A paciência, virtude de pessoas muito especiais, atributo dos santos, é, muitas vezes, confundida com preguiça. Ambas, porém, embora pareçam iguais, são rigorosamente distintas. Uma caracteriza-se por saber esperar – tanto para agir no tempo certo, quanto para colher os frutos da ação. Outra é a inação, a espera que os outros façam por nós o que deveria ser da nossa competência. É o não fazer. Para entendermos as vantagens de sermos pacientes, basta observar a natureza. Tudo nela tem seu tempo: o de arar, o de semear, o de impedir que as ervas daninhas sufoquem as sementes e o de colher.
E o suceder das estações? Nunca o verão vem antes do inverno. Ou a primavera antecede o outono. Há um ciclo ordenado na natureza. Tempo certo para tudo. No caso do plantio, qualquer tentativa de pular uma das etapas pode arruinar toda uma lavoura e pôr a perder o trabalho despendido. O mesmo ocorre na vida. O apressadinho corre o risco de ficar sem colheita.
O raciocínio é válido em todos os empreendimentos: na profissão, nos relacionamentos pessoas e mormente nas artes. Há exercício maior de paciência do que o de um escultor? Da pedra bruta (ou do metal), à obra acabada, há todo um processo de desbastar, burilar e acertar detalhes. Há que se trabalhar diligentemente, compenetradamente, pacientemente. Há que se confiar que no final desse esforço, da matéria disforme vai surgir uma escultura.
O escritor, igualmente, tem que ser paciente. E como! Da concepção original de um livro à sua impressão, há uma série de passos a serem dados, com rigor e meticulosidade. E o artista plástico, o músico, o ator etc. igualmente têm que ser muitíssimo pacientes. Não se pode colocar o carro à frente dos bois. Não funciona.
Ao contrário da preguiça, a paciência é irmã da constância, da persistência, do agir na hora certa. Um bebê, para nascer perfeito, precisa passar por uma gestação de nove meses. É inútil os pais se impacientarem e tentarem abreviar o processo. Conheci pessoas extraordinárias nesse aspecto. Uma foi minha professora primária, dona Esther Freeman.
Tratava-se de mestra abnegada, disposta a repetir os conceitos que queria transmitir aos alunos dez, vinte, mil vezes se fosse necessário, sem se exasperar. Pelo menos, não demonstrava sinais de exasperação. Insistia o quanto fosse preciso para aclarar as lições, de forma a que sentisse que todos, mas todos mesmo, haviam entendido o que se propunha a ensinar. Para não prejudicar os meninos com percepção mais rápida, abria mão de partes da sua folga, para aulas de recuperação aos que estivessem em dificuldades. E jamais ouvi dona Esther dizer qualquer palavra mais áspera, que denotasse irritação ou impaciência, até mesmo para os preguiçosos, os malandros, os que claramente não manifestavam nenhuma vontade de aprender.
Maravilhosa mestra que, além de sedimentar em minha mente conceitos básicos, que me permitiram fácil aprendizado na seqüência dos meus estudos, me ensinou o valor da perseverança e a importância da paciência. Hoje, amadurecido, penso, agradecido, na professorinha primária que me ajudou a ser homem. Valorizo sua abnegação, sabedoria e, sobretudo, amor.
Lembro-me dela ao ler a citação de Jean-Jacques Rousseau, que ela sempre nos transmitia, embora com outras palavras, mais acessíveis para nossas mentes infantis: "A paciência é amarga, mas seus frutos são doces". É essa virtude que impede que desanimemos, quando fazemos tudo certo em determinada atividade e os resultados tardam a aparecer.
Tive amigos que eram exemplos de paciência. Perseguiam objetivos como leões, com uma garra invejável. Faziam o que tinham de fazer, por mais enfadonhas e árduas que fossem as tarefas, com o espírito de Jó. Não reclamavam, não desanimavam, não se entregavam à inação. Esgotada a ação, esperavam o quanto fosse necessário. Em alguns casos, a espera limitava-se a alguns dias. Em outros, chegava a anos. Mas mantinham-se tranqüilos, cientes de que tinham feito o quer era preciso fazer. Não conheço um só deles que tenha deixado de alcançar seu objetivo.
No outro extremo, convivi com pessoas brilhantes, mas sem nenhum espírito de luta. Indivíduos cujos prognósticos de sucesso na vida eram unânimes. Mas esperavam que esse êxito viesse através de magia ou caísse do céu. Ou que a colheita ocorresse no dia seguinte ao da semeadura. Hoje, encontro-os em estado melancólico: envelhecidos, amargurados, alguns até viciados em álcool. Os primeiros, eram pacientes. Os segundos, preguiçosos. Paul Verlaine tem um poema elucidativo a respeito, que diz em determinado trecho:
"Paciência, paciência,
paciência no céu azul,
cada tomo de silêncio
é a chance de um fruto maduro!".
E não é?!
Boa leitura.
O Editor.
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Sempre ouvi dizer que a paciência era a mãe de todas as virtudes.
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