A melhor aula
* Por
Hélio Bruma
Os jovens de hoje,
em que realmente diferem dos jovens que fomos, relativamente ao que sabem?
Fala-se muito em que a maior diferença tem como base o fato de haver agora
muito mais possibilidade de informação, dilatando ao interminável a visão do
mundo, e consequentemente enchendo de fatos olhos e ouvidos das pessoas, com
uma porção de informações correlatas. Isto não deixa de ser verdade, mas será
mesmo que atentam para todas as possibilidades de saber?
Dizem os jornais
mais conceituados da noite que em determinada capital estão reunidos os
presidentes do chamado BRIC, com a finalidade de pressionar a ONU para ceder
assento no Conselho de Segurança. Uma outra mocinha bonitinha vai dar a
previsão do tempo, e o faz no mundo todo, valendo-se de magníficos mapas
amplamente coloridos com sóis fulgurantes, azuis celestiais e negrumes
assustadores. Depois do intervalo, será chamado um circunspecto cidadão que vai
falar do movimento nas Bolsas de Valores e do comportamento das diversas moedas
naquele dia.
Nós éramos muito
ignorantes. Aprendíamos muito mais na escola que fora dela, com currículos e
programas mais extensos. E as exigências, também. Hoje, com a imensa quantidade
de fatos disponíveis, com eles mesmos se vai aprendendo. Não é que não
tivéssemos notícias. O que acontecia é que custavam a chegar até nós. Agora, a
televisão noticia vinte e quatro horas por dia. As informações são tantas que
temos dificuldade para processar.
A fonte de aprender
era mesmo a escola, com as lições muito bem compartimentadas e embaladas em
livros com fatos e fotos expostos sem maior realce. Fora daí, o mundo era bem
pequeno, e tudo ficava menor pela distância e pelo tempo decorrido.
Na minha casa
chegava jornal diariamente, exceção ao fim de semana, quando o jornaleiro não
vinha de Barra Mansa, no trem, à tarde. Ou seja, recebíamos o jornal matutino
no final da tarde. E não me lembra ter ouvido alguma vez qualquer reclamação do
meu pai. Era assim, e estava muito bom. Não havia a pressa de agora, quando a
notícia tem que ser transmitida e sabida na hora, com a reportagem, o
correspondente falando ao vivo do local da ocorrência. Pobre do veículo de
comunicação que perde qualquer oportunidade desse tipo.
Cheguei a ver
repórter no Maracanã batucando numa máquina de escrever à medida em que corria
o jogo. Preparava a matéria que sairia no dia seguinte. O papel datilografado,
mal acabado o jogo, era levado ao jornal para o processamento técnico e a
impressão. Quem admitiria uma coisa dessas hoje, ainda mais tendo, como temos,
o controle remoto na mão?
Somente na Copa do
Mundo de 70, tivemos os jogos na televisão, preto e branco. Aqui, com uma
imagem horrorosa, depois de um coitado carregar nas costas um tubo de ferro com
a antena na ponta, até encontrar o melhor sinal, ou seja, o sinal com menos
chuvisco. E é bom frisar que falamos da copa de 70, no século passado, para
ninguém ficar perdido. Fomos tricampeões.
Espero que do todo
acima exposto reste aos jovens a lição de que podem valer-se da mídia, nas suas
mais diversas formas para aprender. O jornal, a revista, a televisão, ou isso
tudo na internet, valham-se deles, uma ferramenta notável. Os do meu tempo não
contávamos com essa possibilidade, e enfrentávamos as provas de geografia com
capitais decoradas, os diversos Tratados Internacionais, países de todo o
mundo, tudo decorado, para na questão final das provas desenvolvermos a tal
“dissertação”, que era “falar sobre” isso ou aquilo. De amargar!
Então, combinado. É assistir ao jornal da TV, e verão como é fácil
entender: ser um Bric, ter um PAC, poder entrar no G20, Primavera árabe, Irã e
urânio, Tea Party, Democratas e Republicanos nos EUA, e de quebra a falta que
os russos sentem da URSS. E quejandos.
*
Poeta e escritor
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