A alegria da escrita
* Por Wislawa
Szimborska
Para onde
corre essa corça escrita pelo bosque escrito?
Vai beber da água escrita.
que lhe copia o focinho como papel-carbono?
Por que ergue a cabeça, será que ouve algo?
Apoiada sobre as quatro patas emprestadas da verdade
sob meus dedos apura o ouvido.
Silêncio – também essa palavra ressoa pelo papel
e afasta
os ramos que a palavra “bosque” originou.
Vai beber da água escrita.
que lhe copia o focinho como papel-carbono?
Por que ergue a cabeça, será que ouve algo?
Apoiada sobre as quatro patas emprestadas da verdade
sob meus dedos apura o ouvido.
Silêncio – também essa palavra ressoa pelo papel
e afasta
os ramos que a palavra “bosque” originou.
Na folha
branca se aprontam para o salto
as letras que podem se alojar mal
as frases acossantes,
perante as quais não haverá saída.
as letras que podem se alojar mal
as frases acossantes,
perante as quais não haverá saída.
Numa gota
de tinta há um bom estoque
de caçadores de olho semicerrado
prontos a correr pena abaixo,
rodear a corça, preparar o tiro.
de caçadores de olho semicerrado
prontos a correr pena abaixo,
rodear a corça, preparar o tiro.
Esquecem-se
de que isso não é a vida.
Outras leis, preto no branco aqui vigoram.
Um pestanejar vai durar quanto eu quiser,
e se deixar dividir em pequenas eternidades
cheias de balas suspensas no voo.
Outras leis, preto no branco aqui vigoram.
Um pestanejar vai durar quanto eu quiser,
e se deixar dividir em pequenas eternidades
cheias de balas suspensas no voo.
Para
sempre se eu assim dispuser nada aqui acontece
Sem meu querer nem uma folha cai
nem um caniço se curva sob o ponto final de um casco.
Sem meu querer nem uma folha cai
nem um caniço se curva sob o ponto final de um casco.
Existe
então um mundo assim
sobre o qual exerço um destino independente?
Um tempo que enlaço com correntes de signos?
Uma existência perene por meu comando?
sobre o qual exerço um destino independente?
Um tempo que enlaço com correntes de signos?
Uma existência perene por meu comando?
A alegria
da escrita.
O poder de preservar
A vingança da mão mortal.
O poder de preservar
A vingança da mão mortal.
*
Poetisa polonesa, ganhadora do Prêmio Nobel de Literatura de 1996
Isso é que domínio do pensamento e da palavra. Sob sua pena acontecem ou deixam da acontecer. Filosofou bonito.
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