domingo, 12 de setembro de 2010




Poemas para todas as mulheres



* Por Vinicius de Moraes

No teu branco seio eu choro.
Minhas lágrimas descem pelo teu ventre
E se embebedam do perfume do teu sexo.
Mulher, que máquina és, que só me tens desesperado
Confuso, criança para te conter!
Oh, não feches os teus braços sobre a minha tristeza não!
Ah, não abandones a tua boca à minha inocência, não!
Homem sou belo
Macho sou forte, poeta sou altíssimo
E só a pureza me ama e ela é em mim uma cidade e tem mil e uma portas.
Ai! teus cabelos recendem à flor da murta
Melhor seria morrer ou ver-te morta
E nunca, nunca poder te tocar!
Mas, fauno, sinto o vento do mar roçar-me os braços
Anjo, sinto o calor do vento nas espumas
Passarinho, sinto o ninho nos teus pêlos...
Correi, correi, ó lágrimas saudosas
Afogai-me, tirai-me deste tempo
Levai-me para o campo das estrelas
Entregai-me depressa à lua cheia
Dai-me o poder vagaroso do soneto, dai-me a iluminação das odes, dai-me o [cântico dos cânticos
Que eu não posso mais, ai!
Que esta mulher me devora!
Que eu quero fugir, quero a minha mãezinha quero o colo de Nossa Senhora!

Nota: Poema extraído do livro "Vinicius de Moraes — Poesia completa e Prosa", Editora Nova Aguillar — Rio de Janeiro, 1998, pág. 262.

• Poeta, diplomata, jornalista, dramaturgo e compositor.

Um comentário:

  1. Aproveitando o ensejo, "abc VINICIUS DE MORAES", livro que me caiu nas mãos quando estive na "Toca do Vinicius", Ipanema-Rio. Autografado pelo autor Carlos Alberto Afonso, segundo Manuel Bandeira, Vinicius sabia"contagiar de lirismo as misérias da carne". Prefaciando a obra, Sérgio Cabral adianta: "Na certa, o velho Bandeira queria diferenciá-lo de Midas, o que transformava em ouro tudo o que tocava. Vinicius contagiava lirismo."
    Muito bom, para o que se apresente, Carlos Alberto Afonso, é carioca da Tijuca. Professor de Literatura, acompanha a MPB desde os passos de estudante...
    Obrigado, editor.
    Abração do,
    José Calvino
    RecifeOlinda

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