* Por Fabiana Bórgia
A vida, às vezes, acontece de forma estúpida. No facebook, todo mundo é saudável, tem grana e possibilidades. No mundo de hoje, chega a ser estranho mesmo não estar conectado. Todo mundo quer ser livre, mas não consegue. Eu ainda acho que o facebook merece mesmo ser o ambiente feliz. Realidade eu já encontro nos jornais e na minha própria vida pessoal. Mas não posso evitar.
Não posso deixar de pensar que também é um ambiente fútil muitas vezes. É só parar e pensar. O que você realmente compartilha? Com quem você o faz? E por quê? Olhar e ser visto? Ser lembrado? Não cair no esquecimento? Qual a máscara que você veste? Lugares que você conheceu? Pessoas bonitas com as quais você nunca encontrou ou viu apenas algumas vezes? Gente interessante? Não apenas isso. Também. E o que estou compartilhando exatamente neste momento por aqui?
Acho que todo mundo compartilha um pouco a própria solidão, aquela que nos situa e nos faz perceber quem realmente somos. Todo mundo compartilha um pouco de aprovação, ou a necessidade de parecer autêntico, ter uma identidade. A vida que eu acompanho pelo facebook é tão precária. Inclusive, a minha.
Não raras vezes me peguei vendo minhas próprias fotos e pensei: "Por que estou com estas fotos no meu facebook?" É como abrir as portas de casa para qualquer pessoa entrar. Mas você abre as portas de casa para amigos, não para conexões. Detalhe: a fachada apresentada sempre é muito agradável.
Conheço pessoas que são resistentes a esta forma de exposição. Vejo que a vida delas é bem mais normal e que elas não têm muito tempo para bobagens, porque estão ocupadas demais com a própria vida. Talvez, um dia, eu exclua o meu perfil. De uma certa forma, hoje me sinto mesmo aprisionada com esta forma de tecnologia. Já excluí mais de trezentas pessoas e vou continuar excluindo. Não é nada pessoal.
Acho que só não excluí o meu perfil ainda, porque é bom saber que algumas pessoas existem, como os amigos de infância que nunca encontro, mas posso ver de vez em quando por lá. Ou então manter um certo contato com pessoas que vivem em outro lugar, onde já estive bem presente, para tentar não me isolar do mundo. Para preservar alguns amigos distantes.
Excluí também as fotos das minhas crianças. Precisamos dar a elas proteção. Gosto do facebook. Minha crítica não é essa. Estou criticando os relacionamentos humanos, de um modo geral. E a forma como eles andam acontecendo nas redes sociais. Alguma coisa não vai bem. Mas acho que é algo para todos nós pensarmos. O que estamos buscando de fato. Como vai o nosso interior. Onde está o nosso rosto. E por que criamos nosso perfil.
• Escritora por vocação e advogada por formação. Paulista por natureza e carioca por estado de espírito. Engenheira de sonhos: alguém em eterna construção. Autora do livro “Traços de Personalidade”
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