Amor
e indiferença
A palavra "amor", seja em que língua ou
dialeto for, é, certamente, a mais citada, (embora a menos compreendida em seu
real significado), em poemas, romances, novelas, letras de canções, etc. em
todo o mundo, através dos tempos, desde o surgimento das civilizações, das
artes e da escrita. O termo sempre se
viu cercado de extrema ambigüidade. Dependendo do contexto, tem sido utilizado,
até mesmo, por paradoxal que pareça, para exprimir seu antônimo, o ódio, sem
que aquele que o utiliza com tanta inadequação sequer se dê conta.
Pois é este sentimento sublime, mais falado do que
praticado; esta elevada emoção, que todos sentimos algum dia na vida, mas que,
por alguma razão, alguns de nós sufocamos e extinguimos talvez por entendermos
inconscientemente que se trata de manifestação de fraqueza ou de falta de
virilidade; esta essência da divindade, que deveria nos distinguir das feras
broncas; o tema central do excelente livro "Amor, Caminhos e
Descaminhos", do jornalista, escritor, educador e advogado Rubem Costa.
O autor admite, a priori, logo no prólogo, tratar-se
de enorme desafio abordar assunto tão complexo (e tão surrado), sem descambar
para o lugar-comum, ou sem enveredar para os mesmos equívocos, não apenas do
populacho pouco instruído, mas pelo qual a maioria dos filósofos, poetas,
romancistas, psicólogos, psiquiatras e outros tantos estudiosos da alma e do
comportamento humano também freqüentemente envereda.
Metodicamente, de forma clara, organizada e
sobretudo didática --- como compete ao professor que de fato é --- Rubem Costa
inicia sua análise adentrando o complexo campo da semântica. Observa:
"...Como espelho da sociedade que evolui e se transforma no perpassar dos
acontecimentos, as palavras, refletindo a nova fisionomia social, que repercute
na formação do ser individual, exercem papel relevante na contextura de usos e
costumes, plasmando princípios de ética e moral. Mas, em verdade, ela, a
palavra, é uma rua de duas mãos. Impressiona e deixa-se impressionar pela
agitação do grupo".
Destaque-se que Rubem Costa é um dos mais lúcidos e
profundos intelectuais da cidade, ilustre e atuante membro da Academia
Campinense de Letras, autor de "Cantigas do Anoitecer" (poesias) e
"Colheita no Tempo" (crônicas). Com 19 anos, já era redator-secretário
do "Diário do Povo". Desenvolveu marcante carreira no Magistério
paulista, como inspetor de ensino e diretor da V Divisão Regional de Educação
do Estado de São Paulo.
O autor define, já no próprio título do livro
(publicado pela Editora Átomo de Campinas), as duas vertentes que fundamentam
sua instigante tese. Na primeira parte, aborda os "Caminhos do Amor".
Identifica esse tão pouco entendido sentimento nas suas mais variadas formas de
manifestação. Fala dos santos, dos simples, dos humildes e dos abnegados. Recorre
à Criação, como descrita no Gênesis da Bíblia, e narra várias experiências
pessoais. Entre estas, relembra os ensinamentos da mãe e conclui que o amor é um só, embora muitas sejam as
formas com que se manifesta.
Na segunda parte, que intitula "Descaminhos",
aponta as distorções, os males-entendidos e os equívocos mais comuns que cercam
essa emoção. Aborda as várias formas de preconceito (racial, étnico, religioso,
etc.), o abandono, a exploração do próximo e outros tantos perversos comportamentos
que envenenam nossos relacionamentos. É óbvio (e nem é esta a nossa intenção),
que não iremos tirar do leitor o prazer de participar desse régio banquete de
inteligência e sensibilidade, que é a leitura desse precioso livro.
Destacamos, no entanto, que Rubem Costa consegue façanha
que pouquíssimos escritores alcançam: a de tratar temas, como este, tão
delicados, profundos e de tamanha complexidade, de forma clara, inteligível,
acessível a qualquer pessoa de cultura mediana, sem recorrer (como muitos
autores fazem, de forma pedante e até tola), a jargões das várias disciplinas
enfocadas, já que recorre, sem que o leitor sequer perceba, a princípios
de filosofia, psicologia, teologia,
etologia, antropologia, etc.
Ler seu texto claro, preciso, correto, medido e
coloquial, é como assistir a uma produtiva aula do brilhante mestre. É banhar a
alma e o intelecto nas águas puras da plena cultura e saber. Trata-se de um
livro para ser apreciado, saboreado, "degustado" com reflexão. É para ser lido com emoção e
razão e não como se lê um jornal, uma
revista ou um romance comum e banal, desses que lançamos mão apenas para
"passar o tempo". As lições de
Rubem Costa são para serem estudadas, analisadas, sentidas, sopesadas,
dissecadas, fazendo-se anotações à margem, como fazemos, por exemplo, com as
obras dos clássicos da literatura.
Nas palavras do último parágrafo do capítulo "A
Grande Descoberta", o autor sintetiza, de forma magistral, a tese que
permeia todo seu precioso livro, ao confessar: "Foi assim que, aos três
anos de idade, sem saber ao certo o significado dos termos, diante de minha mãe
orando, revendo-a, lá na rede, a me beijar a face, sem me responder, eu
descobri o sentido da palavra 'amor'. Sinônimo perfeito da essência pura: Deus.
Amor que perdoa, amor que guarda, amor que redime, amor que salva: é o nome do
'Senhor'". O que acrescentar a tal definição?! Só posso aduzir: Amém!!!
* Jornalista, radialista e escritor. Trabalhou na Rádio
Educadora de Campinas (atual Bandeirantes Campinas), em 1981 e 1982. Foi editor
do Diário do Povo e do Correio Popular onde, entre outras funções, foi crítico
de arte. Em equipe, ganhou o Prêmio Esso de 1997, no Correio Popular. Autor dos
livros “Por uma nova utopia” (ensaios políticos) e “Quadros de Natal” (contos),
além de “Lance Fatal” (contos) e “Cronos & Narciso” (crônicas). Blog “O Escrevinhador”
– http://pedrobondaczuk.blogspot.com.
Twitter:@bondaczuk
Como é bom o amor!
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