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Mamãe
* Por Edmundo Pacheco
Mamãe queimou-se como a uma tocha.
Ao princípio, tivemos pena. Tão nova, coitada. Ainda afeita ao povoar. Sequer passara dos 250.
- Poucos pêlos haviam lhe caído – comentou AAK, minha irmã mais nova.
- As bocas menores ainda não se tinham fechado de todo – observou IOK, meu mais velho. Assenti. Mas havia-se queimado. Como todos, de resto.
Aquela havia sido uma manhã glamurosa, disseram quem a viu: o céu vermelho fogo como sempre. Contrastando com a luz azulada do alvorecer. As luas, ainda cinza-ocre, no horizonte. Mamãe emergira disposta. Sugando a deliciosa amônia fresca da manhã, como sempre fizera. Como todos. Degustara seu desjejum, como tantos.
Correu ao longo do descampado, molhando-se na relva, esfiapando seus pêlos negros brilhantes... Mamãe era nosso orgulho. Corri com ela, quantas vezes...IOK idem. AAR, fêmea com menos de 120, preferia sobre-sentar-se ao cume do povoado, próxima aos imergedouros, a observar-nos... Hoje não fomos. Continuamos submersos e em preguiça. Mamãe pôs-se à vida térrea, só.
Por certo, teria igualmente sugado o desjejum e corrido o descampado a atiçar os pêlos. Parara lá no alto, pelas montanhas, o olho opaco, ovalado e negro, como o de poucas IZ-fêmea, teria se estreitado no horizonte, com o peito empinado ao sabor do vento, observando a grandiosidade de KOK. Reverenciara-o, como todos.
Por certo, teria passado seus últimos momentos a observar outros IZ a correr e a eriçarem-se pelo descampado...
- Grande KOK!
Mamãe olhara pela última vez o azul translúcido do sol e sentira o calor gelado do chão de KOK. Vira, por certo, ARAK elevar-se do emergedouro por sobre o branco do mar e ganhar o céu vermelho. Era mais um dia de luta, e ARAK precisava semear mundos, como todos.
Algum dia, esperamos semear também. Mamãe o teria visto. Não pôde nos confirmar. Quando emergimos, fazia-se tarde. Mamãe havia se distanciado dos IZ, alertando-os aos gritos de suas bocas. De lá, olhou-nos, como a ordenar: continuem! E, olhando-nos, inflamou-se, assim como todos... Pobre mamãe...
*Jornalista, editor-chefe da TV Guairaca (afiliada Globo) Guarapuava, PR
* Por Edmundo Pacheco
Mamãe queimou-se como a uma tocha.
Ao princípio, tivemos pena. Tão nova, coitada. Ainda afeita ao povoar. Sequer passara dos 250.
- Poucos pêlos haviam lhe caído – comentou AAK, minha irmã mais nova.
- As bocas menores ainda não se tinham fechado de todo – observou IOK, meu mais velho. Assenti. Mas havia-se queimado. Como todos, de resto.
Aquela havia sido uma manhã glamurosa, disseram quem a viu: o céu vermelho fogo como sempre. Contrastando com a luz azulada do alvorecer. As luas, ainda cinza-ocre, no horizonte. Mamãe emergira disposta. Sugando a deliciosa amônia fresca da manhã, como sempre fizera. Como todos. Degustara seu desjejum, como tantos.
Correu ao longo do descampado, molhando-se na relva, esfiapando seus pêlos negros brilhantes... Mamãe era nosso orgulho. Corri com ela, quantas vezes...IOK idem. AAR, fêmea com menos de 120, preferia sobre-sentar-se ao cume do povoado, próxima aos imergedouros, a observar-nos... Hoje não fomos. Continuamos submersos e em preguiça. Mamãe pôs-se à vida térrea, só.
Por certo, teria igualmente sugado o desjejum e corrido o descampado a atiçar os pêlos. Parara lá no alto, pelas montanhas, o olho opaco, ovalado e negro, como o de poucas IZ-fêmea, teria se estreitado no horizonte, com o peito empinado ao sabor do vento, observando a grandiosidade de KOK. Reverenciara-o, como todos.
Por certo, teria passado seus últimos momentos a observar outros IZ a correr e a eriçarem-se pelo descampado...
- Grande KOK!
Mamãe olhara pela última vez o azul translúcido do sol e sentira o calor gelado do chão de KOK. Vira, por certo, ARAK elevar-se do emergedouro por sobre o branco do mar e ganhar o céu vermelho. Era mais um dia de luta, e ARAK precisava semear mundos, como todos.
Algum dia, esperamos semear também. Mamãe o teria visto. Não pôde nos confirmar. Quando emergimos, fazia-se tarde. Mamãe havia se distanciado dos IZ, alertando-os aos gritos de suas bocas. De lá, olhou-nos, como a ordenar: continuem! E, olhando-nos, inflamou-se, assim como todos... Pobre mamãe...
*Jornalista, editor-chefe da TV Guairaca (afiliada Globo) Guarapuava, PR
Imaginei um nascedouro de estrelas e mundos. A mãe seria uma Deusa?
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