
Um poema de Manoel de Barros
* Por Luiz Carlos Monteiro
Manoel de Barros ((1916) é de Cuiabá, Mato Grosso. Tem mais de 20 livros publicados. Um dos mais recentes, “Livro das ignorãças”, traz o poema final intitulado “Auto-retrato falado”. Afasta-se dos efeitos inusitados e presentes, quase sempre, na poesia de Barros: dos versos desconcertantes, do encobrimento de um provável sentido, do diálogo surrealista com a terra, as plantas, os rios e pássaros. Neste poema, descobre-se um pouco do homem Manoel de Barros:
Venho de um Cuiabá garimpo e de ruelas entortadas.
Meu pai teve uma venda de bananas no Beco da Marinha, onde nasci.
Me criei no Pantanal de Corumbá, entre bichos do chão, pessoas humildes, árvores e rios.
Aprecio viver em lugares decadentes por gosto de estar entre pedras e lagartos.
Fazer o desprezível ser prezado é coisa que me apraz.
Já publiquei 10 livros de poesia; ao publicá-los me sinto como que desonrado e fujo para o Pantanal onde sou abençoado a garças.
Me procurei a vida inteira e não me achei – pelo que fui salvo
Descobri que todos os caminhos levam à ignorância.
Não fui para a sarjeta porque herdei uma fazenda de gado. Os bois me recriam.
Agora eu sou tão ocaso!
Estou na categoria de sofrer do moral, porque só faço coisas inúteis.
No meu morrer tem uma dor de árvore.
* Poeta, crítico literário e ensaísta, blog www.omundocircundande.blogspot.com
* Por Luiz Carlos Monteiro
Manoel de Barros ((1916) é de Cuiabá, Mato Grosso. Tem mais de 20 livros publicados. Um dos mais recentes, “Livro das ignorãças”, traz o poema final intitulado “Auto-retrato falado”. Afasta-se dos efeitos inusitados e presentes, quase sempre, na poesia de Barros: dos versos desconcertantes, do encobrimento de um provável sentido, do diálogo surrealista com a terra, as plantas, os rios e pássaros. Neste poema, descobre-se um pouco do homem Manoel de Barros:
Venho de um Cuiabá garimpo e de ruelas entortadas.
Meu pai teve uma venda de bananas no Beco da Marinha, onde nasci.
Me criei no Pantanal de Corumbá, entre bichos do chão, pessoas humildes, árvores e rios.
Aprecio viver em lugares decadentes por gosto de estar entre pedras e lagartos.
Fazer o desprezível ser prezado é coisa que me apraz.
Já publiquei 10 livros de poesia; ao publicá-los me sinto como que desonrado e fujo para o Pantanal onde sou abençoado a garças.
Me procurei a vida inteira e não me achei – pelo que fui salvo
Descobri que todos os caminhos levam à ignorância.
Não fui para a sarjeta porque herdei uma fazenda de gado. Os bois me recriam.
Agora eu sou tão ocaso!
Estou na categoria de sofrer do moral, porque só faço coisas inúteis.
No meu morrer tem uma dor de árvore.
* Poeta, crítico literário e ensaísta, blog www.omundocircundande.blogspot.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário