastante
incompleta. Pudera! O “Pai da Psicanálise” morreu em 1939, portanto, há 74
anos. Muitas informações sobre ele se perderam, outras tantas foram deturpadas
e viraram lenda e, por isso, não se pode exigir exatidão, ainda mais de um mero
curioso, como eu que, em pleno século XXI, resolveu xeretar a vida desse gênio. Com o auxílio da
enciclopédia eletrônica Wikipédia – de inestimável importância para esta série
de reflexões – levantei a seguinte lista de discípulos de Freud: Peter Swartz,
Somacruz Zeidan, Alexander Mitscherlich, Nikki Lauren, André Green, Anna Freud,
Brendom William, Carl Gustav Jung, Didier Anzieu, Donald Meltzer, Donald Woods
Winnicott, Edward Glover, Emílio Rodrigué, Enrique Pichon Riviére, Erik H.
Erikson, Ernest Jones, Frances Tustin, Franz Alexander, Hanna Segal, Harold
Searles, Heinrich Racker, Hélene Deutsch e Wilhelm Reich.
De alguns, não consegui
descobrir uma única referência que seja, o que me leva a concluir que suas
carreiras não tiveram o brilho que eles com certeza esperavam e que não acrescentaram
nada à Psicanálise. É questão de lógica. Caso tivessem dado contribuição relevante
á disciplina, certamente alguém os citaria, com a respectiva obra. Talvez especialistas
na matéria possam contestar-me e citar seus feitos. Todavia, duvido que algum
leigo, como eu, o faça. Esses discípulos, digamos, “obscuros” foram Peter
Swartz, Somacruz Zeidan, Alexander Mitscherlich, Nikki Lauren, Brendom William,
Edward Glover, Erik H. Erikson, e Franz Alexander.
Sobre os demais,
tecerei comentários mais detalhados – alguns breves e pontuais, outros tantos
mais extensos e meticulosos – com enfoque especial para Anna Freud, Carl Gustav
Jung, Ernest Jones (principal biógrafo de Freud), Wilhelm Reich e Melanie Klein
que, embora tecnicamente não tenha sido seguidora do “Pai da Psicanálise”, foi,
inequivocamente, influenciada por sua obra.
Polêmica por polêmica,
deixo-lhes, para reflexão por hoje, esta polêmica declaração de Freud, com a
qual concordo plenamente, e que diz: "A felicidade
é a realização de um desejo pré-histórico da infância. É por isso que a riqueza
contribui em tão pequena medida para ela. O dinheiro não é objeto de um desejo
infantil". Faz ou não faz sentido? Provavelmente, Freud baseou-se em sua
experiência pessoal, já que nunca foi rico (sequer medianamente remediado) e,
pelo que é fácil de deduzir de sua biografia, nunca desejou ardentemente
possuir fortuna. E nunca a possuiu de fato...
Boa leitura.
O Editor.
Acompanhe o Editor pelo twitter: @bondaczuk
O meu grande desejo da infância deve estar escondido no mais profundo do meu ser, pois não tenho a menor ideia do que seja. No meu caso, a felicidade que alcancei inúmeras vezes, e por tempo prolongado, não esteve ligada a nada que conscientemente estivesse preso a infância. Quanto a Freud, devo a ele sentir-me uma mulher resolvida. Sou submetida a psicanálise Freudiana Ortodoxa(nem imagino o que seja isso), há 11 anos e um mês, sem contar mais outras duas terapias que fiz por 9 e 7 meses respectivamente.
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