terça-feira, 11 de outubro de 2011



Outros frangos

* Por Liêdo Maranhão

Arnaldo Beleza, Rosinha e Aurino, eram frangos com um pouco mais de status, diferentes dos frangos pé-de-chinelo: modestos cozinheiros, copeiros e garçons.
Arnaldo Beleza, um frango muito feio: quarentão, cabelos grisalhos, a cara ensebada, suando muito; a pele cheia de marcas de espinhas, parecia areia mijada. Sacristão da Igreja dos Martírios (criminosamente demolida para construção da Avenida Dantas Barreto). Arnaldo morava na Rua Frei henrique, quase ao lado da igreja. Uma ruazinha que mais parece um beco...
Homem religioso, de confraria, acompanhava as procissões na Semana Santa cantando ladainha.
Ao mesmo tempo carnavalesco, simpatizante de Vassourinha, o clube de frevo mais popular do Recife! Quando a gente perguntava por Vassourinha, respondia com desbunde:
Esse ano vai sair um amorzinho de clube!
Falava-se que Arnaldo Beleza tinha emprestado a cabeleira de São Bom Jesus dos Passos para o portas-bandeira de Vassourinha desfilar no carnaval. Terminada a festa, o santo com alguns confetes na cabeça, deu bronca.
A melhor de Arnaldo Beleza foi Esbozete enrabando ele na torre da Igreja. Preocupado com o avançar das horas, perguntou a Esbozete:
- Que horas são?
- 12 horas, responde.
- Tira que eu vou bater o sino.
Naquele tempo, os sinos das igrejas quase não se calavam, anunciando festas, mortes e dando as horas.
Rosinha, muito boneca, a voz em falsete, andando com trejeitos, funcionário público da Prefeitura do Recife. Na pichação, diziam que ele trabalhava no cemitério para não ver rola dura!
Magro, elegante, cheirando a Atkinson. Um dândi! Debochado, quando via a gente pelas esquinas, aproximava-se do grupo e apertando a barriga dizia:
- Ai!... Que dor no útero!
- Que frescura é essa Rosinha?
- É para arretar Liêdo!
Aurino, frango sério, muito querido pelas famílias do bairro. Religiosos, prestativo, enfeitava a igreja para casamento sem cobrar nada. Ótimo pianista, era o animador oficial das danças de casa de família.
Tímido, muito contido, discreto nas abordagens, tinha medo de cair na boca da meninada. E a gente para comer Aurino era a maior mão de obra...

• Escritor, escultor, cineasta e fotógrafo

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