

Os frangos
* Por Liêdo Maranhão
Pretos e pobres na sua maioria. Egressos dos bares, restaurantes e barracas de comida, do Pátio do Terço, Pátio de São Pedro e do Mercado de São José. Zito, antigo gerente da Padaria Santa Catarina, Bairro Novo, Olinda, hoje com uma lanchonete no Beco do Serigado, nos contou que foi lhe pedir emprego. E, perguntou de gozação ao pobre homem:
- Você é cozinheiro mesmo? Porque todo cozinheiro quando não é frango tem uma ferida na perna.
Assumido, respondeu levantando as pernas da calça para Zito:
- Ferida na perna eu não tenho, não. Mas frango eu sou.
Frangos que gostavam da vadiagem, vivendo biscates, andando atrás dos meninos para chupar e dar a bunda; no aparelho de segunda classe do Cinema Ideal (o Loré), no Passo da Pátria; nos vagões de trem abandonados no pátio da estação para reparos. A antiga Estação das Cinco Pontas (hoje um viaduto com o mesmo nome) era o local preferido: mais tranquila, a "gare" ampla, quase deserta, pouco movimento de trem e uma gostosa brisa vinda do mar! Feliz do homem que come outro.
Os frangos eram marginalizados, apanhando da polícia, se andassem pela rua desbundando servindo de mangação e xingamento.
- Bota água no fogo, pra pelar o frango!
Lolita, muito tempo depois foi o primeiro frango a afrontar a burguesia do Recife. Viado, bicha, foram coisas trazidas do Sul pelo Pasquim, jornaleco que fez a cabeça de muitos brasileiros. Parabéns ao Pasquim.
Nos anos 40, em plena Guerra Mundial, Tenente Couceiro, famoso comissário do Pina (contumaz caceteiro), interrogando um franguinho que não sabia da fama lhe perguntou:
- Você é de onde?
- Sou de Caruaru, caruarível.
- Que frescura é essa?
- Caruaru tem rima.
- Vou lhe dar uma dúzia de bolos: seis com rima e seis sem rima.
Os frangos do bairro de São José tinham apelidos, alguns engraçados: Gaguinho, Pé de Pato,Carinhoso, Pedro Pavonete, Maria e Zezé me Afranganha.
Fizemos uma molecagem imperdoável com Carinhoso. Franguinho tímido, romântico, andando sempre só pelos cantos e paciente com a meninada. Na Rua do Alecrim havia uma casa velha abandonada, sem porta, sem janela; o telhado prestes a desabar, o mato invadindo tudo; cheia de urtiga e merda espalhada por todo canto! No quintal havia um pé de azeitona muito carregado. Ficavam dois ou três meninos na fila esperando sua vez. Carinhoso de quatro pés, arreganhado e, sem perceber a gente colocava uma azeitona na beira do cu de Carinhoso e enfiava com a rola. Sacanagem!
• Escritor, escultor, cineasta e fotógrafo
* Por Liêdo Maranhão
Pretos e pobres na sua maioria. Egressos dos bares, restaurantes e barracas de comida, do Pátio do Terço, Pátio de São Pedro e do Mercado de São José. Zito, antigo gerente da Padaria Santa Catarina, Bairro Novo, Olinda, hoje com uma lanchonete no Beco do Serigado, nos contou que foi lhe pedir emprego. E, perguntou de gozação ao pobre homem:
- Você é cozinheiro mesmo? Porque todo cozinheiro quando não é frango tem uma ferida na perna.
Assumido, respondeu levantando as pernas da calça para Zito:
- Ferida na perna eu não tenho, não. Mas frango eu sou.
Frangos que gostavam da vadiagem, vivendo biscates, andando atrás dos meninos para chupar e dar a bunda; no aparelho de segunda classe do Cinema Ideal (o Loré), no Passo da Pátria; nos vagões de trem abandonados no pátio da estação para reparos. A antiga Estação das Cinco Pontas (hoje um viaduto com o mesmo nome) era o local preferido: mais tranquila, a "gare" ampla, quase deserta, pouco movimento de trem e uma gostosa brisa vinda do mar! Feliz do homem que come outro.
Os frangos eram marginalizados, apanhando da polícia, se andassem pela rua desbundando servindo de mangação e xingamento.
- Bota água no fogo, pra pelar o frango!
Lolita, muito tempo depois foi o primeiro frango a afrontar a burguesia do Recife. Viado, bicha, foram coisas trazidas do Sul pelo Pasquim, jornaleco que fez a cabeça de muitos brasileiros. Parabéns ao Pasquim.
Nos anos 40, em plena Guerra Mundial, Tenente Couceiro, famoso comissário do Pina (contumaz caceteiro), interrogando um franguinho que não sabia da fama lhe perguntou:
- Você é de onde?
- Sou de Caruaru, caruarível.
- Que frescura é essa?
- Caruaru tem rima.
- Vou lhe dar uma dúzia de bolos: seis com rima e seis sem rima.
Os frangos do bairro de São José tinham apelidos, alguns engraçados: Gaguinho, Pé de Pato,Carinhoso, Pedro Pavonete, Maria e Zezé me Afranganha.
Fizemos uma molecagem imperdoável com Carinhoso. Franguinho tímido, romântico, andando sempre só pelos cantos e paciente com a meninada. Na Rua do Alecrim havia uma casa velha abandonada, sem porta, sem janela; o telhado prestes a desabar, o mato invadindo tudo; cheia de urtiga e merda espalhada por todo canto! No quintal havia um pé de azeitona muito carregado. Ficavam dois ou três meninos na fila esperando sua vez. Carinhoso de quatro pés, arreganhado e, sem perceber a gente colocava uma azeitona na beira do cu de Carinhoso e enfiava com a rola. Sacanagem!
• Escritor, escultor, cineasta e fotógrafo
E bota sacanagem nisso. Texto gostoso de ler
ResponderExcluirmeio parecido com afago.