sexta-feira, 10 de setembro de 2010




O último pôr do sol

* Por Silvana Alves

Os últimos momentos foram de prazer e gozo. Algo de ruim talvez pudesse acontecer, eles sentiam. Mas, a intensidade dos momentos estava tão forte que era melhor pensar somente na beleza e leveza da vida.
Foram assim a últimas semanas do casal Ariella e Júnior. Por mais que ele soubesse que ia partir, fez com que ela se sentisse a mulher mais amada, mais desejada da face da terra e não desperdiçou oportunidades.
Os dois se amavam como nunca tinham se amado. Riam de bobeiras, sonhavam com um futuro promissor e admiravam a cada dia de sol e chuva.
Ariella, muito desconfiada de tudo não conseguia entender de onde emanava toda aquela emoção, que foi a cada dia tomando os dias do casal. O medo fez com que ela não se entregasse totalmente e Júnior sempre dizia: -“Só quero fazê-la a mulher mais feliz...e saiba que mesmo longe, sempre vou olhar por você, sempre vou protegê-la”.
Quando ouvia isso, o coração de Ariella disparava e sempre brigava com ele. Pois ele afirmava com muita convicção que sua partida estava chegando.
E foi numa tarde do mês de setembro, quando a árvore que ficava em frente à casa do casal apaixonado dava os primeiros sinais da primavera, com o desabrochar das flores, e um convite, que seria o último, que Ariella teve certeza do amor entre eles. “Amor, hoje você não vai à aula. Vamos sair para comer minha salada predileta e o seu peixe predileto”.
Ela que não podia “matar” mais aula disse um sim pouco animador. Afinal, era final de bimestre e era uma sexta-feira. Muitas faltas naquelas aulas podiam lhe render uma DP. Ao descer as escadas o último olhar de moleque (apesar dele ser um homem maduro). Apaixonado olhou para ela e disse.“Pego-a às 20h. Amo você”.
Ela cruzou os braços e concordou pouco contente que sim. Esse foi o último olhar de amor entre ele e ela. Três horas depois, Ariella o recebe em casa, e, enquanto conversavam, prestigiando o último pôr do sol, ele caiu sobre os braços de Ariella. Seu último suspiro foi ao entrar na ambulância, olhar para ela e, com o ar dizer: “Sempre estarei com você”. Júnior foi vítima de infarto fulminante. Ariella vítima da perda de seu grande amor.

* Jornalista formada pela FATEA (Faculdade Integrada Teresa D´Ávila). Duas palavras falam por mim: vida e poesia.

3 comentários:

  1. Jamais saberei dizer para quem dói mais...
    Se é para quem fica ou aquele que parte.
    Lindo texto.
    Abraços

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  2. Isso existe de fato. Não é ficcção, embora no caso citado possa ser. Quanto mais jovem o homem em seu primeiro ataque cardíaco, maior a chance de ele ser fatal. Traumático, terrível, inesquecível, mas mesmo assim oportunidade de terem tido o dia corrente bom e um final juntos.

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  3. Núbia digo que a dor mairo é de quem fica...

    Mara... você falou tudo! ..o dia corrente bom e um final juntos. ..
    era como ele sempre pedia pra ser...

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